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Novos ataques ameaçam cessar-fogo anunciado por governo da Nigéria

Philipp Sandner / Mariana Santos19 de outubro de 2014

Poucas horas após anúncio de acordo com o grupo terrorista Boko Haram, ataques a vilarejos no norte do país deixaram mortos e levantam dúvidas sobre a possível libertação das 200 estudantes sequestradas em abril.

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Foto: AFP/Getty Images/P. Utomi Ekpei

Apesar de o governo da Nigéria ter anunciado, na última sexta-feira (17/10), um acordo de cessar-fogo com o grupo terrorista Boko Haram, novos ataques foram registrados no país neste fim de semana. Segundo a imprensa local, ataques em dois vilarejos no nordeste do país no sábado mataram ao menos 18 pessoas.

Até agora, porém, o Boko Haram não reconheceu os ataques, nem se pronunciou a respeito do acordo de cessar-fogo. Mas há fortes suspeitas de que integrantes do grupo terrorista tenham aberto fogo contra moradores em Maikadiri e Shaffa, no estado de Borno, nos últimos dois dias.

Além de ter anunciado a trégua, o governo em Abuja afirmou que os terroristas teriam concordado em libertar as 200 estudantes sequestradas em abril na pequena cidade de Chibok, nordeste da Nigéria, já nesta terça-feira.

Os ataques do fim de semana, porém, voltaram a levantar questionamentos sobre a veracidade do cessar-fogo anunciado pelo governo, frustrando a população e abalando as esperanças dos parentes das meninas, que continuam na expectativa de que elas sejam libertadas.

Cessar-fogo parecia certo

O cessar-fogo havia sido confirmado pelo porta-voz do governo nigeriano, Mike Omeri, na sexta-feira. Segundo ele, após negociações no país vizinho Chade, governo e rebeldes concordaram em baixar as armas. A trégua teria sido acertada pelos presidentes da Nigéria, Goodluck Jonathan, e do Chade, Idriss Déby, com o porta-voz dos extremistas Danlai Ahmadu. "O Boko Haram prometeu encerrar as mortes, e o governo prometeu fazer o mesmo", garantiu Omeri em entrevista à DW.

Segundo ele, este seria um "passo significativo rumo à paz" não apenas nos estados de Borno, Yobe e Adamawa, no nordeste nigeriano, que enfrentam conflitos armados, mas também em todo o país. "As meninas de Chibok vão voltar para suas casas, para seus pais e amigos", prometeu.

A trégua também havia sido confirmada à DW por Hassan Tukur, assessor próximo do presidente Goodluck Jonathan. Mas Tukur ressaltou que as condições do acordo ainda não haviam sido costuradas. "Estou cautelosamente otimista que desta vez teremos sucesso", disse.

Ao comentar especificamente sobre as meninas de Chibok, porém, ainda na sexta-feira, Tukur foi mais reticente. Ele reiterou apenas que a milícia mostrou-se disposta a libertá-las, mas os detalhes ainda precisariam ser acertados em uma próxima conversa. Também o porta-voz do Ministério da Defesa, Chris Olukolade, frisou que o destino das meninas ainda estava em negociação.

Desconfiança e ceticismo

Nigerias Terror geht weiter
Presidente nigeriano Goodluck Jonathan anuncia acordo durante campanha para reeleiçãoFoto: DW/K. Gänsler

No sábado, no entanto, fontes do governo falaram sobre uma possível libertação das 200 estudantes já na terça-feira. Mas ainda há muita desconfiança em relação ao anúncio. Joe Brock, sub-chefe do escritório da agência de notícias Reuters no sul da África, destacou em sua conta no Twitter que o cessar-fogo tem como objetivo uma troca de reféns e a libertação das meninas de Chibok – e não o desarmamento dos rebeldes.

Muitos nigerianos estão irritados com o fato de a suposta libertação ter sido anunciada justamente às vésperas das eleições presidenciais no país – e Goodluck Jonathan é candidato à reeleição. O atual presidente tem muitos adversários no nordeste do país, onde o terror imposto pelo Boko Haram é maior.

Parte da população teme o fracasso das negociações. "Espero que esse governo ruim conte a verdade e não nos decepcione", comentou Ousman Adamu Usman, do estado de Taraba, norte da Nigéria, no Facebook.

Nigerianos também postaram diversas críticas ao governo na página do jornal Premium Times, um dos primeiros na Nigéria a publicar a notícia do cessar-fogo e a levantar a hipótese da libertação das meninas. Um leitor criticou o fato de o presidente ter se negado a participar de negociações no passado. "Se Goodluck Jonathan tivesse feito isso antes o que ele está se dispondo a fazer agora, ele poderia ter poupado a vida de 11 mil pessoas."

Outro usuário questionou por que os financiadores do Boko Haram não foram até hoje presos, e alertou: "se esse acordo de paz fracassar, as coisas serão piores do que antes". O Boko Haram tem como objetivo estabelecer um Estado teocrático islâmico na Nigéria e impor a sharia no país.

Nigeria Boko Haram soll offenbar entführte Mädchen freilassen
Campanha na internet #BringBackOurGirls pede libertação das meninasFoto: Reuters/A. Sotunde

Muita expectativa

Para os familiares, no entanto, o anúncio do governo na sexta-feira, ainda que frágil, trouxera novamente esperança. "Se esse acordo de cessar-fogo for para valer, significa que estamos perto do fim da violência no norte da Nigéria", comentou Malam Ali na sexta-feira, por telefone, à DW. Suas duas filhas, que estavam quase terminando a escola, estão entre as raptadas pelos extremistas. Para Ali, que não mora mais em Chibok, o sequestro foi um grande golpe. "Eu vendi meu terreno para que elas continuassem podendo ir à escola", contou.

A possível libertação das meninas também despertou uma onda de reações nas redes sociais. "Esperamos que o cessar-fogo leve paz ao norte da Nigéria e que a violência e todo esse derramamento de sangue finalmente cheguem ao fim", postou Zainab Usman Mahuta, da cidade de Katsina, no Facebook.

O assunto também foi tema no Twitter. "Rezo para que esse cessar-fogo entre o governo e os terroristas do Boko Haram funcione. Essas meninas já sofreram por seis meses", tuitou Emeka Okoye, sob o hashtag #BringBackOurGirls (Tragam nossas meninas de volta). Com essa marca, ativistas nigerianos começaram uma campanha que rapidamente acabou ganhando adeptos entre celebridades internacionais – como a primeira-dama americana, Michelle Obama.