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Equador

27 de abril de 2009

Rafael Correa é reeleito presidente do Equador, como já apontavam pesquisas anteriores ao pleito. Claudia Detsch, da Fundação Friedrich Ebert, analisa em entrevista à Deutsche Welle o significado das eleições no país.

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Correa comemora reeleiçãoFoto: AP

De acordo com as primeiras estimativas, o atual presidente equatoriano, Rafael Correa, deve ter obtido 54% dos votos nas eleições ocorridas no país: uma maioria absoluta que lhe garante a reeleição já no primeiro turno. O ex-presidente Lucio Gutiérrez ficou com 31% dos votos.

O fato de Gutiérrez ter tido uma votação tão alta – depois de ter sido destituído pelo Congresso após uma revolta popular no ano de 2005 – e de o terceiro candidato, o banqueiro magnata Álvaro Noboa, ter obtido apenas 8% dos votos foi uma surpresa numa eleição que os observadores internacionais da OEA e da UE chamam de "bem organizada".

Claudia Detsch, que trabalha na Fundação Friedrich Ebert em Quito, aponta em entrevista à Deutsche Welle que o alto número de votos recebidos por Rafael Correa e seu partido, a Aliança País, significam um apoio à sua administração como presidente.

Deutsche Welle: A grande surpresa da eleição foi o resultado obtido pelo ex-presidente Lucio Gutiérrez, que havia sido destituído do cargo em 2005. Isso significa "apenas" que a população do país esquece rápido?

Claudia Detsch: Por um lado, sim; por outro, esse resultado reflete a pouca confiança que o eleitorado tinha nos outros candidatos de oposição. Isso também aconteceu porque o próprio presidente Correa encarava Gutiérrez como seu concorrente. O alto percentual obtido por Gutiérrez é que foi uma grande surpresa.

O fato de as circunstâncias através das quais o ex-general Gutiérrez deixou seu cargo não serem tão importantes para o eleitorado equatoriano também se deve em parte à crescente insatisfação com a administração e com a forma de governo do presidente Correa nos últimos tempos.

Fica claro, sem dúvida, que nenhum dos outros candidatos representava uma alternativa verdadeira a Correa. O baixo percentual de Álvaro Noboa se deve, na minha opinião, à pouca seriedade desse candidato durante a campanha eleitoral.

Como a tradicional divisão do país entre as regiões costeira e andina se reflete nesta grande vitória do presidente Correa?

Fato é que o atual governante conseguiu muito mais que presidentes anteriores, em se tratando de superar essa dicotomia entre as regiões. Com certeza, é inegável que ela continuará existindo, sobretudo levando em consideração que Jaime Nebot, futuro opositor de Correa, saiu ganhando em Guaiaquil.

Com uma nova Constituição, quais são as perspectivas para a consolidação das instituições democráticas no país nos próximos quatro anos?

A crise econômica mundial desempenhará um papel decisivo no futuro próximo. De imediato, a confirmação dada a Correa foi impressionante. Caso a crise possa ser driblada, existem boas chances de que ele possa levar adiante seu projeto de governo e o desenvolvimento das instituições democráticas.

Sem dúvida, é preciso esperar. Se há vozes temerosas de que o estilo do presidente se torne mais autoritário, há outras afirmando que, em função do grande apoio obtido nas urnas, sua plataforma de governo seguirá em prol de uma causa democrática.

Quão claro é o projeto de governo de Rafael Correa? Em que medida ele faz parte do chamado novo eixo da esquerda na América Latina?

Retoricamente, o presidente Correa situa sua política claramente nesse eixo. Sem dúvida, representantes importantes da sociedade civil – que vêm da ala da esquerda – qualificam de neoliberais muitas de suas medidas.

Há de se acentuar que, depois de dois anos de mandato, seu projeto de governo não está muito definido. O que é inegável, por um lado, são as medidas governamentais na luta contra a pobreza; por outro, o tom nacionalista. Esse último aspecto é um elemento comum entre ele e outros governos da nova esquerda na América Latina.

Os movimentos indígenas retiraram seu apoio ao presidente Correa...

É verdade. Isso se deve basicamente à abertura do setor da mineração a investidores estrangeiros com a meta de gerar recursos para financiar grandes projetos sociais. Por isso, tanto os movimentos indígenas quanto os ambientalistas estão decepcionados. Há de se lembrar, com certeza, que a Confederação de Nacionalidades Indígenas não conseguiu preencher seus quadros neste ano, a ponto de levar as pessoas a protestar nas ruas.

As pesquisas de boca de urna levam a crer que o presidente Correa terá uma maioria apertada no Parlamento. Isso significa que o país todo apoia seu presidente reeleito?

Não vejo dessa forma. Os 54% com os quais ele seria reeleito e essa estreita maioria no Parlamento até agora o confirmariam amplamente no cargo e respaldariam seu projeto de governo. Com certeza, a votação obtida pelo ex-presidente Gutiérrez representa uma crescente desconfiança que existe no país em relação a esse projeto.

Os resultados podem ser lidos como uma falta de vontade de experimentar, mas também como falta de alternativa a Correa, pois, na verdade, não dava para esperar coisas melhores de nenhum dos outros candidatos. O Equador, na minha opinião, está em compasso de espera. Apesar desses resultados, reina incerteza quanto ao projeto de governo do presidente.

Autora: Mirra Banchón

Revisão: Simone Lopes