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"Não podemos admitir que CBF não seja exemplo de idoneidade", diz Romário

Mariana Santos9 de junho de 2013

Em entrevista à DW Brasil, "Baixinho"critica a organização da Copa, afirma que faltou planejamento e avalia que o único legado positivo será a qualificação dos trabalhadores.

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Foto: Alexandra Martins/Câmara dos Deputados

Desde que assumiu seu primeiro mandato como deputado federal, Romário tornou-se um dos mais ferrenhos críticos da organização da Copa do Mundo no Brasil e, principalmente, do presidente da CBF, José Maria Marin – acusado de envolvimento em esquemas de corrupção e também de colaboração com a ditadura militar, entre 1964 e 1985. Há poucos meses, Romário chegou a fazer um apelo em mídias sociais pela prisão de Marin, afirmando que a CBF estaria "nas mãos de uma quadrilha".

Em entrevista à DW Brasil, o "Baixinho" afirmou não entender como Marin ainda permanece no cargo, apesar das acusações e da falta de apoio do governo. Entre os nomes que poderiam substituir o cartola, segundo Romário, estariam os ex-craques Raí e Zico, o presidente do Botafogo, Mauricio Assumpção, e o empresário e ex-dirigente Andrés Sanches.

Conhecido pelas declarações polêmicas desde os tempos em que brilhava em campo, Romário agora tenta driblar as resistências no Congresso Nacional e instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito a fim de investigar contratos suspeitos mediados pela CBF. "O Brasil, que se prepara para receber o Mundial, estaria dando ao mundo um exemplo de austeridade", defende o artilheiro do tetra.

Questionado sobre a convocação do técnico Felipão para a Copa das Confederações, que começa no próximo dia 15, Romário preferiu não comentar. Disse apenas que o Brasil não é o favorito ao título, mesmo jogando em casa. E acha que a Alemanha tem grandes chances de levar a taça para casa.

Eleito deputado federal em 2010 pelo PSB do Rio de Janeiro, Romário, aos 47 anos, demonstra estar bem confortável dentro do terno e da gravata, em Brasília. Tanto que pensa em se candidatar à reeleição em 2014.

Deutsche Welle:O senhor se tornou um dos principais críticos da realização da Copa no Brasil, chegando a dizer que será um grande "mico". O país não tem condições de realizar um evento deste porte?

Romário: Condição tem, mas não se preparou adequadamente. Prova disso são os inúmeros atrasos na entrega das arenas para os jogos, talvez algumas nem fiquem prontas e outras serão entregues com muita coisa para finalizar. Outro mico é o cancelamento de obras de mobilidade urbana, único legado real que ficaria para a população. Sediar uma Copa é uma oportunidade rara – a última no Brasil ocorreu há mais de 60 anos – de estimular a economia, alavancar o turismo, melhorar a formação das pessoas, expandir e aperfeiçoar a infraestrutura. Já perdemos inúmeras dessas oportunidades.

Deutschland Brasilien Fußball Länderspiel in Stuttgart 1998
Romário nos tempos em que brilhava em campoFoto: AP

Um dos patrocinadores da Copa do Mundo (Coca-Cola) tem como slogan "A Copa de todo mundo". Todos os brasileiros poderão realmente participar do Mundial?

Claro que não. Sabemos que o torcedor fanático, aquele que realmente ama o futebol, não terá condições de pagar os altos preços dos ingressos da Copa. As classes C, D e E ficaram excluídas.

O senhor já declarou que as obras da Copa serão "o maior roubo da história do país". O que deveria ter sido feito para evitar isso? 

Planejamento e cumprimento de prazos. A partir do momento em que as obras atrasam, você precisa de uma série de medidas para compensar os atrasos, como mais turnos de trabalho, troca de materiais, etc. Além disso, as obras podem entrar no regime de obras emergenciais, quando são feitas sem licitação. Aí o céu é o limite. Quem ganha com isso são os políticos corruptos e as empreiteiras, construtoras.

Qual será o legado desta Copa para o Brasil?

Diante deste cenário, sem obras de mobilidade e superfaturamento nos estádios, só nos resta o capital humano. O legado seria a qualificação dos nossos trabalhadores. Acho que os empresários têm este importante papel no momento. Mais do que isso, eles devem isso ao Brasil, já que serão os principais beneficiados com geração de receita, especialmente o setor de serviços.

Desde o final do ano passado, o senhor defende a instalação da CPI da CBF no Congresso. Por que até hoje ela não foi instalada? O que ela precisa esclarecer?

Contratos suspeitos que indicam enriquecimento ilícito. Não podemos admitir que uma entidade que representa o Brasil mundo afora não seja exemplo de idoneidade. Não entendo qual o receio, há argumentos de sobra para a imediata instalação da CPI. O momento é oportuníssimo. O Brasil, que se prepara para receber o Mundial de futebol, estaria dando ao mundo um exemplo de austeridade na fiscalização das instituições que prejudicam a imagem do nosso futebol. Nosso Parlamento seria exaltado e valorizado no conceito internacional por estar zelando por suas instituições de maior representatividade popular.

Uma de suas bandeiras é a moralização da CBF, começando pela saída do atual presidente José Maria Marin. Por que, apesar das denúncias e até mesmo da falta de apoio do governo, ele ainda permanece no cargo? Quem poderia substituí-lo?

Também gostaria de saber por que o Marin continua no cargo. Não apoio nenhum, mas acredito que o Raí, Mauricio Assumpção (Botafogo), Zico e Andrés Sanches sejam melhores do que o presidente atual.

Em entrevista à DW Brasil, o ministro Aldo Rebelo defendeu que o governo deveria ter um papel regulador maior no futebol, já que a seleção representa o país. O senhor concorda? Por quê?

Concordo. Porque o futebol brasileiro é um patrimônio do Brasil.

ehemaliger Fussballspieler Romario, brasilianischer Abgeordneter
Ex-artilheiro já pensa na reeleição como deputado federalFoto: Alexandra Martins/Câmara dos Deputados

Na sua opinião, quem vence a Copa no ano que vem? O Brasil tem condições de acertar o time e vencer na final?

Hoje o Brasil não é o favorito. Acho que a Alemanha tem grandes chances.

O que o senhor achou da convocação do Felipão para a Copa das Confederações?

Passo

Passado pouco mais da metade de seu primeiro mandato como deputado federal, que balanço o senhor faz até aqui? Quais foram e continuam sendo os principais desafios?

Entrei na política para melhorar a vida das pessoas com deficiência e ainda há muito por fazer. Hoje enfrento também uma batalha pelo moralização do esporte nacional. Essas duas batalhas são grandes desafios.

Será candidato à reeleição no ano que vem? Ou já pensa em voar mais alto, para um cargo de senador – ou mesmo de prefeito ou governador?

Atualmente penso em terminar bem este mandato. Há grandes chances de me candidatar novamente ao mesmo cargo.