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Notícias graves

(sv)11 de outubro de 2002

A crise na imprensa alemã atinge a número um do país: a agência de notícias dpa anuncia que pretende enxugar sua linha de produção. Especula-se que o processo de reestruturação pode levar à perda de qualidade.

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A agência dpa é fundamental para os jornais alemãesFoto: AP

Especialistas da velha guarda advertem: a economia pode estar engolindo, mais uma vez, a qualidade jornalística. Depois de anunciadas as crises do mercado editorial e principalmente dos jornais alemãs, a mãe do clã dá sinais de que também não vai muito bem. A agência de notícias dpa (Deutsche Presseangentur) luta contra a maré para conseguir manter o trabalho que faz há 53 anos.

A chefia de redação da maior agência de notícias alemã anuncia: "controle de qualidade, enxugamento da linha de produção e descentralização" são as novas palavras de ordem. Os serviços de notícias clássicos não devem ser expandidos a partir de agora, uma vez que o balanço comercial no setor sofreu, apenas em 2001, uma redução de 2%.

Diversificação –

A direção da casa procurou, desde então, diversificar cada vez mais, com a criação de serviços online (dpa-infocom), o serviço de notícias econômicas (dpa-AFX), a dpa-WEB TV, entre outros. Com os novos segmentos, a agência conseguiu crescer em 2,2% no ano de 2002, registrando um volume de negócios em torno dos 123 bilhões de euros.

Há de se considerar que a dpa produz, hoje, muito mais "por cabeça". Se há 30 anos a fabricação diária de notícias podia ser resumida em 60 páginas, o volume atual produzido pela agência ultrapassa as 500. "Isso significa um trabalho infernal para os muitos jornalistas que ali trabalham", comenta o semanário Die Zeit.

Exatidão e rapidez –

Alguns dos funcionários antigos da dpa advertem que a agência pode estar caminhando em direção à uma perda gradual de qualidade. "Os princípios de honra sempre foram: exatidão antes de rapidez, rapidez antes da beleza". Com o previsto enxugamento de pessoal, indo ainda além da atual pressão de trabalho, acredita-se que as palavras de ordem de ontem podem vir a perder cada vez mais a validade.

Dos 485 redatores da agência, 435 trabalham dentro do país, além dos quase mil free lancers que prestam serviços. 20% do que é publicado pela dpa atinge interesses tão específicos, que acaba sendo impresso apenas uma única vez depois que sai dos computadores da casa.

Concorrência brutal –

Em nenhum outro país, a concorrência de mercado é tão apertada como na Alemanha. Concorrendo com a dpa, estão as grandes do jornalismo anglo-americano Reuters e Associated Press, a vizinha France Press e outras alemãs como a Deutsche Depeschendienst ddp, a agência de notícias econômicas vwd, além de uma série de agências especiais de menor porte.

Infotainment –

A hegemonia do jornalismo anglo-americano no mercado torna-se cada vez maior e, na luta pela sobrevivência dos atuais padrões, a direção da dpa tem apelado cada vez mais para o que críticos chamam de "infotainment", uma mistura de informação com entretenimento. Isso implica uma linha de redação que a velha guarda aponta como "desmoronamento dos bons costumes", o que significa dar atenção cada vez maior a temas leves e populares.

Se as mudanças de curso trarão realmente a perda de qualidade proclamada por alguns dos jornalistas da agência, só o tempo dirá. Os cortes na empresa, no entanto, são certos. Embora a presidência da dpa não cite números, consta que o quadro de funcionários deverá ser enxugado em breve. 15% dos contratos da agência terminam em 2003 e uma renovação dos mesmos – em tempos de crise – deverá custar à direção da casa uma boa dose de competência mercadológica.