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Monika Rinck e a inteligência poética

5 de março de 2013

Autora nascida em 1969 se destaca por conteúdos contundentes e formas lúdicas. Uma das inteligências mais ativas da cena poética berlinense, Rinck é presença constante em festivais e tem recebido numerosos prêmios.

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Foto: Timm Kölln

Nos últimos anos, a poeta e prosadora Monika Rinck tem se estabelecido como uma das vozes mais fortes de sua geração. Sua obra, na qual conjuga uma formação acadêmica sólida com as contribuições mais relevantes das pós-vanguardas, faz dela uma autora respeitada entre seus pares, entregando à literatura da Alemanha textos de grande sofisticação, mas com um senso de humor e ironia que os projetam para além dos muros às vezes estreitos da cena literária contemporânea.

Seus primeiros trabalhos foram publicados no início da década passada, mas o reconhecimento veio com o lançamento de Ach, das Love-Ding! Ein Essay (2006). O título – em tradução livre: "Ah, esse tal de Amor! Um ensaio" – já traz certo sarcasmo, que tenta evitar a sentimentalização de um dos temas mais antigos e abusados na história da literatura.

Ainda que publicado numa coleção de poesia, esse trabalho desafia classificações. Poesia, teoria e narrativa, o livro é dividido em capítulos que buscam descrever o processo de agrupamento e separação das "afinidades eletivas" – para usar uma expressão clássica da prosa alemã. Cada estágio de uma relação é discutido e ilustrado, e a autora mescla com elegância o teórico e o lírico, em efeitos que vão do satírico às implicações políticas de um discurso marcado pela carga feminina de uma mente em ação, veloz.

Comparações foram feitas com o Roland Barthes de Fragmentos de um discurso amoroso, mas a própria autora mencionou em entrevistas a influência de escritoras como a norte-americana Joan Didion e a canadense Anne Carson. Desde as décadas de 70 e 80, elas vêm construindo obras com referências tanto à teoria literária como á poesia lírica clássica, a exemplo de Eros the Bittersweet (1986), de Carson. Trabalhos como Lawn of the excluded middle (1993), de Rosmarie Waldrop, poderiam ser agrupados a esta produção.

Festivais e prêmios

Nascida em 1969 em Zweibrücken, Renânia-Palatinado, e formada em Teologia, História e Literatura Comparada, em seu livro seguinte, a premiada coletânea de poemas zum fernbleiben der umarmung (2007), Monika Rinck transita uma vez mais entre a linguagem clássica e erudita, a teórica e analítica, e o coloquialismo das conversas virtuais e das ruas.

O título do livro vem de uma citação bíblica: a passagem do Livro de Eclesiastes em que o pregador afirma que "há tempo para abraçar e tempo para abster-se dos abraços" – eine Zeit zum Umarmen und eine Zeit zum Fernbleiben der Umarmung. No poema que dá título ao livro, ela escreve: "como se nada houvesse além da morte por panorama, / e precisasse viver de fato sem respostas possíveis. / love calls us to the things of this world, mas o que nos chama para longe delas?".

Excelente leitora dos próprios poemas, que ganham vida em sua voz, a autora é convidada frequente dos mais importantes festivais de poesia do continente. Seu trabalho já foi traduzido e publicado na França e, nos Estados Unidos, pela lendária editora Burning Deck Press, dirigida pelo casal Keith e Rosmarie Waldrop.

Em 2009, Monika Rinck publicou Helle Verwirrung (Confusão lúcida). O "álbum duplo", como ela própria o define, traz dois volumes com poemas, textos em prosa e desenhos, e lhe valeu os prêmios Georg K. Glaser e Ernst Meister. Seu livro mais recente, Honigprotokolle (2012), sempre pela editora berlinense KookBooks, angariou-lhe o Prêmio de Arte de Berlim na categoria Literatura. No bicentenário de Wilhelm Taubert (1811-1891), Rinck contribuiu com textos dramáticos para um volume com peças infantis do compositor berlinense.

Política de gênero com autoironia

Com as poetas Sabine Scho (KookBooks) e Ann Cotten (Suhrkamp), Monika Rinck apresenta-se regularmente no ROTTENKINCKSCHOW, comentando com humor acontecimentos da atualidade, de políticos a científicos.

Seu trabalho se destaca na produção contemporânea. Em resenha da tradução de Alistair Noon para seus poemas, publicada como Sixteen poems (Barque Press, 2009), o crítico George Potts da revista The Literateur comenta essa poesia formada por "fragmentos numa espécie de deriva semântica, com o embate lúdico de léxicos distintos".

Numa resenha entusiasmada para o Süddeutsche Zeitung sobre o último livro de Monika Rinck, após afirmar que há muito a poesia da autora deixou de ser segredo de iniciados, Ina Hartwig escreve: "A ilusão romântica do amor como paixão jamais foi resumida de forma tão genial e sonora".

Monika Rinck é uma das inteligências mais ativas da cena poética contemporânea de Berlim, produzindo textos em que a política de gênero é encenada com elegância e uma grande dose de autoironia. Como no poema O que fazem as mulheres aos domingos: "mais tarde cai o confete / e a relva artificial. então vamos para casa e nos sentamos / à janela, como se ainda houvesse o romantismo. e tudo / isso num único domingo. é o que fazem as mulheres".

Autor: Ricardo Domeneck
Revisão: Augusto Valente