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Mostra Documenta 13

8 de junho de 2012

Desde 1955 e a cada cinco anos, cidade alemã se torna "umbigo do mundo da arte contemporânea" . Documenta começou em 1955 para atrair turistas a Kassel. Edição múmero 13 reúne artistas de 50 países.

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Foto: G.Becker/documenta Archiv Stadt Kassel

Dez anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, gerânios e prímulas floresciam em Kassel. A mostra de jardinagem Bundesgartenschau visava levar um pouco de cor à bombardeada cidade de província no norte do estado de Hesse. Mas quem lá esteve na ocasião viu mais do que as ultimas tendências em projetos de jardinagem, pois a mostra foi acompanhada por uma exposição de arte: a primeira Documenta.

Processando o passado

Na época, nada fazia prever que em breve o evento entraria para a história da arte. A ideia inicial era apenas reunir algumas esculturas, para complementar a Bundesgartenschau. Mas então o artista Arnold Bode fundou uma associação, arrecadou 379 mil marcos (cerca de 190 mil euros) e expôs 670 obras.

Großer Sitzender Hans Mettel documenta 1
"Grande homem sentado", de Hans Mettel, na Documenta de 1955Foto: documenta Archiv Stadt Kassel

"A Documenta 1 foi uma retrospectiva da arte antes da Segunda Guerra Mundial", recorda Manfred Schneckenburger, único alemão a ser duas vezes curador-chefe da exposição internacional de arte. "Era um resumo daquilo que os alemães não puderam ver durante muitos anos, por ser considerado ‘arte degenerada'." O próprio Arnold Bode fora proibido de exercer sua profissão durante o Terceiro Reich.

O Museu Fridericianum, marcado pela guerra, foi o local escolhido para a reabilitação da arte de vanguarda, proscrita pelo nacional-socialismo. Entre os artistas expostos, estavam Wilhelm Lehmbruck, Oskar Schlemmer, Max Beckmann e Ernst Ludwig Kirchner, além de muitos outros nomes de prestígio.

Hora zero em Kassel

Apesar de se definir como uma exibição internacional, a Documenta manteve a arte alemã como foco específico. "Era uma retrospectiva que olhava para a frente, mas que ainda não havia chegado ao presente", analisa Schneckenburger.

Manfred Schneckenburger documenta 6
Manfred Schneckenburger durante "Documenta da Mídia", em 1977Foto: Galerie M

Mas: como chegar ao presente? Para Kassel, do ponto de vista econômico, 1955 era a hora zero. A ideia de instalar uma grande exposição de arte justamente na província se devera à situação específica da cidade.

Sua taxa de desemprego era alta, 80% de seus prédios e sua infraestrutura encontravam-se em ruínas, destruídos durante a Segunda Guerra. Além disso, a "Cortina de Ferro" banira a cidade, do centro da Alemanha para a periferia.

Mesmo assim, Bode conseguiu criar uma sensação. A partir da ideia de promover um local através da arte, ele desenvolveu uma concepção que até hoje transforma Kassel no "umbigo" do mundo da arte, a cada cinco anos. O artista permaneceu responsável pela escolha das obras expostas nas primeiras quatro edições da Documenta.

Documentas temáticas

E aí, pela primeira vez um outro curador ficou responsável pela seleção. "Em 1972, o suíço Harald Szeemann colocou em cena a arte contemporânea, com todas as suas rupturas e problemas", conta Manfred Schneckenburger, que ainda se lembra bem da arquitetura "anárquica" da exposição.

Pela primeira vez, a exposição tinha um tema: "Questionamento da realidade – Mundos pictóricos hoje". Causou sensação "O Escritório da Organização para Democracia Direta através do Voto Popular", no qual, durante 100 dias, o artista Joseph Beuys discutiu com os visitantes sobre como organizar e implantar uma democracia direta.

James Lee Byars intitulouCalling German Names a sua lendária ação artística. Do pórtico do Museu Fridericianum, ele chamava os visitantes pelo primeiro nome, aleatoriamente. Além disso, a arte de ação e conceitual de outras estrelas americanas ganhou um fórum na "d5". Assim, Harald Szeemann assegurou um posto cativo para a arte contemporânea em Kassel.

Making of der dOCUMENTA (13)
Fachada do Museu Fridericianum, sede da DocumentaFoto: DW/Sabine Oelze

A cada edição, a Documenta procura se reinventar. A sexta edição, em 1977, curada por Manfred Schneckenburger, foi caracterizada como a "Documenta da Mídia", por se centrar na fotografia e videoarte. "Ela não somente mapeou o que acontecera até então, em foto e videoarte, como garantiu um lugar no mundo das artes para a fotografia e a arte multimídia". Schneckenburger também expôs pela primeira vez arte da Alemanha Oriental.

Numa ação legendária, Beuys plantou 7 mil carvalhos durante a Documenta 7. Arborização da cidade ao invés de administração da cidade era o nome de sua contribuição, finalizada somente cinco anos depois, durante a Documenta 8, igualmente dirigida por Schneckenburger. "A 'd8' foi mais para tradicional, ocupando-se dos últimos cinco anos com retrospectivas individuais", relata o ex-curador.

Arte versus comércio

O fato de Schneckenburger e seus antecessores enfocarem sobretudo a Europa não era ditado apenas pela Guerra Fria. "Na época não havia internet, não havia como se abastecer de informações por toda parte, como hoje."

Somente em 2002 a Documenta focalizou a arte produzida em outras regiões do mundo. O diretor artístico da Documenta 11, Okwui Enwezor, nascido na Nigéria e criado nos Estados Unidos, examinou as consequências do colonialismo na Ásia, África e América Latina. Ele inaugurou assim chamadas "plataformas", para levar a arte de Kassel para o mundo: a Lagos, Nova Déli ou Viena.

Carolyn Christov-Bakargiev, curadora da Documenta 13, aumentou ainda mais esse raio de abrangência. A partir de 9 de junho de 2012, a mostra reúne artistas de 50 países, desde o deserto australiano até o Pólo Norte.

Carolyn Christov-Bakargiev documenta 13
Carolyn Christov-Bakargiev dirige Documenta 13Foto: picture-alliance/dpa

Muito tempo passou, de 1955 a 2012. Hoje, o comércio e a cultura de eventos têm a indústria da arte em suas mãos. No entanto, Manfred Schneckenburger está convencido de que a Documenta ainda é capaz de impor seu significado, na ciranda mundial de bienais, feiras e outras grandes exposições. "Enquanto seguir entusiasmando as pessoas pela arte contemporânea, ela não apenas terá alcançado seus objetivos, como também provado seu valor como mais importante exposição de arte do mundo."

Autoria: Sabine Oelze (mas)
Revisão: Augusto Valente