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O fim do Kraftwerk?

Jefferson Chase (rr)9 de janeiro de 2009

A saída de Florian Schneider do Kraftwerk é o golpe final na criatividade da banda que foi a maior contribuição alemã à música pop moderna, avalia o jornalista Jefferson Chase.

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Kraftwerk: também melodias memoráveis e tocantesFoto: picture-alliance / dpa

Há muitas razões para não dar bola para a saída de Florian Schneider do Kraftwerk, confirmada esta semana pela gravadora EMI. O último álbum propriamente dito do grupo foi lançado em 1986 (Electric Café) – e o último disco digno de nota, em 1981 (Computer World). Desde então, a banda está às voltas com remixes e jingles, e o próprio Schneider se negava a participar de turnês.

De fato, alguém poderia se perguntar o que importa a ausência de um ser humano numa banda cujos membros posaram como robôs, e que usou bonecos e fez playback em seus shows.

Mas a verdade é que, no fim das contas, a decisão de Schneider de oficialmente se "desligar" provavelmente significa muita coisa. O Kraftwerk é, de longe, a maior contribuição da Alemanha para a música popular moderna.

Bem alemão; tecnologia e formas clássicas

Isso porque, nas palavras do ex-percussionista Wolfgang Flür, seus membros fundadores conseguiram capturar o que acreditavam ser o som de seu país, ao invés de criar versões alemãs da música pop anglo-americana.

Para tanto, sua estratégia foi combinar a fascinação alemã pela tecnologia e sua capacidade de utilizá-la com formas reminiscentes dos quartetos de cordas clássicos – tanto Florian Schneider quanto Ralf Hütter, seus membros fundadores, possuem formação musical erudita.

Kraftwerk Man Machine
Man MachineFoto: EMI Music Germany

Em 1970, a Alemanha Ocidental era um país ao mesmo tempo marcado pelas angústias da Segunda Guerra Mundial e estimulado pelas possibilidades de uma sociedade na qual grande parte do passado fora destruída.

A música do Kraftwerk capturou essa combinação incomum de sentimentos em diversos contextos. Seu álbum de estreia de 1973, Autobahn, celebrava os prazeres da mobilidade ao mesmo tempo em que sutilmente remontava à origens obscuras das autoestradas de Hitler.

Lançado em 1981, Computer World, que é possivelmente seu apogeu criativo, sonoramente dava as boas-vindas aos avanços tecnológicos que logo revolucionariam o cotidiano de muita gente, ao mesmo tempo em que lamentava as inevitáveis perdas de privacidade que a era digital traria consigo.

Desaparecendo na história

Quem está apenas superficialmente familiarizado com o grupo pensa nele primeiramente como pioneiro da música eletrônica, especificamente do synth-pop e do tecno. E não leva em conta o grande número de melodias memoráveis e por vezes impressionantemente tocantes compostas por ele.

Como, por exemplo, The Model. Quando foi lançado em 1978, o original do Kraftwerk soava como uma canção satírica de batida dançante sobre o culto à beleza. Mas também continha um tema central de nove notas, cuja tristeza profunda só se tornou aparente após a versão do Quarteto Balanescu, de 1992.

Ou mesmo Computer Love, ao mesmo tempo uma homenagem e uma melancólica reação contrária ao amor eletrônico, cuja melodia era tão grandiosa que nem mesmo o Coldplay pôde arruiná-la ao se apropriar dela em sua canção Talk, de 2005.

Já era muito improvável que o Kraftwerk jamais voltasse a atingir tais níveis, e a partida de Florian Schneider é o prego final no caixão criativo da banda. Neste ano, Hütter continuará a turnê sob o nome de Kraftwerk, abrindo os shows do Radiohead, uma das bilhões de bandas que não soariam como soam hoje se o Kraftwerk não tivesse conectado um sintetizador Moog décadas atrás.

Há algo de encorajador quando pessoas descobrem pela primeira vez o som deste grupo inigualável. Mas há também algo de triste no fato de o Kraftwerk – assim como a ex-Alemanha Ocidental dos anos 70, onde a banda surgiu – serem agora realmente história.