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20 anos depois

2 de outubro de 2010

Duas décadas são um piscar de olhos para a História. Isso é o que deveriam ter em mente aqueles que só criticam e se recusam a reconhecer as conquistas da reunificação alemã, opina o editor-chefe da DW, Marc Koch.

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Nos jubileus, o que manda são as estatísticas: dados e números que informem como se encontra a Alemanha hoje, 20 anos após a reunificação.

Isso não deixa de ser correto: muitas dessas estatísticas mostram que, nas últimas duas décadas, também se cometeram erros, que ainda persistem injustiças, que o número de desempregados no Leste alemão é o dobro do registrado no Oeste, que as pessoas da parte ocidental ganham pelo mesmo trabalho mais dinheiro que na parte oriental.

Tudo isso pode ser lido em diversos estudos científicos sensatos. Mas o que isso diz sobre a Alemanha e a reunificação? Não muito.

Historicamente singular

Deutsche Welle Chefredakteur Marc Koch neu
Foto: DW

O maior e ainda inacabado projeto da história do pós-Guerra alemão não se deixa medir por números. Evidentemente os cidadãos da antiga república ocidental alemã sentem a sobrecarga financeira que os bilhões de euros transferidos para a antiga Alemanha Oriental causaram e continuarão causando ainda por muito tempo.

Maior ainda foi o desafio a muitas pessoas da antiga República Democrática Alemã (RDA), obrigadas a construir uma vida totalmente nova após o colapso político e econômico de seu Estado.

Os aspectos positivos disso tudo, no entanto, ainda não são suficientemente reconhecidos pela opinião pública alemã. Pelo contrário, reclama-se demais – embora essas reclamações, após 20 anos, não passem de mera política de interesses. Tanto no Leste como no Oeste.

Afinal, não dava para esperar que, dentro de duas décadas, dois sistemas sociais tão contraditórios como o da República Federal da Alemanha e o da RDA fossem se fundir completamente. Quem hoje exige que, após 20 anos, não se deveria perceber mais nenhuma diferença entre Leste e Oeste, simplesmente não entendeu a dimensão desse acontecimento extraordinário e, em sua forma, historicamente singular.

Sem tempo para experimentos

Essa condição também não é alterada pelo fato de terem sido cometidos muitos erros e de várias situações terem sido erroneamente avaliadas entre a queda do Muro e o dia 3 de outubro de 1990.

Hoje uma coisa é certa: na época, os arquitetos da unidade alemã não tiveram tempo para experimentos, tempo para uma aproximação lenta dos dois Estados alemães. Eles tinham que aproveitar uma chance historicamente única num momento em que a ordem mundial conhecida até então estava mudando de forma radical – e fizeram isso.

Evidentemente foi precipitado prometer às pessoas que a reunificação poderia ser feita dentro de poucos anos e com custos calculáveis, como o fez o então chanceler federal Helmut Kohl, em 1990. Frases como essa perduram até hoje como munição barata para discussões de botequim, mas não diminuem em nada o desempenho de Kohl e de todos aqueles que viabilizaram a unidade alemã.

Afinal, a Alemanha tirou proveito da reunificação em todos os sentidos. Entre outras coisas – e isto não é pouco! – o país se tornou mais aberto, colorido, vivo e descontraído nos últimos 20 anos. Aprendeu a lidar com contradições, questões em aberto e conflitos sociais, a aceitá-los e não varrê-los para debaixo do tapete. O país deixou de buscar respostas como quem procura às cegas; agora fica de olhos abertos, reflete, observa e indaga.

A Alemanha é um laboratório, uma sociedade no meio da Europa a lidar constantemente com mudanças, desafios e novas experiências. Isso também é um resultado da reunificação. E diz muito mais sobre este país do que todas as estatísticas.

Autor: Marc Koch
Revisão: Alexandre Schossler