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Ministra alemã pede intervenção no Sudão

(ns)7 de maio de 2004

Rebeldes negros se defendem contra a hegemonia árabe no oeste do Sudão e 10 mil pessoas já morreram nos combates. Um milhão de pessoas abandonaram suas aldeias destruídas e muitas se refugiaram no vizinho Chade.

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Sudaneses procuram refúgio no ChadeFoto: AP

Dez anos após o genocídio em Ruanda, um novo conflito está assumindo proporções de massacre na África. Seu palco é o Sudão, país em que a maioria da população é muçulmana. Se o conflito norte-sul dentro do país se desativou com o armistício de 2002, agora os problemas se concentram no oeste do grande país africano.

A situação está tão grave que a ministra alemã da Cooperação Econômica, Heidemarie Wieczorek-Zeul, que recebeu delegações do Sudão nesta quinta-feira (6), em Berlim, exigiu uma rápida intervenção da comunidade internacional para evitar um novo genocídio.

O terror dos pára-militares

Segundo as Nações Unidas, desde o início de 2003 já morreram 10 mil pessoas na região de Dafur. Um milhão de pessoas fugiram, depois que pára-militares incendiaram suas aldeias. Esses grupos contaram com o apoio ou a cobertura das tropas governamentais. Os acampamentos no oeste do Sudão estão cercados por milícias armadas e quem sair dali arrisca a vida. Não há segurança nem mesmo nos acampamentos, às vezes invadidos à noite pelos pára-militares, muitos deles árabes.

Quem fugiu para o vizinho Chade – cerca de 130 mil pessoas - nem ali está em segurança, pois também já foram registrados ataques das milícias do outro lado da fronteira. Teme-se, portanto, que o conflito se alastre.

Aumento da ajuda alemã

Kerstin Müller
Kerstin Müller, do Partido Verde, informará o Conselho de Segurança sobre o conflitoFoto: DPA

A situação na fronteira dos dois países pode agravar-se ainda com a chegada das chuvas, segundo Kerstin Müller, vice-ministra das Relações Exteriores, que se encontra no Chade. A política do Partido Verde parte nesta sexta-feira (07) para Nova York, onde informará o Conselho de Segurança sobre sua viagem. Diante da crise, o Ministério das Relações Exteriores da Alemanha pretende aumentar sua ajuda humanitária de 1,5 milhão de euros para 2,5 milhões de euros.

"A comunidade internacional não pode aceitar nenhum tipo de limpeza étnica e expulsão, onde quer que ela se realize" – declarou, por sua vez, a ministra alemã da Cooperação Econômica, Heidemarie Wieczorek-Zeul, em debate no Parlamento alemão sobre a situação na África, nesta quinta-feira.

Tropas de paz para o Sudão

Ela defende o envio urgente de tropas de paz para defender a população e garantir a chegada e distribuição de ajuda humanitária. O governo alemão irá se empenhar em prol de uma divisão internacional do trabalho: "A União Africana irá propor o envio de tropas de paz e a União Européia, financiar a missão," declarou.

Berlim deveria se engajar como intermediário dos conflitos na África, segundo o deputado liberal Ulrich Heinrich. Uma boa base para isso seria a excelente reputação que a Alemanha goza em países como Congo, Ruanda e Uganda.

Já a oposição democrata-cristã criticou a pouca atenção que o governo alemão teria dedicado às guerras na África. "À sombra do conflito no Oriente Médio e da guerra no Iraque, morreram milhões de pessoas no continente africano", observou o deputado Klaus-Jürgen Hedrich.

O novo conflito sudanês

Omar el-Bashir
Presidente do Sudão garante a hegemonia árabe.Tropas do governo apóiam limpeza étnica no ocidente do paísFoto: AP

Em Dafur, duas organizações rebeldes se uniram na luta por seus interesses, sentindo que a região árida vinha sendo negligenciada pelo governo do presidente Omar Hassan Ahmand al-Bashir. Ele é da etnia árabe, que mantém a hegemonia na nação,tendo forçado a islamização do país. No norte, onde os árabes são maioria, vigora a sharia, a impiedosa lei islâmica.

Mas os rebeldes do oeste também são muçulmanos, pelo que o conflito não é religioso. A minoria negra cristã ou animista está concentrada no sul do Sudão. Após anos de uma guerra norte-sul sangrenta, de fundo religioso e também motivada por interesses petrolíferos, finalmente chegou-se a um armistício em 2002.