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Arte e dor

(ab / sv)19 de abril de 2007

Exposição em Berlim volta-se para as várias facetas da dor. O desafio está em expor algo nem tangível, nem visível. E, acima de tudo, ambivalente.

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Dor à mostra, sob vários aspectosFoto: DW-TV

Entre outros, a mostra traz, exposto em uma vitrine, um pedaço de madeira, com cerca de um metro de comprimento, que até o século 19 fazia parte do equipamento médico de praxe: na ausência de substâncias capazes de anestesiar o paciente de forma eficaz, incontáveis pessoas cravavam seus dentes neste objeto, para evitar que suas línguas fossem arrancadas durante procedimentos cirúrgicos extremamente dolorosos.

Mais do que uma relíquia da história da Medicina, este objeto estático e cheio de marcas de mordidas é capaz de evocar imagens horrendas: imagens de situações tão dolorosas, que o observador tem a impressão de que pode quase senti-las. De fato, este tem sido o desafio central da exposição intitulada Schmerz (Dor), em Berlim: como traduzir a sensação da dor, sem provocá-la realmente?

Diferentes abordagens

Para Eugen Blume, curador da exposição no museu Hamburger Bahnhof, a solução está na associação entre arte e ciência. "A justaposição de trabalhos artísticos e científicos é usada para minimizar as fronteiras entre essas duas áreas", diz Blume.

Berlin Architektur Hamburger Bahnhof Museum für Gegenwart
Hamburger Bahnhof: Museu de Arte ContemporâneaFoto: picture-alliance/ ZB

A proposta é comprovada pelo fato de que Schmerz é fruto de uma cooperação entre o Museu de Arte Contemporânea Hamburger Bahnhof e o Instituto de História da Medicina do Hospital Universitário Charité, na capital alemã. A idéia é abordar, do ponto de vista da arte, a experiência subjetiva da dor física ou psicológica.

A mostra é divida em duas seções: Percepções da Dor examina a forma como o homem lida com a dor do outro, enquanto em Fascínio da Dor o próprio corpo é colocado como instância para a experiência e como instrumento de reconhecimento.

Visão histórica

Logo do outro lado da rua, o Museu da História da Medicina apresenta um exame minucioso da dor do ponto de vista científico. Da mesma forma, a mostra é dividida em dois ciclos: o Tempo da Dor mostra como nossa percepção da dor foi se modificando no decorrer dos últimos séculos, enquanto Expressão da Dor concentra-se nas formas de expressão da dor através da palavra escrita, da arte ou da música.

Os dois espaços estão ligados por uma "passagem do sofrimento", com 400 metros de comprimento contendo 30 obras que tratam do assunto. Como um todo, a mostra tem por meta facilitar o trânsito entre as fronteiras que separam a ciência da arte. Para isso, são expostas obras de arte ao lado de objetos folclóricos, religiosos, cotidianos ou ligados à história da Medicina.

Paixão de Cristo

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Na tradição cristã, imagem da dor por excelênciaFoto: DW-TV

Dispositivos religiosos compõem uma parte importante da mostra. Entre estes, a Paixão de Jesus Cristo, uma das imagens mais simbólicas do sofrimento humano para sociedades ocidentais de tradição cristã, é colocada em primeiro plano.

Além disso, o visitante é ainda convidado a examinar tumores preservados em formol, esqueletos curvos, úlceras estomacais, cirroses hepáticas e embriões deformados. Tudo em nome da "imagem da dor".

Para todas as idades

Mesmo com todo esse arsenal do sofrimento, a mostra evita qualquer controvérsia ou confronto, examinando a dor de uma forma sensivelmente digerível. São poucas as obras expostas que abordam temas contemporâneos como tortura, guerra, terrorismo ou genocídio, mesmo considerando que estes assuntos são as principais associações contemporâneas à dor.

Para compor a mostra, os dois museus recorreram a seus respectivos acervos, em vez de importar peças de colecionadores espalhados pelo mundo, como de praxe em exposições deste porte. Entre os artistas cujas obras foram escolhidas estão Marina Abramovic, Francis Bacon, Joseph Beuys, Louise Bourgeois, Bruce Nauman e Sam Taylor-Wood, entre outros.

A exposição Schmerz poderá ser visitada no Museu de Arte Contemporânea Hamburger Bahnhof e no Museu de História da Medicina Charité até o próximo 5 de agosto.