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O FSM como plataforma para formação de redes

Entrevista feita por Johannes Beck / lk29 de janeiro de 2005

A Deutsche Welle conversou em Porto Alegre com Philipp Hersel, da seção alemã da Attac. Leia um resumo da entrevista.

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Participantes da ONG Attac, que critica a globalizaçãoFoto: dpa

Deutsche Welle: Reservas nos hotéis esgotadas há meses, um programa que sai em cima da hora, tudo relativamente caótico... Por que alguém vem da Alemanha para participar do Fórum Social Mundial?

Philipp Hersel:

Certamente também para se deixar surpreender. É preciso estar preparado para o caos criativo que de fato reina em alguns setores, senão se sai daqui decepcionado. Afinal, o FSM não se realiza pela primeira vez, e acho que é perfeitamente possível avaliar com antecedência as dificuldades, diante da enorme multidão que comparece e dos mais de dois mil eventos registrados.

Existem, creio, duas maneiras de se aproximar do Fórum: para os que comparecem pela primeira vez, acho especialmente importante viver a atmosfera, com mais de 100 mil pessoas, e se assegurar de que não estão sozinhos com sua posição contra a falta de alternativa da globalização neoliberal. Ao lado destes, há os que acompanham o Fórum há mais tempo e comparecem munidos de um certo esboço estratégico, utilizando o evento que se repete já pela quinta vez cada vez mais para a formação de redes, o desenvolvimento de estratégias, para a identificação de interesses comuns. Isto, é claro, só funciona se houver um preparo de longo prazo.

Nós da Attac, por exemplo, começamos a preparar já em agosto–setembro as propostas sobre as quais queríamos trocar idéias com pessoas de outras partes do mundo. Trata-se no caso em especial da questão do endividamento. No segundo semestre, começamos na Alemanha uma campanha para o desendividamento da Argentina – um exemplo de catástrofe causada pela política neoliberal – e agora queremos deliberar aqui no Fórum com grupos, organizações e movimentos sociais que trabalham com a questão da dívida, para ver em que pontos queremos formular posições conjuntas. Claro que não existe a obrigatoriedade de um consenso; existem muitas questões em que temos pontos de vista divergentes. Mas já o fato de trocar opiniões, também para entender por que certos grupos dos países endividados pensam de outra forma, por exemplo, é algo de um significado central. O processo é demorado, mas muito importante.

Não é difícil chegar às pessoas certas, diante de um número tão grande participantes?

É aí que está a diferença em relação àqueles que vêm ao Fórum sem se preparar antes. Na verdade, os preparativos para o evento já fazem parte de um processo de formação de redes. Nós já estamos há quatro meses em contato com as mais diferentes organizações no movimento global de desendividamento e conseguimos um grupo de 17 organizações e, em parte, redes continentais para os preparativos deste evento. Isto também dificulta o trabalho, em função do amplo espectro político aí representado. Mas este trabalho preliminar é de central importância para a formação de redes, e isto aumentou muito de uns anos para cá. Para quem acompanha o Fórum há mais tempo, é evidente que houve um avanço qualitativo neste sentido.

Até que ponto podem partir deste Fórum impulsos para a Alemanha, onde se realizará, pela primeira vez, um Fórum Social em julho?

Espero que muitos. Espero principalmente que as experiências feitas aqui levem a uma participação não apenas de organizações já estabelecidas – de uma certa forma, a Attac já faz parte delas –, mas também de grupos de pessoas afetadas. No Fórum Social de julho em Erfurt, a questão social vai precisar estar no centro das atenções, daí a importância de não falarmos sobre s problemas – na qualidade de rede de organizações bem informações – mas sim de envolvermos os atingidos nos preparativos e no planejamento. Isto é um desafio; não será fácil...