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Design gráfico

Felipe Tadeu (rr)24 de dezembro de 2007

Exposição em Frankfurt celebra era de ouro do design gráfico na Alemanha com obras dedicadas ao cinema internacional.

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Exposição acompanha catálogo com mais de 1500 ilustraçõesFoto: Felipe Tadeu

A idéia surgiu em 2006 entre estudantes da Faculdade de Design de Düsseldorf, após constatarem, por meio de uma pesquisa nos arquivos da distribuidora cinematográfica Atlas, que há mais de trinta anos não se fazia na Alemanha nenhuma grande exposição dos cartazes artísticos realizados para o cinema na década de 60.

A lacuna de todos esses anos de esquecimento, agravada pela ausência de qualquer título bibliográfico lançado a respeito, está sendo preenchida agora com a mostra FilmKunstGrafik, que o Museu Alemão de Cinema de Frankfurt apresenta até 10 de fevereiro de 2008.

Além de expor cartazes promocionais de cerca de 100 filmes, o museu também promove workshops e exibe clássicos da sétima arte, num evento organizado pelos universitários do grupo de pesquisa Design+Film. O projeto incluiu também a publicação de um detalhado catálogo de 360 páginas com mais de 1500 ilustrações.

Abrindo os olhos para o mundo

Ausstellung Deutsches Filmmuseum Frankfurt Film Kunst Grafik
Exposição contou com o apoio do Instituto Alemão de CinemaFoto: Felipe Tadeu

No início da década de 60, os alemães ainda não tinham acesso em maior escala à cinematografia produzida em países como França, Rússia e Japão. A Segunda Guerra Mundial terminara havia não muito tempo e o país ainda se reerguia das cinzas do nazismo, que castigou com severas restrições a suposta “arte degenerada” estrangeira levada às telas.

Duas empresas foram fundamentais para a construção de um mercado cinematográfico que abriu as portas para filmes de outros países: a Neue Filmkunst Walter Kirchner, fundada em 1953, e a Atlas Film, fundada em 1960. Ambas tinham a ambiciosa meta de formar uma nova audiência para cineastas que vinham se destacando no cenário internacional, como Ingmar Bergmann, Sergei Eisenstein, François Truffaut e Stanley Kubrick.

“Filmes de alto nível para espectadores exigentes” era o lema da Walter Kirchner, que, assim como a Atlas, passou a investir em novas estratégias de sedução do público, tanto para importantes filmes internacionais, como para os de cineastas alemães recém-surgidos, que clamavam por espaço no próprio país através de um importante documento assinado em 1962 em Oberhausen:

“Manifestamos nossa pretensão de criar um novo cinema alemão. Este novo cinema necessita novas liberdades. Liberdades frente aos convencionalismos usuais da profissão. Liberdades com relação à tutela de certos interesses”, reinvindicava o manifesto, endossado por 26 cineastas jovens.

Foi então que entrou em ação um grupo de designers do mais alto gabarito artístico – boa parte deles oriunda da Universidade de Kassel –, que começou a desenvolver cartazes para as duas empresas. Estas, embora os contratassem principalmente de olho nos lucros de bilheteria, também os incentivavam no aprimoramento do próprio cartaz como objeto artístico.

“As duas distribuidoras trouxeram novas tendências estilísticas para a arte da representação cinematográfica, tornaram famosos diretores até então desconhecidos e nos mostraram também uma série de clássicos”, afirma Hans-Peter Reichmann, diretor interino do museu.

Relíquias gráficas

Os cartazes que fazem parte da exposição são de autoria de Ferry Ahrlé, Bele Bachem, Karl Oskar Blase, Heinz Edelmann e Dorothea Fischer-Nosbisch. A mostra também inclui peças de Hans Hillmann (considerado o fundador dessa primorosa fase dos gráficos alemães), Jan Lenica, Michel + Kieser, Isolde Monson-Baumgart, Wolfgang Schmidt e Rambow + Lienemayer. Todos formavam a elite do grafismo da década de 60, atuando tanto na concepção de cartazes quanto na de programas impressos e na produção de traillers.

Ausstellung Deutsches Filmmuseum Frankfurt Film Kunst Grafik
De Düsseldorf, mostra seguiu para FrankfurtFoto: Felipe Tadeu

Entre as obras, vale a pena destacar trabalhos impactantes como o cartaz de Ferry Ahrlé de 1962 para O Sétimo Selo, do sueco Ingmar Bergmann; o grafismo de Hans Hillmann para O Encouraçado Potemkin, do russo Eisenstein, ou o cartaz de Karl Oskar Blase para o filme Dr.Mabuse, O Jogador, do austríaco Fritz Lang.

Além disso, faz parte da mostra a arte de Karl Oskar Blasé para Orfeu Negro, filme rodado no Rio de Janeiro pelo francês Marcel Camus em 1959 e premiado com o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e a Palma de Ouro em Cannes. Ainda que a ilustração de bandeirinhas de festa junina usada para o cartaz soe descabida – afinal o filme se desenrola durante o carnaval – o resultado final é satisfatório. “É um cartaz de que gosto muito”, elogia Blase no documentário exibido nos monitores da sala da exposição.

Objetividade máxima

Os trabalhos desenvolvidos para a Atlas e a Walter Kirchner por artistas alemães contribuíram para o sucesso de filmes como Los Olvidados, do espanhol Luis Buñuel, e Jules und Jim, do francês François Truffaut. Porém, por vezes não puderam evitar o fracasso dos filmes, como o belo cartaz de Dorothea Fischer-Nosbisch para O Silêncio de Bergmann, que causou grande polêmica na Alemanha e deixou a distribuidora Atlas, de Hans Eckelkamb, em séria crise financeira.

Os visitantes da mostra também têm a chance de ver os esboços de diversos cartazes como o de O Anjo Azul, de Josef von Sternberg, permitindo acompanhar o processo de criação do artista para o filme que conta com Marlene Dietrich no papel principal.

“Não posso contar nenhuma história num cartaz. Preciso pinçar o momento mais dramático e apresentá-lo como uma rajada de luz. O cartaz é um segundo da mídia”, comentou com precisão Gunter Rambow, ao se referir à sua atividade. “Pode-se fazer um bom cartaz de um filme ruim, não acho que isso seja um crime. É possível, mas não é tão palpitante“, afirmou com conhecimento de causa Isolde Monson, que criou o cartaz de Crianças do Olimpo, de Marcel Carné.