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O presidente que não quer deixar o poder no Burundi

21 de julho de 2015

Ex-líder hutu deve vencer eleições em meio a boicote convocado pela oposição e aumento da tensão política no país, que provocou dezenas de mortes. Para críticos, terceiro mandato viola a Constituição.

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Burundi Präsident Pierre Nkurunziza
Foto: picture-alliance/dpa/C. Karaba

O presidente do Burundi, Pierre Nkurunziza, caminha para ganhar mais uma eleição nesta terça-feira (21/07), três meses após anunciar sua intenção de concorrer a um terceiro mandato. A decisão enfureceu a oposição e mergulhou o país numa onda de violência, que deixou cerca de 80 mortos e provocou a fuga de mais de 150 mil pessoas.

Nkurunziza, de 51 anos, governa o país desde 2005. Um ex-líder da etnia hutu que combateu durante a guerra civil do país, entre 1993 e 2005, Nkurunziza tomou o poder após o seu grupo armado formar um partido político, o Conselho Nacional para a Defesa da Democracia-Forças de Defesa da Democracia (CNDD-FDD). O conflito entre as etnias hutu e tutsi provocou 300 mil mortes.

Antes de se tornar um guerrilheiro, Nkurunziza trabalhou como professor de Educação Física e lecionou numa academia militar. Ele se define como um "cristão renascido" e afirma que sua administração finalmente trouxe paz para o tumultuado Burundi, um dos países mais pobres do mundo. O presidente tem cinco filhos, e teve o pai, também político, assassinado em 1972, durante o Genócio de Burundi – assassinato em massa de hutus pelo Exército dominado pelos tutsis.

Em 1993, após o assassinato do primeiro presidente hutu, Melchior Ndadaye, fato que desencadeou a guerra civil, Nkurunziza escapou por pouco de ser morto, e finalmente decidiu partir para a guerrilha, juntando-se ao grupo rebelde FDD, o braço armado do CNDD. Hoje, seu apoio vem, sobretudo, das áreas rurais do país, onde seu populismo encontra bastante apelo.

Terceiro mandato viola Constituição

Críticos afirmam que sua busca por um terceiro mandato é uma violação da Constituição do país, que só permite uma reeleição. Os apoiadores do presidente afirmam que o primeiro mandato de Nkurunziza não foi conquistado pelo voto direto, mas sim por uma votação no Parlamento local, o que o permite concorrer em mais uma eleição direta.

Parte da oposição convocou um boicote às eleições desta terça-feira, afirmando que o pleito não passa de uma farsa. Apesar disso, os nomes de todos os candidatos oposicionistas permanecem nas cédulas de votação. Em 29 de junho, a oposição boicotou as eleições parlamentares, o que garantiu uma vitória esmagadora do grupo do presidente.

Em 2010, diversos partidos da oposição também pediram um boicote, afirmando que Nkurunziza havia colocado em prática métodos fraudulentos para assegurar sua vitória.

Para os partidos de oposição do país, Nkurunziza tenta se estabelecer como ditador. Essa percepção ficou ainda mais forte após Nkurunziza anunciar sua intenção de concorrer a um terceiro mandato – uma ação que foi condenada por vários governos estrangeiros, entre eles os Estados Unidos e a África do Sul, que pediram que a data do pleito fosse postergada. O temor é de que a permanência de Nkurunziza acirre ainda mais os ânimos no país, aumentando um risco de guerra civil.

Na noite desta segunda-feira, um policial e dois civis morreram em trocas de tiros na capital, Bujumbura. Explosões foram registradas logo após a abertura das urnas. Cerca de 3,8 milhões de cidadãos do Burundi estão aptos a votar nesta terça-feira.

Em maio, Nkurunziza debelou uma tentativa de golpe de segmentos do Exército contra seu governo, que ficaram insatisfeitos com o anúncio de que o presidente seria candidato mais uma vez. Parte da oposição afirma que a repressão que se seguiu tornou impossível organizar eleições livres no Burundi. O pleito já foi postergado duas vezes. Ativistas de direitos humanos afirmam que ao menos 22 políticos da oposição foram assassinados nos últimos cinco anos.

jps/dpa/afp