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O Brasil na imprensa alemã (09/08)

9 de agosto de 2017

As vítimas da violência no Rio de Janeiro, uma comparação entre Brasil e Venezuela, a força da "marca Neymar" e o "milagre da Chapecoense" são destaques em jornais alemães.

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Membro das Forças Armadas em operação no Rio de janeiro, em 5 de agosto de 2017
Membro das Forças Armadas em operação no Rio, em 5 de agostoFoto: Reuters/R. Moraes

Tiroteio no caminho da escola – Frankfurter Allgemeine Zeitung, 05.08.2017

Em seu luto e sua raiva, Tatiana Lopes não está sozinha. O corpo sem vida que ela teve que identificar no necrotério do Instituto Médico Legal no Rio pertencia a sua sobrinha de 10 anos, Vanessa Vitória dos Santos.

Vanessa não é um caso isolado. Há cerca de 1.500 escolas públicas no Rio, e quase 400 delas precisaram permanecer fechadas por ao menos um dia letivo ou por até uma semana neste ano devido a tiroteios nas redondezas. Até o fim de junho, 3.475 pessoas morreram, na região metropolitana do Rio, vítimas de violência. Isso representa um aumento de 15% em relação ao mesmo período do ano anterior. Foi o semestre mais sangrento desde 2009.

O presidente Michel Temer enviou agora 10 mil homens, das Forças Armadas e da Força Nacional de Segurança, para o Rio de Janeiro. Com a medida, "a ordem pública deve ser restaurada, o trabalho das autoridades, assegurado, e a segurança da população, garantida", disse o presidente.

A cidade e o estado do Rio de Janeiro estão falidos. As UPPs, antes celebradas como modelo, foram fortemente afetadas pelas radicais medidas de austeridade para sanar o orçamento. Os cortes foram feitos sobretudo em medidas de apoio indispensáveis para o sucesso duradouro da estratégia de pacificação das favelas. Não apenas alunas como Vanessa, de 10 anos, têm que pagar pela conta mortal, mas também os policiais, frequentemente mal remunerados e atualmente com salário atrasado: 91 foram mortos em serviço no Rio no primeiro semestre de 2017.

Democracia da América Latina em crise – Der Tagesspiegel, 05.08.2017

A ameaça de colapso na Venezuela move as pessoas para a Colômbia e o Brasil. Mas lá há outros grandes problemas.

Apesar de a Venezuela ser o exemplo mais extremo do enfraquecimento da democracia na América do Sul, o Brasil, o país mais populoso da região, também enfrenta uma profunda crise do Estado. Depois que tiveram início as investigações no escândalo de corrupção envolvendo a estatal de petróleo Petrobras, em 2014, os brasileiros tomaram conhecimento de que quase toda a elite política e econômica do país é corrupta.

A crise econômica fez com que a fome voltasse ao Brasil. Ela também despertou um antigo demônio: a violência. Os números do Rio de Janeiro dão uma ideia do horror. Enquanto isso, o presidente Michel Temer age como se tudo estivesse de vento em popa. Apenas 5% dos brasileiros confiam em Temer.

Assim como na Venezuela, no Brasil espera-se que a crise política termine apenas no fim de 2018, quando haverá eleições. Outro paralelo é que o declínio econômico foi desencadeado em ambos os países pela queda do preço do petróleo. É uma ironia do destino que os governos de esquerda na Venezuela e no Brasil (o Partido dos Trabalhadores governou até 2016) tenham tornado seus modelos de desenvolvimento dependentes da exportação de matérias-primas. Como se a história não tivesse demonstrado suficientes vezes que esse é um caminho sem saída.

A marca Neymar – Frankfurter Allgemeine Zeitung, 05.08.2017

Neymar da Silva Santos Júnior, um dos melhores jogadores da história gloriosa do futebol brasileiro, transferiu-se por 222 milhões de euros do Barcelona para o Paris Saint-Germain. Neymar é a grande promessa para os torcedores brasileiros no mais tardar desde que ele vestiu a camisa do Santos, o clube onde jogou Edson Arantes do Nascimento e no qual, como Pelé, marcou mais de mil gols.

Ele, que ao ser apresentado em Paris na sexta-feira disse nunca ter sido motivado por dinheiro, sempre foi uma promessa financeira para o seu clã. O processo penal contra pai e filho na Espanha ainda não está concluído, assim a marca Neymar deve gerar agora muito dinheiro para os proprietários catarianos do Paris Saint-Germain na França – e vai. A camisa vendida a 100 euros já é agora o último grito entre os fanáticos por futebol em Paris.

Leia mais: Opinião: Transferência de Neymar enterra o "jogo limpo" financeiro

Aos próprios olhos, Neymar não segue o dinheiro na sua trajetória pelo mundo do futebol, mas o caminho de Deus. Ele agradece regularmente a Cristo, também no Instagram: "A vida só tem sentido quando nosso maior ideal é servir a Deus." Para a seleção brasileira, Neymar volta ao foco no ano que vem, na Copa do Mundo da Rússia.

O milagre da Chapecoense – Süddeutsche Zeitung, 06.08.2017

Quando se fala de grandes comebacks, o fã de boxe pensa em Muhammad Ali, o conhecedor de música, dependendo do gosto, em Take That ou Guns N' Roses, e alguns cristãos, supostamente em Jesus Cristo. A partir de agora, pode-se pensar também no jogador de futebol brasileiro Alan Ruschel, de 27 anos.

Em 29 de novembro de 2016, Ruschel estava sentado no avião que se chocou contra uma montanha ao voar para a cidade colombiana de Medellín, a 230 quilômetros por hora. A bordo estava todo o time profissional do clube brasileiro da primeira divisão Chapecoense. Apenas três jogadores sobreviveram, entre eles o zagueiro Ruschel.

A inacreditável causa da queda explica o milagre da salvação de Ruschel. O avião não explodiu no momento da colisão porque não havia sequer uma gota de combustível no tanque.

Na noite desta segunda-feira, a nova equipe da Chapecoense enfrenta o Barcelona pelo tradicional Troféu Joan Gamper, no Camp Nou. Ruschel entrará em campo após o acidente pela primeira vez, 252 dias depois da queda. Em dezembro, quando ele retornou a si numa UTI, os médicos não lhe deram esperança de um retorno como esse. A cura quase fantasmagórica do jogador correu em paralelo ao renascimento de seu time.

Ruschel prefere não ser tratado como um sobrevivente, mas como um profissional como qualquer outro. "Por favor, nada de sentir pena!", ressalta, antes do jogo em Barcelona.

LPF/ots