Negócios eróticos de cabeça erguida
2 de dezembro de 2002Faturamento em queda. Produção quase estagnada. Cortes de investimentos e empregos. Pessimismo. Crise. Apesar de muito usual entre o empresariado alemão há mais de um ano, este vocabulário não parece presente nas conversas dos executivos da Beate Uhse, a mais antiga e maior rede de artigos eróticos da Alemanha.
Nos primeiros nove meses de 2002, a cadeia fundada há mais de meio século aumentou suas vendas em 14%, para 182 milhões de euros. Seu lucro subiu 48%, antes de impostos e investimentos. "Acabamos de concluir o melhor trimestre de nossa história", afirma Otto Christian Lindemann, presidente da rede, que leva o nome de sua fundadora, falecida em 2001.
Um dos fatores de crescimento do grupo está num campo no qual várias outras empresas fracassaram: o comércio eletrônico. O e-commerce permite a venda de produtos a clientes que não querem se expor indo a uma das 271 lojas Beate Uhse espalhadas por 13 países europeus.
De olho nas mulheres
– Uma das mais recentes lojas fica em Sutton, na periferia de Londres. A unidade não lembra nem de longe as lojas da rede na Alemanha. Painéis coloridos usados para dar privacidade ao interior do estabelecimento deram lugar a vitrines de lingeries eróticas. No interior do estabelecimento, não há cabines para assistir vídeos de sexo explícito. Após a seção de excitantes roupas íntimas, vem a de brinquedos eróticos. Responsáveis por 40% do faturamento do grupo Beate Uhse, vídeos não fazem parte dos produtos vendidos ali.Concebido para ampliar entre as mulheres a clientela tradicionalmente masculina (90%), o novo modelo já foi testado e aprovado na Noruega. Nas quatro unidades abertas no país escandinavo, nove de cada dez clientes são do sexo feminino. A expectativa da rede alemã é de repetição do fenômeno com as inglesas.
Rumo ao mercado americano
– "O comércio de produtos eróticos na Inglaterra não está saturado. Vemos lá grande potencial", afirma o presidente Lindemann. A empresa espera que este seja apenas o primeiro passo para conquistar o mercado dos países de língua inglesa e fazer frente às grandes concorrentes Hustler e Playboy.Os planos do grupo são ambiciosos: estender aos Estados Unidos o serviço de encomendas por catálogo; abrir, nos próximos anos, mais 100 lojas dirigidas ao público feminino; instalar novos centros logísticos em Amsterdã; e ampliar as unidades de produção de artigos de borracha e latéx na Hungria.
Desde 1999 com ações em bolsa de valores, o grupo Beate Uhse reúne cinemas, serviço de encomendas por catálogo e lojas. Seus produtos variam de brinquedos eróticos e vídeos a lingerie e preservativos. Tudo o que tenha a ver com prazer e sexo.
História de uma pioneira
– Filha de uma das primeiras ginecologistas da Alemanha, Beate Uhse mostrou sua veia pioneira logo aos 17 anos. Em meio a um grupo de 60 jovens de um curso para tirar brevê de piloto comercial, era a única mulher. Durante a Segunda Guerra Mundial, teve de fugir da Prússia Oriental aos 25 anos, já mãe e viúva.Ao fim do conflito, quando os soldados alemães retornavam para casa, prevenção contra gravidez estava na ordem do dia. "A pílula ainda não existia e não havia camisinhas suficientes. Muitas mulheres me procuravam e perguntavam: Beate, o que devemos fazer?", contou ela em 1998 numa entrevista.
Uhse debruçou-se sobre livros em bibliotecas e lançou um livro sobre métodos anticoncepcionais, que em seu primeiro ano vendeu 35 mil exemplares. O sucesso transformou o futuro da autora, que em 1947 já vendia produtos por catálogo e em 1962 abriu a primeira sex shop da Alemanha, em Flensburg. Sua opção empresarial lhe rendeu logo cerca de 3 mil processos, dos quais só perdeu um.
Apesar de sua rede comercial, Beate Uhse nunca abandonou seu trabalho como consultora no ramo de sexo e amor. "Independente do aspecto sexual, é importante que ambos os parceiros tenha os mesmos interesses e desejos. Caso contrário, a sexualidade também morreu em algum momento", sacramentou a pioneira alemã.