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O Brasil na imprensa alemã

24 de maio de 2017

Denúncia de executivo da JBS envolvendo presidente Michel Temer ganha grande destaque na imprensa alemã. Veículos especulam sobre o futuro do Brasil, e jornal classifica escândalo de "a última intriga do vampiro".

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Michel Temer
"A ironia na história: o lema 'combate à corrupção' foi o que levou Temer ao poder há um ano", escreve jornalFoto: Getty Images/AFP/A. Anholete

Die Zeit – A última intriga do vampiro, 21.05.2017

"Por cerca de dez minutos, diante das câmeras de TV no sábado passado, Michel Temer, de 78 anos, tentou negar o inegável. Não, ele não tem nada a ver com a série de escândalos de corrupção dos últimos meses e anos. Ele também não obstruiu nenhuma investigação anticorrupção. Ele, de maneira nenhuma, mandou enviar dinheiro para o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha [...].

No entanto, na semana passada, veio à tona um áudio de Temer, aparentemente gravado em segredo em março, que mostra que o caso foi um tanto diferente. O presidente conversa com um executivo da JBS [...], e o empresário fala a Temer sobre atividades ilegais. Ele diz, por exemplo, que suborna juízes e paga uma generosa quantia mensal para Cunha. O presidente não diz nada, finge que é tudo normal e ainda incentiva o bilionário.

[...] A ironia na história: o lema "combate à corrupção" foi o que levou Michel Temer ao poder há um ano [...] [Dilma Rousseff] tem que ter sabido de tudo, mas não há acusações contra ela envolvendo qualquer enriquecimento pessoal. [...] Assumiu o então vice de Rousseff, Michel Temer, um político pouco conhecido do povo, um especialista em acordos de bastidores, às vezes chamado de 'vampiro' por conta de sua postura severa e de inspiração gótica.

[...] Os investigadores em torno de Sérgio Moro, que é visto como um deus por muitos brasileiros, não têm uma solução para o país: é verdade que, se continuarem, metade de Brasília vai presa, mas uma reforma política não parece estar próxima."

 Der Spiegel – Operação Lava Jato cada vez mais suja, 23.05.2017

"Para alguém morto politicamente, o presidente brasileiro Michel Temer está surpreendentemente vivo. Ele convida a imprensa para pronunciamentos no palácio do governo, concede entrevistas e recebe ministros e parlamentares. Muitos jornalistas em Brasília dizem que Temer nunca esteve tão convincente como nestes dias em que luta pela sobrevivência política. O chefe de governo estaria blefando? Ou ele acredita numa chance real de evitar sua queda? [...] Não há respostas claras para essas perguntas, e isso, por si só, já é uma vitória para o presidente.

[...] Os acusados sabem que só há uma chance de terem a sentença reduzida se incriminarem políticos importantes. Com frequência, eles exageram na importância de seus depoimentos, e a imprensa entra no jogo. E eles contam com o apoio da população: a classe política é odiada, o poder Judiciário também está em descrédito.

[...] Eleições livres e diretas seriam a maneira mais razoável de sair da crise em curso. Mas para isso a Constituição teria que ser alterada. [...] Além disso, Temer teria de ser antes removido do cargo. É improvável que o Congresso leve a cabo um processo de impeachment um ano após o afastamento controverso de Dilma Rousseff. Temer sabe disso – e se dirige a seus oponentes: 'Derrubem-me, se é isso o que querem'."

Süddeutsche Zeitung – O barão da carne ataca, 22.05.2017

"Ele mesmo está agora muito longe. Mas, apesar dos mais de 6.800 quilômetros que separam Joesley Batista, em Nova York, de seu adversário Michel Temer, ele deve ter sentido o terremoto político que provocou em seu país. Lançada em 2014, a Operação Lava Jato expôs o maior escândalo de corrupção do país e tem atraído cada vez mais círculos da elite política e econômica. Nos últimos dias, o centro tem sido uma batalha entre dois machos-alfa: o presidente Temer e Batista, um dos empresários mais ricos do país.

[...] O chefe de Estado de 76 anos era tido até então como um dos poucos que não estava envolvido no escândalo de pagamentos de propinas na concessão de contratos a empresas – até que Batista entregou como evidência uma gravação entre ele e Temer. [...] O testemunho de Joesley Batista contra seu ex-aliado tem, aparentemente, razões morais: supostamente, ele deseja acabar com a corrupção no país e seguir em frente com um bom exemplo. No final, ele pode ter encaminhado um processo de impeachment contra Michel Temer – mas também acabar na cadeia."

Frankfurter Allgemeine Zeitung – Contrações brasileiras, 22.05.2017

"O grande caos que reina hoje no Brasil envolve tanto perigos como também grandes oportunidades para reformas reais na maior economia da América Latina. A corrupção desenfreada e o desenvolvimento econômico decepcionante há décadas são duas consequências do mesmo problema. A burocracia kafkiana do Brasil compõe um terreno fértil para a corrupção, sendo uma das principais debilidades estruturais de sua economia.

[...] Enquanto o frigorífico JBS, de [Joesley] Batista, foi capaz de financiar sua expansão internacional por meio de empréstimos subsidiados pelo governo, a maioria das empresas brasileiras sofre com as mais altas taxas de juros do mundo.

Uma reforma política também se faz necessária. A fragmentação do poder em três dúzias de partidos facilita a corrupção. A paralisação das reformas no Brasil é tão grande quanto o potencial econômico do país. O trem das reformas que chegou com Temer deverá agora avançar lentamente. Mas será decisório que ele permaneça no trilho e não descarrile."

EK/ots