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Netanyahu e Merkel minimizam diferenças sobre o Irã

Jefferson Chase jps
4 de junho de 2018

Chefes de governo israelense e alemã enfatizam pontos em comum. Na realidade, em relação ao acordo nuclear com Teerã, não poderiam estar mais distantes.

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Benjamin Netanyahu (esq. ao lado de Angela Merkel) realiza giro pela Europa para mobilizar governos contra Teerã
Benjamin Netanyahu (esq. ao lado de Angela Merkel) realiza giro pela Europa para mobilizar governos contra TeerãFoto: picture-alliance/dpa/M. Kappeller

O Irã esteve claramente no topo da agenda do encontro desta segunda-feira (04/06) entre o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e a chanceler federal alemã, Angela Merkel, em Berlim.

Seus países são aliados, mas se posicionam em lados diametralmente opostos da questão iraniana em particular. A Alemanha é favorável à continuação do acordo nuclear com o Irã, apesar do abandono dos Estados Unidos. Já Israel se opõe ao pacto, preocupado que ele possa incrementar a capacidade do país asiático de desenvolver armas nucleares.

Os israelenses também querem que a Alemanha deixe de fazer negócios com Teerã, o qual, alega Netanyahu, financiaria conflitos com os lucros obtidos após a suspensão das sanções deliberada no acordo.

A parada em Berlim faz parte de um giro do primeiro-ministro israelense pela Europa, com o fim de persuadir os governos nacionais a seguirem a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de romper o acordo.

Pontos de vista inconciliáveis

Ao responder às perguntas dos repórteres, Merkel disse que Alemanha e Israel compartilham o objetivo de impedir que o Irã desenvolva armas nucleares, mas discordam sobre os meios para atingir esse fim. Antes do acordo promovido pela ONU, o Irã estava perto de desenvolver tais armas, e que o pacto garantiu "mais transparência", afirmou a chefe de governo.

Já Netanyahu argumentou que o acordo dá ao Irã permissão para desenvolver quantidades "ilimitadas" de urânio enriquecido no futuro, em troca de não enriquecer urânio agora. Segundo ele, isso é inaceitável. No entanto ressalvou que "não há problema algum" nas conversas entre a Alemanha e o Irã.

Merkel admitiu que os governos alemão e israelense discordam sobre o assunto, mas insistiu haver consenso sobre a necessidade do fim do "preocupante" envolvimento iraniano na guerra civil da Síria. "Não há acordo em todas as questões, mas somos amigos, e há vontade de entender a posição do outro", disse Merkel. "A Alemanha condena com a maior severidade todo ataque a Israel."

Netanyahu elogiou ainda o compromisso da Alemanha com a segurança de Israel e com o combate ao antissemitismo. Mas também enfatizou que o "islamismo radical" era o maior perigo enfrentado pelo mundo hoje, e que o Irã continua determinado a destruir Israel.

Além disso, Teerã pretenderia iniciar uma "guerra religiosa" dentro do mundo islâmico. Seu objetivo seria formar milícias xiitas de até 80 mil membros – a partir dos cerca de 18 mil atuais, segundo estimativas israelenses – para uma "campanha religiosa" em territórios de maioria sunita.

Netanyahu alertou que isso pode criar uma nova leva de refugiados tentando escapar para a Europa. Esse tema é considerado o calcanhar de Aquiles de Merkel, que perdeu apoio popular e capital político, ao promover uma política de boas-vindas em 2015.

A questão palestina

Indagada por um jornalista israelense por que a Alemanha não reconheceu Jerusalém como a capital de Israel, a exemplo dos Estados Unidos, Merkel lembrou que seu país apoia uma solução de dois Estados para israelenses e palestinos, e que os tratados internacionais impedem o reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel.

Por sua vez, um jornalista alemão perguntou a Netanyahu quando Israel vai deixar de ocupar os territórios palestinos e a Faixa de Gaza. Ele disse que seu país está disposto a negociar um acordo de paz, mas a Faixa de Gaza é governada pelo Hamas e outros que pedem a destruição de Israel.

"Se você está interessado em paz, Israel não pode permitir que territórios palestinos adicionais sejam usados contra nós", disse o premiê. "A razão de não existir paz é que os palestinos se recusam a reconhecer o Estado judeu."

Quebra de protocolo

Ao final do encontro, Netanyahu foi questionado sobre um encontro previsto entre ele e o embaixador dos EUA na Alemanha, Richard Grenell, que provocou controvérsia no país europeu desde o domingo, ao conceder uma entrevista ao site ultradireitista americano Breitbart News. Nela, o diplomata afirmou que pretende usar sua posição para "fortalecer” grupos conservadores europeus. A declaração foi encarada no meio político alemão como uma interferência em assuntos estrangeiros.

O primeiro-ministro israelense tentou minimizar a reunião com Grenell – embora reunir-se com representantes de um terceiro país durante visita oficial constitua uma constrangedora violação do protocolo diplomático. "Vou encontrá-lo brevemente no aeroporto. Eu não enxergaria coisas em algo que simplesmente não existe", esquivou-se Netanyahu.

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