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Museu da emigração

Júlia Dias Carneiro4 de agosto de 2007

De 1850 a 1934, mais de cinco milhões de emigrantes saíram da Europa para o Novo Mundo pelo porto de Hamburgo. Para contar o início, meio e fim de tantas histórias, a cidade inaugurou, em julho, o Museu Ballinstadt.

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O cartaz do museu de emigração de Hamburgo simboliza o momento da partida de milhões de viajantesFoto: BallinStadt

Hoje sede do porto de maior importância econômica na Alemanha, Hamburgo foi, no passado, uma das principais portas de saída para navios carregados de um bem de valor inestimável: sonhos. O museu Ballinstadt, que se acrescenta o título Mundo da Emigração, acompanha o trajeto dos sonhos que impulsionaram a saída de milhões de europeus de suas pátrias: onde nasceram, o que os motivou, que fim levaram.

O Ballinstadt fica num terreno carregado de história. Ele foi construído na área que abrigou, de 1901 a 1934, uma espécie de cidade dos emigrantes. Antes de embarcar no navio para a América, os viajantes, que vinham para Hamburgo de diversos lugares da Europa, precisavam ficar cerca de uma semana na cidade para realizar exames médicos obrigatórios, acertar documentos de viagem e passagens.

Para isso, de 1898 a 1901, foi construída uma pequena vila com pavilhões de alojamento, refeitório, lojas, igrejas, uma sinagoga e um dispensário.

Museu construído nos moldes da vila

Museum BallinStadt Auswandererwelt Hamburg
O museu reproduz os pavilhões originais da vila dos emigrantesFoto: BallinStadt

A vila foi ampliada em 1907, passando a ter 30 prédios, e funcionou até 1934. Ao longo do tempo, seus estabelecimentos foram sendo destruídos por motivos diversos, alguns bombardeados na Segunda Guerra Mundial. Agora, três réplicas dos antigos pavilhões de alojamento foram erguidas em seu lugar, com direito a tijolinhos vermelhos dos prédios originais.

O museu custou 12 milhões de euros e seu acervo tem desde reproduções de ambientes da época, como filmes, fotografias, documentos originais e elementos multimídia, até manequins que contam histórias de emigrantes.

Cada um dos três prédios dedica-se a temas diferentes. No primeiro, há um centro de pesquisas computadorizado que guarda uma das preciosidades da mostra: a lista dos cinco milhões de passageiros que embarcaram em Hamburgo rumo à América.

"Dos cinco milhões de passageiros, já foram digitalizados 3,5 milhões de nomes para o nosso banco de dados", explica Jorge Birkner, um dos historiadores do museu. Esses nomes podem ser consultados com simples mecanismos de busca."Mesmo os nomes ainda não digitalizados podem ser encontrados, porque todas as listas podem ser visualizadas como arquivo PDF. Basta o visitante saber quando eles viajaram, para encontrar seus antepassados."

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Navio simula condições de viagemFoto: BallinStadt

O museu é voltado aos que emigraram para os Estados Unidos (especificamente para Nova York), já que foi este o destino da maioria dos milhões de emigrantes que deixaram a Europa na onda migratória que começou, segundo Birkner, após as guerras napoleônicas.

A partir de então, 80% dos migrantes foram para os Estados Unidos, 5% para o Canadá, 10% para a América do Sul (sobretudo para o Brasil e a Argentina) e o restante para outros países. Os que embarcavam em Hamburgo vinham principalmente da Alemanha (42%), da Rússia (23%) e da Áustria-Hungria (25%).

Brasileiros também podem encontrar antepassados

Apesar de as histórias contadas pela exposição serem focadas em quem foi para os Estados Unidos, as listas de passageiros podem ser interessantes também para brasileiros, já que contêm os nomes de todas as pessoas que viajaram nos navios de Hamburgo para a América do Sul.

