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O dilema dos EUA na Síria

25 de janeiro de 2018

Operação militar de Erdogan contra a milícia curda YPG no norte da Síria expõe o tênue equilíbrio entre alianças dos EUA com esses dois rivais, assim como a força da Rússia na região.

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Combatentes curdos das YPG em Kobanê
No norte da Síria, as YPG são o principal grupo apoiado pelos americanos na luta contra o "Estado Islâmico"Foto: Getty images/A. Sik

A quase completa derrota do grupo jihadista "Estado Islâmico" (EI) no Iraque e na Síria está alterando o tabuleiro estratégico na região e criando situações conflituosas que, já previsíveis, permaneciam latentes apenas por causa do perigo representado pelo EI e pelo interesse maior em derrotá-lo.

Uma dessas situações se origina no tênue equilíbrio entre as alianças simultâneas dos EUA com dois rivais: a milícia curda Unidades de Proteção Popular (YPG) e a Turquia, esta no âmbito da Otan. No norte da Síria, as YPG são o principal grupo apoiado pelos americanos na luta contra o EI. Ao mesmo tempo são classificadas pela Turquia de terroristas e de ameaça à integridade nacional.

Esse tênue equilíbrio começou a ser posto à prova no sábado passado (20/01), quando a Turquia iniciou uma operação militar em Afrin, um enclave curdo no noroeste da Síria, para expulsar as YPG de lá. A ofensiva começou depois de os Estados Unidos terem anunciado que iriam treinar um exército para patrulhar a fronteira da Síria, com as YPG como elemento central.

Assim, tudo indica que muito em breve os Estados Unidos estarão diante de um dilema: manter o apoio às YPG, e assim arriscar um conflito com a Turquia, ou retirar esse apoio, passando a serem vistos como traidores pelos curdos, que combateram do lado dos EUA na Síria.

Outro ponto claro é o tamanho da influência que a Rússia angariou na Síria – ocupando o vácuo criado pela ausência dos Estados Unidos. Analistas dão como certo que o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, teve que buscar o aval de Moscou para iniciar sua operação no noroeste da Síria. A Rússia, afinal, controla o espaço aéreo sobre Afrin – na verdade, sobre toda a região a oeste do rio Eufrates.

A evolução das prioridades de Erdogan mostra como ele teme a formação de um Estado curdo no norte da Síria. Quando a guerra civil síria começou, em 2011, a prioridade era derrubar o presidente Bashar al-Assad. Quando o "Estado Islâmico" ganhou terreno no país vizinho, o objetivo passou a ser combater o grupo extremista. Agora, a prioridade é evitar que os curdos ganhem autonomia ou mesmo um Estado – para isso, Erdogan já parece até mesmo disposto a tolerar Assad no poder.

O surgimento de um Estado ou região autônoma curda no norte da Síria é visto como uma ameaça existencial pelo governo turco. Porém, essa área já existe e tem até nome: Rojava, ou Curdistão Ocidental. Ela corresponde à área contígua à fronteira com a Turquia controlada pelas YPG, no norte da Síria. Seus pilares são três regiões administrativas, em torno das cidades de Afrin (extremo oeste), Kobanê (centro) e Qamishli (no extremo leste).

A região dominada pelas YPG se estende do extremo leste até o rio Eufrates, além de um enclave em torno de Afrin, no extremo oeste. O objetivo da Turquia é evitar que os curdos sírios conquistem mais território e consolidem seu domínio na região.

Os curdos são um grupo étnico espalhado por quatro países: Turquia, Irã, Iraque e Síria. A região por eles habitada, e que abrange áreas desses quatro países, é historicamente chamada de Curdistão. Unir as quatro partes numa nação é um anseio antigo de grupos nacionalistas curdos.

A coluna Zeitgeist oferece informações de fundo com o objetivo de contextualizar temas da atualidade, permitindo ao leitor uma compreensão mais aprofundada das notícias que ele recebe no dia a dia.

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