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O choque ambiental

(sv)21 de março de 2003

A última guerra do Golfo Pérsico foi responsável por um desastre ambiental sem precedentes na história. Hoje, doze anos mais tarde, os riscos do conflito no Iraque são incalculáveis para a população local, fauna e flora.

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Poços de petróleo incendiados na Guerra do Golfo de 1991Foto: AP

Poços de petróleo em chamas, nuvens de fumaça cobrindo o céu e uma massa aquosa saindo pelas torneiras. Imagens que lembram a pintura do holandês Hieronymus Bosch, com seus retratos do inferno. Os impactos ambientais provocados pela Guerra do Golfo de 1991 foram enormes, tendo deixado rastros que podem ser sentidos até hoje. No conflito de então, milhões de barris de petróleo foram incendiados diariamente pelas tropas iraquianas no Kuweit.

Um volume enorme de óleo bruto contaminou o Oceano Índico e infiltrou-se na areia da zona costeira do Kuweit. Até mesmo a dois mil quilômetros de distância, foram detectados rastros químicos na água. Especialistas de mais de dez países levaram cerca de dez meses para apagar o fogo, que liberou enormes quantidades de monóxido de carbono e dióxido de enxofre. Hoje, doze anos mais tarde, a notícia de que 30 poços já foram incendiados nesta quinta-feira (21), no sul do Iraque, deixa ambientalistas de todo o mundo perplexos.

Doenças respiratórias e infecções -

Uma epidemia de doenças respiratórias atingiu de imediato a população local, que se tornou também mais suscetível a riscos de defeitos congênitos e ao câncer. Diretamente, as 80 mil toneladas de explosivos das forças aliadas provocaram a morte de aproximadamente cem mil soldados iraquianos.

Os bombardeios aéreos mataram mais de 2500 civis, sendo que o número de mortes de civis registrado em 1991, após o término da guerra, chegou a atingir a marca de 110 mil pessoas (entre essas, 70 mil crianças com menos de 15 anos). Essa "mortalidade tardia", segundo divulga o Greenpeace, deveu-se em parte à precariedade da infra-estrutura sanitária, à falta de medicamentos e à destruição de estações de tratamento de água, o que acabou fazendo com que doenças infecciosas se alastrassem rapidamente.

Extermínio da fauna -

Não só a saúde da população local corre um enorme risco com a nova guerra, mas todo o equilíbrio ambiental. Em 1991, 25 mil aves morreram sufocadas e milhares foram atingidas pelas mazelas provocadas pelo contato com o petróleo. Cem mil pássaros migratórios demonstram até hoje dificuldades em voltar ao equilíbrio do ciclo reprodutivo. O contato com o petróleo destruiu o sensível ecossistema marítimo e da região costeira, deixando boa parte da área agrícola completamente imprestável por várias décadas.

Na guerra de 1991, a temperatura do ar caiu por um breve período de tempo até aproximadamente 10ºC e a temperatura da água ficou em torno de sete graus a menos. Em todo o Golfo Pérsico, as temperaturas no inverno subiram consideravelmente após o conflito: um indício claro dos efeitos que os bombardeios provocaram no meio ambiente.

Perigo radioativo -

Na guerra de 1991, as forças aliadas utilizaram muito mais munição do que o que havia sido usado nas duas Guerras Mundiais juntas. As tentativas de tornar as áreas desérticas da região mais verdes e habitáveis, empreendidas até então, foram completamente destruídas.

Além de todos os efeitos descritos, há de se lembrar que o bombardeio de instalações ou o uso de armas nucleares poderá, dessa vez, provocar uma contaminação radioativa, transformando esta guerra na maior catástrofe ambiental da história da humanidade. "Estamos horrorizados com a recusa dos EUA frente a uma cooperação global", afirmam especialistas do Greenpeace, em um alerta sobre eventuais conseqüências do conflito para o meio ambiente.