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O alemão e a burocracia

Peter Zudeick (smc)17 de maio de 2016

A burocracia ajuda as pessoas, porém às vezes também acaba com seus nervos. Ela é um verdadeiro sistema no país. Peter Zudeick dedica sua coluna à burocracia na Alemanha.

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Foto: picture-alliance/dpa

Finalmente uma coisa que os alemães não hesitam em criar: a burocracia. Ela é tipicamente alemã. Não na forma odiosa da "tirania da administração" ou "ditadura dos funcionários públicos". Isso é bobagem. Burocracia quer dizer que as leis valem para todos. Perante a lei, somos todos iguais. E legiões de servidores do Estado garantem que a legislação seja cumprida. Disso, nós alemães somos muito orgulhosos.

Bem, o termo burocracia vem do francês e a coisa em si foi inventada pelos egípcios. Já 3 mil anos antes de Cristo, eles tinham uma burocracia altamente desenvolvida. Mas foram os alemães que a transformaram num sistema, o qual regula maravilhosamente todos os aspectos da vida, em benefício de todos.

Burocracia organiza a vida

Antes de tudo, a burocracia regulamenta a vida e obra dos burocratas. "A morte de um servidor público durante uma viagem de serviço constitui o fim da viagem de serviço." Essa clara explicação é encontrada no comentário sobre o regulamento federal para despesas de viagem.

Já a administração das Forças Armadas Alemãs constatou há várias décadas que "do ponto de vista do direito à assistência, a morte representa a maior forma de incapacidade trabalhista". Não venham dizer que a linguagem burocrática alemã é abstrata e incompreensível.

Geschäftsmann versinkt in Akten
Sobrevivendo na selva burocráticaFoto: Nomad_Soul - Fotolia.com

Também o dia a dia da população é definido e regulamentado pela mais perfeita burocracia. "Margarina, nos termos da presente determinação, é a margarina como prevê a legislação sobre margarina." Assim reza a legislação alimentar alemã.

Numa prescrição dos serviços de correio, encontra-se um dos melhores exemplos da arte na linguagem oficial alemã: "O saco de valores (Wertsack) é uma bolsa que, devido ao seu uso específico no transporte pelos correios, não é denominado bolsa de valores (Wertbeutel), mas sim, saco de valores, uma vez que seu conteúdo é composto por várias bolsas com valores, que não são embolsadas, mas ensacadas no saco de valores".

Gondolieri im Spreewald
Apesar da burocracia, há gondoleiros no bosque SpreewaldFoto: DW/J.Ospina-Valencia

Sem carteira de habilitação, nada de gondoleiro

A abençoada prática da burocracia não se limita naturalmente à linguagem. Os atos é que contam, ou melhor, os regulamentos que fazem nosso coração bater mais forte quando a gente ouve este tipo de coisa: o dono de um restaurante em Leipzig queria que seus hóspedes dessem um passeio de gôndola no rio que passa ao lado do seu estabelecimento, conduzidos por dois verdadeiros gondoleiros de Veneza. A defesa civil exigiu que os italianos apresentassem uma carteira de habilitação de gondoleiro. Chega a ser original.

Outro exemplo é a Beschattungsabgabe, a "taxa sobre sombra" paga na Baviera quando o toldo de uma loja ou restaurante avança o espaço aéreo da calçada. Ninguém pode viver sem isso.

Claro que de vez em quando há tentativas de acabar com a fantástica burocracia alemã. Esse ato maligno se chama "redução burocrática", que entretanto não chega a assustar seriamente os amantes da burocracia.

Em 1983, o então chanceler federal Helmut Kohl nomeou a primeira Comissão de Desburocratização, a qual alegremente produziu pilhas de documentos ao longo dos anos. Resultado fundamental: a criação de um escritório de desburocratização em Bonn, com dois e meio postos de trabalho, produzindo montanhas de folhetos.

A comissão fez escola e encontrou seguidores em todo o país. Os resultados foram basicamente os mesmos. O que nós saudamos com toda a veemência.