Birkner aponta ainda que as listas são importantes pela quantidade de informações que trazem. "São as listas mais detalhadas que existem deste período no mundo. Trazem nome, profissão, idade, procedência, nomes dos acompanhantes, antecedentes criminais e, muito importante, o último endereço", diz. "A maioria das listas na América só registrava o porto de procedência, o que torna muito mais difícil descobrir dados sobre o passado dos passageiros."

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Manequins e pôsteres na exposição permanenteFoto: BallinStadt

As listas também podem ser vistas no Ancestry.de, banco de dados na internet, onde no entanto a consulta é paga. Mas pode-se fazer descobertas surpreendentes: o site informa, por exemplo, que pessoas como Angelina Jolie talvez não existissem (!) não fosse a emigração de antepassados de Hamburgo para os Estados Unidos.

A saída, a chegada e os motivos

No segundo prédio do museu está a principal área de exibição, dedicada aos diferentes momentos da emigração. Os visitantes acompanham o caminho feito pelos viajantes, com informações sobre a vida na Europa na época, os motivos que levavam as pessoas a partir, como era a estada no porto de Hamburgo, a jornada no navio, a chegada ao Novo Mundo.

"Aqui, a emigração é enfocada como fenômeno europeu, e não apenas sob o ponto de vista da cidade de Hamburgo", diz Birkner. "Mostramos como era o contexto nos países de origem dos emigrantes, falamos sobre os diferentes motivos que os levaram a migrar."

Dois fatores citados por Birkner foram a perseguição anti-semita na Rússia a partir de 1881, que levou muitos judeus a deixar o país. Ou as sucessivas crises na agricultura na Irlanda a partir de 1845, que levou muitos a fugir da fome.

Ambiente de espera revisitado

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Emigrantes embarcam em navio no porto de HamburgoFoto: BallinStadt

O terceiro edifício é dedicado à vida na vila dos emigrantes. Ele reproduz ambientes da época, como os dormitórios, que nada tinham de luxuosos – os viajantes dormiam em grandes salões comunitários, por onde eram distribuídas numerosas camas de solteiro.

Os visitantes passam também por um salão que simula o interior de um navio da época, onde são exibidos filmes sobre a viagem, os passageiros e suas expectativas. De lá, chega-se a uma réplica de uma estação de controle nos Estados Unidos, onde os recém-chegados se registravam.

Birkner lembra que a questão da saúde dos passageiros era uma grande preocupação na época. Em 1892, a cólera eclodiu em Hamburgo, matando milhares de pessoas em poucas semanas. Na época, a origem da doença foi atribuída a viajantes da Rússia, e a partir de então o controle médico na fronteira tornou-se muito rigoroso.

Exames médicos eram fundamentais

A preocupação com a saúde dos passageiros também tinha razões econômicas: ao chegar aos Estados Unidos, eles eram novamente submetidos a exames médicos, e, se houvesse problemas, eram enviados de volta no próximo navio – aos custos da companhia.

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Baús e caixas eram usados pelos viajantes no início do séculoFoto: BallinStadt

Neste edifício encontram-se resquícios do último prédio do complexo ainda de pé nos anos 90. Até recentemente, ele abrigou uma loja de carros usados e um restaurante português. Sua estrutura estava tão frágil que precisou ser quase todo demolido. Algumas estruturas, no entanto, foram mantidas e incorporadas ao projeto.

O museu, que é cercado por um parque, ocupa hoje sete dos 13 acres originais. Seu nome é uma homenagem ao construtor da vila: Albert Ballin, então diretor-geral da grande companhia de navegação Hapag.

O nome completo do museu, por sinal, é Porto dos Sonhos – Ballinstadt [cidade de Ballin] – Mundo de Emigrantes Hamburgo. Ele fica no bairro de Veddel, numa ilha ligada a Hamburgo por uma ponte. Ele pode ser acessado de carro ou de bonde, mas quem quiser entrar no clima pode chegar lá pela água, de barcaça.

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