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Arte islâmica

3 de fevereiro de 2010

No ano de 2019, o Museu de Arte Islâmica de Berlim terá triplicado seu tamanho e deverá abrigar a maior coleção do gênero no mundo ocidental. Mas apenas mostrar seu acervo não é a meta principal do museu.

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Fachada do Palácio de Mashtta exposto em BerlimFoto: MWNF

O Muro de Berlim mal havia caído quando arquitetos se reuniram na capital alemã, a fim de planejar o futuro da Ilha dos Museus, localizada no centro da cidade e composta de cinco museus distintos.

Ao mapear cuidadosamente o espaço, eles chegaram à conclusão de que o Museu de Arte Islâmica, até então parte do Museu de Pérgamo desde 1932, deveria ser expandido. A ideia era deslocar essa coleção para a ala norte do complexo arquitetônico, criar uma entrada própria e disponibilizar um espaço de exposição de 3 mil metros quadrados.

O que esses arquitetos naquele momento não sabiam é que, quando a expansão do museu entrasse realmente na fase de realização, ela iria ser conduzida por um jovem e ambicioso diretor, cheio de novas ideias.

Stefan Weber assumiu em 2009 uma coleção que inclui a fachada do Palácio de Mshatta (Jordânia), estuques de Samarra (cidade ao norte de Bagdá) e nichos decorativos de oração de Kashan (Irã) e Konya (Turquia).

Para Weber, o novo espaço não é somente uma ótima oportunidade de reconceituar a arte islâmica e a arqueologia, mas também de se perguntar qual seria o público alvo do museu. "Essa é uma coisa da qual não se falou muito no passado. Nossa visão de museu não é somente aquela de servir a especialistas e estudantes, mas sim de atrair novos tipos de público", diz ele.

Complexidades do passado

A fim de atingir essa meta, uma das questões com as quais Weber e seus assessores se depararam foi a dificuldade de transpor as complexidades e diversidades da herança cultural islâmica, de forma que essas se tornem mais compreensíveis e acessíveis ao público ocidental.

Não é uma tarefa necessariamente fácil abarcar uma era que vai do século 7° aos dias de hoje, cobrindo uma área geográfica que alcança desde a Espanha até a Índia, em busca de respostas para esta questão.

A relevância dessa tarefa, para Weber, está na função crítica a ser desempenhada, a fim de eliminar a ignorância do ponto de vista cultural e histórico que determinadas pessoas têm a respeito da sociedade islâmica hoje.

"Acredito que temos um grande potencial. As pessoas vêm até aqui para compreender o presente através do passado e nós podemos servir como vitrine da cultura muçulmana na nossa sociedade atual", argumenta Weber.

Luz no fim do túnel

Essa é uma abertura que Ali Kaaf, artista sírio que vive e trabalha em Berlim, espera que seja realmente vista e observada por muitas pessoas. "O interesse pela cultura islâmica cresceu em função da atual situação política em todo o mundo, mas há sempre o perigo de que as pessoas acreditem nas coisas superficiais que leem nos jornais", afirmou o artista à Deutsche Welle.

Kaaf diz preferir, contudo, acreditar que as pessoas optem por refletir e explorar as profundezas da herança muçulmana. Ele vê essa oportunidade como uma luz no fim do túnel que se opõe a uma eventual escuridão neste contexto.

Lar simbólico

Tirar proveito do interesse crescente pela cultura islâmica é também o objetivo de Stefan Weber, embora ele veja também no museu berlinense uma espécie de ponte ou lar simbólico para os quatro milhões de muçulmanos que vivem hoje na Alemanha.

"Não há nenhum espaço público para a cultura elevada, onde os muçulmanos que vivem no país sejam convidados e possam perceber que uma instituição pública está cuidando de sua cultura. Do ponto de vista psicológico, é de tremenda importância dizer que damos valor à herança deles, algo que somente nossa instituição poderá fazer na Alemanha", observa Weber.

Documenta 12, islamischer Teppich
Coleção de museu berlinense é amplaFoto: Bildarchiv Preußischer Kulturbesitz, Foto Reinhard Friedrich

E o diretor do museu não tem medo de investir onde acha que deve: à frente do projeto, Weber introduziu um programa interessante e diversificado de eventos, incluindo workshops, exposições e concertos, voltados tanto para promover a compreensão por parte daqueles que não fazem parte da cultura muçulmana, bem como de semear uma sensação de pertencimento a ela.

Peso sobre os ombros

Os esforços de Weber não passaram despercebidos, embora haja opiniões de que o museu não deveria navegar somente nas águas turvas da integração dos muçulmanos no país.

"O que o museu está fazendo agora é interessante, instigante e honesto. É a primeira vez que se tenta cortar os laços com o mundo acadêmico, a fim de se criar uma conexão com a sociedade e com a vida contemporânea. Mas o museu não poderá cumprir essa tarefa sozinho e não se deve esperar muito dele", avalia Ali Kaaf.

No momento, o novo museu mantém uma enorme expectativa em relação às tarefas que pretende cumprir, talvez muito em função da meta de eliminar a noção de "eles contra nós" e de fazer com que se conheça melhor a longa história de intercâmbio entre as culturas.

"Vivemos todos juntos numa sociedade. As divisões que fazemos hoje estão nas nossas cabeças, de forma que é muito importante explorar a tradição cultural e trazê-la ao nosso público", conclui Weber.

Autora: Tamsin Walker (sv)

Revisão: Carlos Albuquerque