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Nada de novo na nova União Européia

Margret Steffen/(rr)10 de agosto de 2004

Cem dias se passaram desde a ampliação da União Européia. No 1º de maio último, os novos membros juntaram-se à comunidade com muita esperança, euforia e, além de tudo, esforço. O que mudou desde então?

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Verheugen, Schröder e Miller, na cerimônia de ampliação da UEFoto: AP

Fogos de artifício iluminando o céu de Malta, o badalar dos sinos na Hungria, show de luzes no mar da Lituânia e valsa no Portão de Brandemburgo. Mas a pequena cidade de Zittau, na tríplice fronteira entre a Alemanha, a República Tcheca e a Polônia, continua bem longe da euforia de Bruxelas.

"Tudo passageiro como uma bolha de sabão, apenas um show", descreve Ralf Richter, ressentido, as festividades do 1º de maio. Richter é presidente da empresa Wiegel, que desenvolve proteções anticorrosivas. O chanceler alemão Gerhard Schröder havia voado especialmente para o local do evento, onde atravessou uma ponte para apertar as mãos dos presidentes vizinhos e, num gesto simbólico, dar a primeira enxadada para a construção de uma estrada interligando as localidades. A primeira e, até agora, a última.

Agora que o chanceler se foi e a imprensa desapareceu, "não avançamos um passo para a construção da estrada", lamenta Richter, que há dez anos luta para manter sua firma operando em positivo na região economicamente fraca. Agora, ele quer encontrar caminhos mais rápidos para clientes do outro lado da fronteira.

Nada de pombas fritas

"Nós tchecos temos um ditado que diz: as pombas não voam fritas para a boca", diz Hedvika Zimmermanova. "Não éramos tão inocentes, a ponto de acreditar que tudo seria melhor por causa da UE. Isso só acontece com muito esforço." Zimmermanova é vice-prefeita de Hrádek, cidade parceira de Zittau do outro lado da fronteira. "Logo após o 1º de maio, tudo aqui estava tão agitado, havia muito o que fazer", explica. "Mas, desde então, tudo está como sempre foi – e sabíamos que seria assim."

Os tchecos também esperam que as mudanças anunciadas sejam enfim levadas a cabo. Zimmermanova, por exemplo, atravessa diariamente a tríplice fronteira e há algo pelo qual é grata: "Eu não preciso mais de 45 minutos para chegar ao outro lado, dez minutos agora bastam".

A calmaria na fronteira

Polnischer Grenzpfahl an der Grenze zu Deutschland
Fronteira teuto-polonesa, pouco antes da ampliação européiaFoto: AP

Oficiais de fronteira, alemães e poloneses. Taciturnos, observam da mesma maneira detalhada os passaportes dos passageiros que passam de um lado a outro. Na segunda guarita, não há mais ninguém. "O controle de mão em mão foi uma grande melhoria", diz o prefeito de Zittau, Arnd Voigt. Segundo ele, várias outras peculiaridades foram simplificadas, sem que as pessoas tomassem consciência disso.

Nas fronteiras do Leste da Alemanha, a regra é aguardar. Especialistas em economia fizeram previsões tenebrosas, alarmaram quanto ao efeito-sanduíche, que espremeria o Leste alemão entre a Alemanha ocidental e os novos membros da União Européia. Porém, "nós vemos, que os temores antecipados eram exagerados", diz Barbara Lippert, do Instituto de Política Européia de Berlim. Com regras que controlam a permissão de trabalho e novos mercados consumidores, a Alemanha está muito bem, avalia Lippert.

De volta ao que era antes

Existe um motivo pelo qual a ampliação da UE não está presente no cotidiano das pessoas: "A ampliação foi planejada há muito tempo. Antes disso, muita coisa aconteceu no âmbito econômico. O 1º de maio foi apenas um ato de integração política", diz Lippert.

Especialistas acreditam que não são os antigos países-membros que englobarão os novos países-membros da UE, mas vice-versa. A questão fiscal é um exemplo disso: com impostos mais baixos e regras simplificadas, os novos países- membros da UE se tornam mais atraentes para empresas ocidentais. A República Tcheca, na verdade o país dos céticos quanto à União Européia, já é um dos destinos preferidos dos investidores.

"Mas não se pode esquecer que lá existem verdadeiros perdedores, como por exemplo os aposentados", lembra Lippert. Isso dificultaria o desenvolvimento de uma consciência coletiva européia. "A maioria dos países já estava desenganada. A ampliação européia não se deixa traduzir no cotidiano das pessoas."

Falta de interesse

Além do mais, Lippert nota nos velhos membros um certo desinteresse pelos novos vizinhos. "As pessoas não têm pontos de referência no novo território. Isso é uma desvantagem para os novos países, além do encarecimento dos produtos de consumo."

Na cidadezinha de Zittau, na fronteira entre os três vizinhos, os alemães aproveitam enquanto as regras não mudem e os novos vizinhos comecem a recuperar o tempo perdido: "Nunca tivemos tantos turistas como agora", diz o prefeito Voigt.