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Mulheres maduras inspiram novo padrão de sucesso

Maximiliane Koschyk av
15 de maio de 2017

Angela Merkel, Brigitte Macron, Jane Fonda: elas são sexagenárias, admiradas e pioneiras de uma nova imagem de mulher bem-sucedida. Mas os desafios para essa geração ainda são similares aos de décadas atrás.

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Frankreich Paris Amtseinführung Emmanuel Macron
Brigitte Macron é bem mais velha que o marido, presidente da França: 24 anos de diferençaFoto: Reuters/C. Hartmann

Sim, Brigitte Macron é mais velha do que o marido. Não só um pouco, mas respeitáveis 24 anos – um ano a mais do que a diferença entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e sua esposa, Melania. Apesar disso, nas eleições americanas o assunto não despertou tanta atenção quanto na França.

No buscador do Google, mesmo depois da posse de Trump, em janeiro, o número das pesquisas sobre a defasagem etária do casal presidencial foi a metade das feitas sobre Emmanuel e Brigitte Macron, na segunda semana de maio.

Aos 64 anos, a própria primeira-dama francesa encara com humor a tematização de sua idade. "Imaginem só como eu vou estar daqui a cinco anos", brincou durante a campanha, após ressaltar a necessidade de que os franceses elegessem seu marido agora, e não nas próximas eleições.

O padrão duplo aplicado à percepção da idade em homens e mulheres não é absolutamente novo, sendo tema recorrente nos debates sociais. Neste meio tempo, porém, a imagem das mulheres mais maduras mudou. Quem antes era inescapavelmente "velha" aos 60 anos, hoje ainda é considerada "vital".

O fato também se deve a uma sociedade envelhecida nos países industriais ocidentais, como a Alemanha, nos quais a expectativa de vida cresce, enquanto as taxas de natalidade ficam para trás.

Jane Fonda: "Eu abandonei a indústria cinematográfica aos 50 anos e só voltei aos 65"
Jane Fonda: "Eu abandonei a indústria cinematográfica aos 50 anos e só voltei aos 65"Foto: picture-alliance/dpa/C. Charisius

Cientistas do Instituto Internacional de Análise de Sistemas Aplicada  (IIASA), em Viena, propuseram definir o envelhecimento humano não mais de acordo com os anos já vividos, mas sim com a expectativa de vida ainda restante. Enquanto 200 anos atrás já se falaria em idade avançada, hoje não se é mais velho aos 60 anos, apontam os pesquisadores. Ou, dito informalmente: 70 é o novo 50.

Um novo mercado

A indústria de consumo reconheceu esse fato. Especialistas em marketing há muito compreenderam que os best agers, generation gold, mature consumers  – como se denominam os maiores de 60 anos no jargão do setor – são um mercado em crescimento.

O setor de estilo de vida e lazer foi um dos primeiros a se adaptar à nova matriz etária. A editora alemã Gruner + Jahr, por exemplo, lançou há algum tempo uma revista moderna para "mulheres da terceira fase da vida", distanciando-se do clichê de elevadores para escadas, absorventes para incontinência e fofocas sobre a nobreza europeia que normalmente povoa as páginas dos periódicos para senhoras.

No setor da moda, quem dita o tom são mulheres acima dos 60, como a chefe da editora Condé Nast e editora-chefe da Vogue, Anna Wintour, e os ícones do design Vivienne Westwood e Iris Apfel. O blog americano Advanced Style celebra o estilo "progressista" das mulheres maduras, que nem pensam em se aposentar, em termos de estar na moda.

Editora-chefe da "Vogue", Anna Wintour é presença marcante no mundo da moda
Editora-chefe da "Vogue", Anna Wintour é presença marcante no mundo da modaFoto: picture alliance/empics/A. Gowthorpe

A indústria de entretenimento já não tem mais problema de tematizar o envelhecimento. A série de sucesso Grace and Frankie, da rede de streaming Netflix, a antiga diva de Hollywood e do fitness Jane Fonda representa uma mulher que, aos 70 anos, não se contenta com a imagem e a vida de aposentada.

"Nós queríamos mostrar que, também no terceiro ato da vida, a pessoa pode ser vital, sexualmente ativa e divertida", declarou a atriz de 79 anos numa entrevista ao jornal Washington Post. A série explora tudo aquilo que ocupa também os que já passaram dos 60, de relações amorosas e sexualidade à realização profissional.

"Eu abandonei a indústria cinematográfica aos 50 anos e só voltei aos 65", conta Fonda. O reingresso não foi realmente fácil, mas o fato apenas a motivou ainda mais: "Eu queria dar um rosto cultural à idade."

Tempo de redefinições

Mesmo assim a idade traz problemas, em especial para as mulheres. A discriminação etária é um obstáculo para elas, sobretudo no mercado de trabalho.

Um levantamento representativo da Agência Federal Antidiscriminação (ADS) alemã revelou em 2012 que nem a metade das mulheres entre 55 e 64 anos do país possuía um emprego que lhes desse acesso ao seguro de saúde público.

"A discriminação por idade traz custos tremendos para a sociedade, por exemplo no subaproveitamento dos potenciais de certos grupos etários no mercado de trabalho", ressalta a diretora da ADS, Christine Lüders.

Na cúpula das mulheres do G20, no fim de abril, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, assegurou que passaria a se empenhar pela melhoria financeira para as mulheres. Mesmo tendo se esquivado, na reunião, da pergunta sobre se se considerava feminista, ela é vista como pioneira da imagem de uma bem-sucedida mulher acima dos 60 anos.

Brigitte Macron poderá também contribuir. Após a eleição, seu marido comentou que ela marcaria o papel da esposa do presidente e o redefiniria, também devido a sua idade. Será interessante ver como primeira-dama vai tematizar os desafios de sua própria geração.