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Modelo em extinção?

Soraia Vilela11 de julho de 2003

Apesar da própria cena clubber anunciar que tecno se torna out, a Love Parade resiste e acontece em Berlim pela 15ª vez.

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Love Parade: milhares nas ruas e decadência anunciadaFoto: AP

A primeira vez foi em 1989, com a cidade ainda dividida. Uns "gatos pingados" (aproximadamente 200 ravers) saíram pelas ruas da burguesa K'Damm, ao som do então nem tão disseminado "bate estaca". Pouco depois, muro caído, a "manifestação" - que ainda não era um "evento" - passava discretamente pelo que pode ser chamado "percurso" de segundo escalão. Este incluía, entre outros, a proximidade de uma Postamer Platz ainda desértica.

Eternamente jovens -

Hoje, mais de uma década depois, o destino dos DJs e fãs de então divide-se entre empresários bem sucedidos (organizadores da parada, proprietários de clubs) e aqueles que deram adeus à noite, optando por casa & jardim & filhos & cachorro. Algumas relíquias ainda resistem, como a DJ Ellen Allien, uma das mais populares da cidade, que do alto de seus 34 anos justifica: "Em Berlim, a idade nunca significou muita coisa. Aqui dá para continuar jovem por um pouco mais de tempo".

Apesar da resistência dos antigos e das nem tão gordas novas levas de jovens abaixo de 20, espera-se que a "parada mãe" - como é chamada pelos que apostam em sua decadência - arraste neste sábado (12/07) cerca de 700 mil pessoas às ruas da cidade. "Tecno e Berlim são inseparáveis e a Love Parade deve continuar acontecendo aqui", sentencia Alexander Skornia, gerente do Matrix, um dos clubs da cidade.

Volta da "discoteca"? -

No entanto, desde setembro do último ano o Matrix deixou o puritanismo de lado e "segue novos caminhos", como explica Skornia ao diário Berliner Morgenpost. Abrindo os ouvidos ao soul, pop e rock, o club passou a reciclar o som dos 60, 70 e 80. Abaixo o nicho tecno e boas vindas ao revival da antiga "discoteca" (que é como o Matrix passou a se autointitular)?

O que não se deve esquecer é que boa parte das casas que hoje dão as costas ao gênero - apostando que seus áureos tempos já se foram - só existem e resistem graças à fama da cidade como meca do tecno. O que, até um certo momento, foi reafirmado pela Love Parade.

Da província, de cabelos azuis -

Depois de se tornar um evento de massa, em que o underground e a cultura alternativa de ontem tomaram o establishment, a "manifestação" do gosto musical diferenciado virou um simples desfile de corpos tatuados e malhados. Para participar também, o adolescente da província pinta o cabelo de azul por um fim de semana, enquanto serve de espetáculo para o senhor de terno e gravata, que observa sorridente a passagem de carros e caras, sob a sombra das árvores do parque Tiergarten.

Marasmo financeiro -

"Uma vez por ano acontece a Love Parade. Mas quem é que ainda houve tecno nos outros 364 dias do ano?", pergunta o diário berlinense Der Tagesspiegel. Ao lado da constante mudança de rumos no mundo pop, a crise econômica ainda foi outro fator que contribuiu para um certo marasmo entre os clubs da cidade. Até o mais "clássico e tradicional" de todos, o Tresor, na Leipziger Strasse, em Mitte, atrai cada vez menos ravers a suas pistas.

Para salvar o barco prestes a afundar, seus proprietários optaram por estratégias sui generis, como permitir aos visitantes que assumam a função de DJs. Enquanto isso, outros clubs da cidade, que hoje definem as tendências, fazem suas trouxas e despedem-se de bairros que se tornaram chiques e caros, como o Mitte. Ou seja, o circuito esconde-se mais uma vez do mainstream. Afinal, Berlim, apesar de tudo, continua sendo Berlim.