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Negócio, sim, apoio à guerra, não

(ms)23 de dezembro de 2002

Empresas alemãs se defendem da acusação de que teriam contribuído intencionalmente para o desenvolvimento de armas químicas, biológicas e atômicas no Iraque.

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Empresas alemãs são listadas como colaboradoras do governo de Saddam HusseinFoto: AP

A divulgação pela imprensa alemã de que o documento entregue pelo Iraque no dia 7 de dezembro ao Conselho de Segurança das Nações Unidas conteria uma lista com o nome de cerca de 80 firmas alemãs que teriam ajudado o país a desenvolver o programa de produção de armas de destruição em massa desde a década de 70 foi mais um agravante na delicada posição em que a Alemanha se encontra em relação à sua política internacional.

O dossiê, de acordo com o jornal Süddeutsche Zeitung, deixa claro que nenhum outro país realizou mais negócios com o Iraque nas últimas décadas do que a Alemanha. Dos 20 fornecedores identificados da fábrica de gases tóxicos Samarra, 17 eram alemães. As empresas alemãs também estariam dominando no apoio à construção de mísseis e foguetes. Cerca de 90% da técnica empregada neste setor teria o selo made in Germany.

Tais dados causam desconforto em solo alemão. As empresas envolvidas trataram de se defender publicamente das acusações de que estariam passando por cima do interesse internacional pela paz mundial em nome de bons negócios. Elas contestaram no periódico Frankfurter Allgemeine Zeitung a base para a elaboração da tal lista, cuja existência não foi sequer comprovada ainda.

Outros propósitos

A diretoria da Siemens, por exemplo, divulgou que não consegue compreender como o fornecimento de aparelhos para a eliminação de pedras nos rins (autorizado pelas Nações Unidas) pôde ser enquadrado como um meio de destruição em massa. "A não ser que eles achem que os aparelhos sejam capazes também de eliminar outras coisas."

Outro caso semelhante envolve a DaimlerChrysler. Até o embargo internacional de 1990, o departamento de veículos utilitários da empresa alemã fornecia caminhões e peças ao Iraque. Com a Guerra do Golfo, passou a exportar apenas peças de reposição para seus veículos como apoio ao programa Petróleo por Comida e Medicamentos, das Nações Unidas. Se os caminhões alemães realmente foram usados para o transporte de alimentos e remédios, isso é algo que foge da alçada da empresa, esclareceu um porta-voz da DaimlerChrysler, em Stuttgart.

Incentivo do governo Kohl

A fábrica de equipamentos de fundição Ferrostaal lembrou que no final da década de 80 o governo alemão ainda incentivava o empresariado a buscar parceiros de negócios no Iraque, fomentando novos investimentos e apoiando a participação de empresas alemãs em feiras e exposições. "Foi exatamente isso que fizemos até 1990."

A empresa Gildemeister, de Bielefeld, enfrentou um processo por ter fornecido material para a construção de um centro de treinamento no Iraque, em 1982. Acusada de compactuar com o programa de produção de armas de destruição em massa, a empresa acabou ganhando a batalha judicial por conseguir provar que seus préstimos foram usados para a edificação de complexos voltados para a pesquisa e o desenvolvimento.

Sem sentimento de culpa

As firmas de informática Hewlett Packward e Unisys não se consideram culpadas por terem negociado computadores e acessórios no Iraque, nos anos 80, especialmente porque o fornecimento foi feito com a autorização de importação exigida pelo governo americano. Desde a Guerra do Golfo, as duas empresas suspenderam o comércio com o Iraque. De que forma e com qual objetivo seus produtos estão sendo usados atualmente no país árabe é algo impossível de controlar.

"Seria a mesma coisa que culpar um fornecedor de bananas pelo fato de uma pessoa com más intenções jogar de propósito uma casca de banana na rua para que alguém escorregue e quebre o pescoço."