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O Brasil na imprensa alemã (18/08)

18 de agosto de 2021

A alta adesão dos brasileiros à vacina, a derrota da PEC do voto impresso e as queimadas no Pantanal e na Floresta Amazônica são destaque nos jornais da Alemanha.

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Drag queen acena para passageiros de um carro indo para o drive-thru da vacinação
Drive-thru da vacina em SP: "Muitos países europeus invejam a alta disposição para vacinação existente no Brasil"Foto: Carla Carniel/REUTERS

Frankfurter Allgemeine: Brasileiros confiam em vacinas. Sequer Bolsonaro pode mudar isso (15/08)

Segundo uma pesquisa do instituto Datafolha, 94% dos brasileiros pretendem se vacinar. Muitos países da Europa só poderiam sonhar com uma disposição para se vacinar tão alta. Apenas com muito convencimento e pressão seria possível alcançar na Alemanha uma taxa de vacinação saatisfatória.

No calendário de vacinação brasileiro estão incluídas vacinas contra 28 doenças. Na Alemanha, são 16. Apenas no primeiro ano de vida, uma criança brasileira recebe nove vacinas, a primeira em geral logo após o nascimento. É notável também que esse calendário de vacinação seja cumprido pela maior parte das pessoas, mesmo nas mais remotas comunidades na Amazônia.

Infectologistas atribuem a alta disposição para se vacinar e a cobertura relativamente alta à experiência do passado. Há não muito tempo, doenças como febre amarela, poliomielite e até varíola eram comuns no Brasil, especialmente na camada populacional mais pobre.

(...)

Vacinas também chegam à população por meio de programas sociais. Um programa de combate à fome lançado há quase 20 anos obriga os beneficiários a enviarem seus filhos à escola e a vaciná-los. Contudo, não há uma obrigação legal de se vacinar no Brasil

Por isso, o Brasil teria ótimas perspectivas para uma campanha exemplar de vacinação contra o coronavírus. Mas o governo do presidente Jair Bolsonaro não aproveitou isso. Primeiro, Bolsonaro fez pouco caso do vírus e, depois, das recomendações dos especialistas para conter a pandemia. E, quando as primeiras vacinas estavam prestes a serem aprovadas, Bolsonaro revelou-se uma pessoa contra vacinas. "Não me vacinarei", disse ele em dezembro.

(...)

Em vez de comprar vacinas como outros governos, ele se envolveu em uma disputa política com o governador de São Paulo, que de forma autônoma fechou um acordo com o fabricante chinês Sinovac. Bolsonaro só entrou nesse movimento depois de grande pressão da população para ser vacinada.

(...)

O comportamento de Bolsonaro provocou muitos danos. (...) Mas, apesar de tudo, ele não teve sucesso em reduzir a confiança dos brasileiros na vacinação. (...) Milhões de doses são aplicadas todos os dias. Enquanto isso, a campanha vai começando a vacinar os adultos mais jovens em todas as partes do país. Mais de 70% dos adultos já foram vacinados com pelo menos uma dose, e 30% estão completamente vacinados.

Die Tageszeitung: Democracia venceu uma etapa (12/08)

O presidente do Brasil Jair Bolsonaro definitivamente não atravessa um momento fácil. Uma comissão parlamentar de inquérito está investigando o  gerenciamento amador do governo sobre a pandemia. A economia anda devagar. O descontentamento da população está em alta. E, na terça-feira, a Câmara dos Deputados rejeitou uma reforma eleitoral defendida pelo presidente.

Por semanas, Bolsonaro tem feito campanha contra o voto eletrônico, apesar de não haver indícios de fraude desde a sua adoção. Sem mostrar provas, o radical de direita alimenta dúvidas. Ele declarou diversas vezes que não reconheceria o resultado da eleição de 2022 e até disse: sem a reforma, as eleições poderiam se canceladas.

Bolsonaro imita Trump. Isso não é uma surpresa. O presidente boquirroto nunca escondeu seu desprezo pela democracia – e isso cai bem com seus apoiadores radicais. Eles veem a última votação como algo que confirma a sua paranoia de que está ocorrendo uma guerra total contra o governo. Há ameaça de mais radicalização. No dia da votação, uma parada militar ocorreu em Brasília, provavelmente por ordem de Bolsonaro.

O fato de tanques terem atravessado o distrito governamental foi interpretado por muitos como uma tentativa direta de intimidação. Estaria Bolsonaro planejando um golpe? As próximas eleições ocorrerão como planejado? O fato de o Brasil ter que discutir essas questões já está de acordo com o plano de Bolsonaro. A sensação de que ele pode dar um golpe a qualquer momento dá poder a ele. O medo na sociedade é como um combustível para o seu projeto autoritário de governo.

Bolsonaro sabe como ninguém como testar os limites de instituições democráticas: com ataques ao sistema de votação. Com ameaças de golpe. Com provocações constantes. O fracasso da reforma eleitoral foi a vitória de uma etapa pela democracia no Brasil. Mas apenas isso. Porque o próximo ataque já está a caminho.

Süddeutsche Zeitung: Onde há queimadas (14/08)

Especialmente no Brasil, milhares de hectares estão pegando fogo novamente – quase uma triste tradição. No ano passado, milhões de hectares do Pantanal foram consumidos pelas chamas, e neste ano a savana do Cerrado foi afetada com intensidade. E claro que há queimadas na região da Floresta Amazônica de novo.

Também há no Brasil uma preocupação crescente com as joias naturais do país. Em meio à crise econômica provocada pela covid-19, cada vez mais gente invade as florestas e pântanos, como garimpeiros, madeireiros e agricultores. E eles praticamente não precisam ter medo de punição. O governo brasileiro está do lado do agronegócio e do lobby das mineradoras.

Welt am Sonntag: Disputa entre Bolsonaro e Macron sobre clima (15/08)

O presidente brasileiro Jair Bolsonaro e seu homólogo francês, Emmanuel Macron, estão há anos em disputa sobre política climática. Bolsonaro continua a permitir o desmatamento de grandes áreas na Floresta Amazônica, considerada o pulmão verde do planeta e um importante meio para combater o aquecimento global. Macron não é o único a denunciar o desmate.

Mas Bolsonaro diz que há interesses egoístas da Europa por trás dessas críticas. "O Brasil é um grande ator internacional na agroindústria", afirma o presidente. Segundo ele, os agricultores franceses que ganham subsídios têm medo dessa competição. A França, conforme Bolsonaro, derrubou as suas próprias florestas nos últimos séculos e está usando as terras para a agricultura. Se Paris precisar de ajuda com o reflorestamento, o Brasil fornecerá sementes de árvores, zombou o brasileiro.

A indústria agrícola brasileira está tendo mesmo lucros recordes, mas está sob críticas crescentes devido à expansão de sua área ocupada. Até agora, nenhum esforço concreto foi feito para mudar algo esse modelo de negócios, que tem sido há décadas bem-sucedido mas também ecologicamente desastroso.