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No exílio, Dalai Lama completa 80 anos

Matthias von Hein (mp)6 de julho de 2015

Líder tibetano é festejado em todo mundo, mas difamado pelo governo chinês e impedido de entrar no Tibete. Por causa do envolvimento de Pequim, futura escolha do sucessor tornou-se questão mais política do que religiosa.

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Foto: Reuters/K. Lamarque

O monge budista Tenzin Gyatso, o 14º e atual Dalai Lama, comemora seu aniversário em 6 de julho, mas alguém que já reencarnou 13 vezes – de acordo com a tradição tibetana – talvez não leve tão a sério a sua data de nascimento.

Assim, já no final de abril ele comemorou o aniversário na presença de amigos e com outro ganhador do Prêmio Nobel da Paz, o sul-africano Desmond Tutu, num internato para exilados tibetanos.

Depois, em 21 de junho, data do aniversário do Dalai Lama segundo o calendário lunar tibetano, foi celebrada uma cerimônia na sede do governo tibetano no exílio, no norte da Índia.

Uma semana depois, ele foi o convidado surpresa do festival de Glastonbury, em Pilton, na Inglaterra. Mais de 100 mil pessoas cantaram Feliz aniversário para o Dalai Lama antes de ele falar sobre amor, perdão e tolerância.

E, neste 6 de julho, finalmente, o líder espiritual dos tibetanos vai estar em Irvine, no estado norte-americano da Califórnia, participando de uma "cúpula global da compaixão", onde recebe novas homenagens.

Sem festas oficiais no Tibete

USA National Prayer Breakfast in Washington (Demonstranten)
Apoiadores do Dalai Lama em manifestação nos EUAFoto: Reuters/J. Ernst

O Dalai Lama está acostumado a viajar para diversos países, mas há um lugar onde ele não pode estar para festejar seu aniversário: a própria terra natal, o Tibete. Em Lhasa certamente não haverá eventos ou festas em homenagem ao Nobel da Paz. Lá são proibidas fotos e imagens deste que é frequentemente chamado de "o mais famoso refugiado do mundo".

Discretamente, porém, muitos tibetanos certamente vão acender incensos e orar pelo líder espiritual. O Dalai Lama está no exílio desde 1959, quando fugiu para a Índia depois da invasão do Tibete pelas forças da República Popular da China.

O governo chinês tenta demonizá-lo como um separatista por causa de seu engajamento em prol de mais autonomia para o Tibete. Ele é chamado de "lobo em pele de cordeiro". Suas declarações são imediatamente difamadas por Pequim.

Mesmo em 2011, quando ele transferiu o seu poder político a um primeiro-ministro eleito pela diáspora tibetana, foi atacado pelo governo chinês. "Trata-se de mais um truque para enganar a comunidade internacional", declarou Pequim. A relação entre o líder espiritual e o governo chinês não apresenta qualquer sinal de melhora desde então.

No final de 2014, o Dalai Lama afirmou, em entrevista à emissora britânica BBC, que não precisava haver um próximo Dalai Lama. Ele argumentou que é melhor acabar com a Instituição agora, que ela é popular, do que correr o risco de ter um sucessor ridicularizado publicamente.

"Não há garantias de que o meu sucessor não será uma pessoa estúpida e que possa cair em desgraça. Isso seria muito triste. Sendo assim, uma tradição de séculos deveria acabar num momento em que ainda é popular", defendeu.

Der Dalai Lama und Patti Smith beim Glastonbury 2015
A cantora Patti Smith e o Dalai Lama no Festival de Glastonbury, em 2015Foto: picture alliance/Photoshot

Disputa pelo sucessor

A escolha do novo Dalai Lama tornou-se uma questão de poder. Agora é justamente o governo ateísta em Pequim que apela com veemência pela reencarnação do líder espiritual tibetano. Em março, durante a mais recente sessão do Congresso Nacional do Povo, o parlamento pro forma do país, vários políticos atacaram duramente o Dalai Lama por suas declarações. "O poder de decisão sobre a reencarnação de Dalai Lama e sobre o fim ou continuidade de sua sucessão é do governo central da China", disse um alto representante do Partido Comunista Chinês, Zhu Weiqun, segundo o jornal The New York Times.

A questão da reencarnação não é somente religiosa, mas também política. Trata-se de ter o controle sobre as pessoas no Tibete. É verdade que a China tem o controle absoluto sobre a região desde a invasão, em 1951, e o governo tibetano no exílio não é reconhecido por nenhum país no mundo, mas nem mesmo meio século de domínio comunista conseguiu diminuir a devoção que muitos tibetanos nutrem pelo Dalai Lama e reduzir o desejo deles de tê-lo de volta.

Por muito tempo pareceu que o tempo estava do lado do governo em Pequim. Afinal, o Dalai Lama não é mais tão jovem, e sua morte pode não estar tão longe. Isso daria ao governo chinês a oportunidade, com a ajuda de monges aliados, de escolher e entronizar um Dalai Lama que fosse mais próximo do regime comunista. Com ele, Pequim poderia controlar o budismo tibetano e, assim, os próprios tibetanos. Só que o povo do Tibete não vai reconhecer um sucessor se isso for contra a vontade expressa do atual Dalai Lama.

Além disso, o Dalai Lama aparenta ter boa saúde e calculou que vai morrer em 15 ou 20 anos. Se a previsão for correta, ainda vão se passar muitos aniversários antes de se discutir se ele vai reencarnar mais uma vez.