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Mortes de transexuais no Brasil mobilizam ONU

Richard Furst
26 de fevereiro de 2018

Programa da ONU Brasil capacita membros da comunidade LGBTI para atuar como lideranças pelos direitos da população trans e promover o diálogo com a sociedade.

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Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking mundial de países que mais matam travestis e transexuais
Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking mundial de países que mais matam travestis e transexuaisFoto: picture-alliance/dpa/J. Kalaene

Apesar da popularidade de artistas LGBTI como Pabllo Vittar e o sucesso de um grande número de paradas gay nos grandes centros urbanos, o Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking mundial de países que mais matam travestis e transexuais. Enquanto a expectativa de vida do brasileiro médio é de 75 anos, a de uma pessoa trans não passa dos 35, segundo dados de organizações da sociedade civil mencionados pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Leia também: Divisão no esporte deve ser por gênero ou sexo?

Os dados alarmantes levaram as Nações Unidas no Brasil a criar o projeto Trans-Formação, que busca capacitar transexuais para atuar como lideranças pelos direitos da população trans. A iniciativa entra em sua segunda edição com o objetivo de ampliar o diálogo com a sociedade.

"O Trans-Formação propõe fortalecer a capacidade de pessoas trans, para que elas possam conhecer e demandar seus direitos. Ao mesmo tempo, a ideia é engajar várias instituições para que elas também contribuam para a igualdade de pessoas trans", detalha Angela Pires Terto, assessora de Direitos Humanos da ONU no Brasil.

Para os idealizadores do projeto, o primeiro passo para alterar as estatísticas que colocam o Brasil no topo da violência é integrar os transexuais na sociedade. De acordo com a advogada Maria Eduarda Aguiar da Silva, coordenadora da Associação Brasileira de Famílias Homotransafetivas (Abrafh) no Rio de Janeiro, 90% da população trans acaba recorrendo à prostituição e vive sujeita a violência e crimes de ódio por não encontrar espaço na sociedade.

"A população trans, historicamente, foi alijada do sistema básico de educação, do mercado formal de trabalho e da cidadania", pontua Silva, cuja associação reúne hoje cerca de 400 membros LGBTI (lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, travestis e intersexuais) atuando em diferentes estados brasileiros e no DF.

O combate à intolerância também passa pela conciliação no discurso político, diz Silva. "Temos políticos que inflamam pessoas dizendo que a população LGBTI quer destruir a família brasileira. Dessa forma, ainda há muita resistência em se falar sobre o tema gênero e sexualidade nas escolas".

De vítimas a formadores de opinião

O programa da ONU Brasil pretende romper os tabus ao qualificar os próprios membros da comunidade LGBTI para atuar como mediadores entre a população transexual e outros setores da sociedade.

Melissa Massayury foi uma das 24 participantes da primeira edição do Trans-formação. Mulher trans e estudante de Direito em Brasília, ela conta que hoje se sente apta a atuar politicamente em prol de pautas da diversidade.

"O Trans-Formação me deixou mais preparada para falar com propriedade sobre o que é ser trans. Hoje eu me sinto mais capacitada a trabalhar no combate ao preconceito e na extinção do estigma de ser trans", explica.

Para a segunda edição do programa Trans-Formação, que está com inscrições abertas no site da ONU Brasil até 7 de março, serão selecionadas 20 pessoas do Distrito Federal e entorno. Fazer parte da iniciativa, porém, é apenas o começo, explica Massayury.

"Não é porque eu participei do projeto que hoje eu sou mais aceita ou sofro menos discriminação. Quem me discrimina nem sabe que sou uma universitária. Quem me discrimina não sabe nada sobre mim", conta.

Por isso, o papel dos participantes é justamente combater a falta de informação e promover o entendimento.

"Consegui me engajar mais na sociedade, seja em grupos de discussão, seja no trabalho com outros setores da sociedade. Precisamos nos fortalecer em resposta ao cenário político desfavorável ", completa Massayury.