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Moderado e diplomático, Letta concentra esperanças da Itália

Kirstin Hausen (fa)25 de abril de 2013

Político de 46 anos é incumbido da tarefa de formar um governo e encerrar dois meses de impasse na terceira maior economia do euro. Escolha é meio-termo entre desejo de renovação e necessidade de experiência.

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Foto: Reuters

O subsecretário-geral do Partido Democrático (PD), Enrico Letta, designado novo primeiro-ministro da Itália, iniciou nesta quinta-feira (25/04) as consultas para formar um governo e tenta desbloquear o impasse político no qual a terceira maior economia da zona do euro mergulhou depois das eleições legislativas, em fevereiro.

Para os padrões italianos, Letta, de 46 anos, ainda é jovem. "Foi uma decisão quase radical", aprova o jornaleiro Olivio Bertoli, da cidade de Monza. Ele diz preferir Letta ao ex-primeiro-ministro Giuliano Amato, de 74 anos, que ocupou o cargo por duas vezes.

A profissional de moda Giovanna Flachi, de Milão, diz que prefere o prefeito de Florença, Matteo Renzi, de 38 anos. "Ele seria alguém realmente novo e que me representaria melhor", afirma. Renzi, que também é membro do Partido Democrático, estava de olho no cargo, mas foi vetado pelo ex-premiê Silvio Berlusconi. Especialistas especulam que o veto de Berlusconi se deva ao fato de Renzi ter rejeitado um convite do magnata da mídia para integrar o seu partido, o Povo da Liberdade (PDL).

Letta talvez não represente a mudança que muitos eleitores do Partido Democrático esperavam, mas depois do fiasco do partido na eleição presidencial, quando não votou em bloco nos candidatos indicados pela direção, muitos membros parecem satisfeitos por o PD ter sido novamente designado para formar um governo.

A tarefa havia sido anteriormente dada ao ex-líder Pier Luigi Bersani, que fracassou. Durante a campanha, Bersani havia prometido não formar uma coalizão com Berlusconi. Ele cumpriu a promessa, mas não encontrou uma maneira de formar um governo, e não teve alternativa a não ser desistir da incumbência. Agora cabe a Letta tentar viabilizar um governo e lidar com as diferenças entre os partidos.

Esquerda dividida, Berlusconi fortalecido

A tarefa não será fácil. Diante da divisão da esquerda, o secretário do Povo da Liberdade, Angelino Alfano, já anunciou as condições da legenda de Berlusconi para uma coligação. Seguindo as propostas da campanha eleitoral, ele quer, por exemplo, abolir o imposto sobre bens imóveis, o que já causou uma reação negativa do Banco Central da Itália.

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Berlusconi que colocar em prática suas promessasFoto: Reuters

A instituição financeira alerta que, se a proposta se tornar lei, o orçamento terá que ser recalculado. Para 2013, a Itália tem como objetivo um deficit orçamentário de 2,9% do Produto Interno Bruto e não quer, em hipótese alguma, ultrapassar os limites de 3% estipulado pelos tratados da União Europeia.

Para observadores, isso significa que Letta não terá muita liberdade financeira e terá de tomar medidas imediatas e efetivas contra os problemas econômicos e sociais na Itália. Mas essas terão seu preço, pois se trata de uma política impopular, que pouco vai se diferenciar da linha de austeridade seguida pelo premiê anterior, Mario Monti.

É verdade que, na sua declaração inicial como primeiro-ministro designado, Letta criticou a política dos países europeus em relação à crise como sendo "muito focada na austeridade". Mas é improvável que ele queira pôr em risco a confiança – conquistada pelo austero governo de Monti – de parceiros como França e Alemanha.

Nome apoiado por quase todos os partidos

Letta, nascido em Pisa, é considerado diplomático e flexível. Sua carreira política começou logo após os estudos de ciências políticas e direito, quando liderou a juventude democrata-cristã. Letta foi deputado europeu e ministro dos Assuntos Europeus e da Indústria. Também foi subsecretário da Presidência durante o governo de Romano Prodi (2006-2008).

Letta está longe de ser um novato e é uma espécie de meio-termo entre o desejo de renovação, expresso principalmente pelos eleitores, e a necessidade de experiência administrativa.

Sua indicação pelo presidente Giorgio Napolitano foi bem vista por quase todos os partidos, com exceção do Movimento 5 Estrelas de Beppe Grillo, que sempre foi contra uma grande coalizão, mas que nunca ofereceu uma alternativa a ela nem se mostrou disposto a assumir responsabilidades.

Grillo declarou que os Letta são "uma grande família", uma alusão a Gianni Letta, tio do primeiro-ministro designado e braço direito de Berlusconi. Enrico Letta afirma quase não ter contato com o tio e que não faz parte do círculo próximo a Berlusconi.

Conflito de interesses

Os interesses de cada partido são bem diferentes na fase política atual. O Partido Democrático discute se deve trabalhar junto com o "arqui-inimigo" Berlusconi. "Há um grande desconforto. Os membros não estão satisfeitos com o que está acontecendo no plano nacional", diz Tina Colomba, coordenadora do Partido Democrático em Monza.

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Protesto italiano realizado em 2012 contra o governo de Monti e suas medidas de austeridadeFoto: Filippo Monteforte/AFP/Getty Images

A previsão é que ocorram assembleias em todo o país na tentativa de acalmar os ânimos dos membros do partido. Por isso, fala-se muito em um governo de caráter "institucional". Isso significa que os cargos ministeriais ficariam com especialistas independentes e não com membros do PD.

Um governo institucional está longe dos anseios da centro-direita de Berlusconi, que deseja um governo político e não técnico. Já o partido de centro de Monti está interessado na continuação do atual programa de governo, enquanto o pequeno partido Esquerda, Ecologia, Liberdade, de Nichi Vendola, já declarou não querer fazer parte da grande coalizão.