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Merkel, primeira mulher a chefiar governo na Alemanha

22 de novembro de 2005

Cinco anos após assumir comando da União Democrata Cristã, Angela Merkel, filha de pastor protestante na ex-Alemanha Oriental, chega ao poder, à frente de uma grande coalizão entre CDU/CSU e SPD.

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De olho no poderFoto: AP

Eleita com 397 de 611 votos pelo Parlamento alemão, em 22 de novembro de 2005, a democrata-cristã Angela Merkel é a primeira mulher a assumir a chefia do governo na Alemanha. O fato de vir da ex-Alemanha Oriental e coroar desta maneira sua fulminante carreira política reforça o fato de ser um fenômeno na recente história alemã.

Candidata da CDU/CSU ao pleito de 18 de setembro de 2005, ela chega ao cargo de chanceler federal através de um "casamento forçado" com ex-adversários do Partido Social Democrata (SPD). O parceiro predileto de Merkel na coalizão de governo teria sido o Partido Liberal, já aliado no governo de Helmut Kohl, mas a aliança se tornou enviável por não garantir a maioria no Parlamento.

Ainda na noite da eleição, o então chanceler federal, o social-democrata Gerhard Schröder, ignorando o fato de que Merkel ganhara a eleição, embora com margem estreita, negou qualquer possibilidade de seu partido participar de um governo sob a liderança da democrata-cristã.

Segunda chance

CSU Parteitag Edmund Stoiber und Angela Merkel
Stoiber e MerkelFoto: AP

A aventura da União Democrata Cristã (CDU) com Merkel começou no ano 2000, quando o partido enfrentava a pior crise de sua história, decorrente de um escândalo de corrupção e obscuro financiamento da legenda. Nas eleições de 2002, a líder da CDU cedeu a candidatura ao cargo de chanceler federal a Edmund Stoiber, governador da Baviera e presidente da aliada União Social Cristã (CSU). Stoiber perdeu o pleito por estreita margem de votos para Schröder, candidato do SPD em coalizão com o Partido Verde. A derrota dos social-democratas nas eleições estaduais na Renânia do Norte-Vestfália, em maio de 2005, e a moção de confiança solicitada por Schöder no Parlamento representaram nova chance para Merkel.

Antes de ser nomeada candidata à chefia de governo, ela enfrentou resistência dentro do próprio partido. Críticos afirmam que lhe faltam os atributos que, de acordo com estereótipos propagados no país, caracterizam um líder político bem-sucedido: o tempo de aprendizado na ala jovem do partido, uma forte rede de relações, poder incontestável dentro da legenda e, sobretudo, elegância no relacionamento com a mídia.

Alemã-oriental e protestante

Filha de pastor luterano, Angela Merkel nasceu em 17 de julho de 1954, em Hamburgo, mas cresceu em Templin, no Estado de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental (leste do país). Estudou Física em Leipzig, onde trabalhou na Academia das Ciências e fez doutorado. Subiu ao palco da política somente após a derrocada do comunismo, em 1989, como porta-voz do primeiro governo democrático da República Democrática Alemã (RDA), mas teve uma carreira fulminante.

Angela Dorothea Merkel, nascida Kastner, é separada do primeiro marido e casada com o professor de Química Joachim Sauer. Protestante e sem filhos, ela nunca se encaixou no perfil da "velha CDU", dominada por homens católicos do oeste alemão e de raiz conservadora.

A "menina de Kohl"

Bildgalerie Helmut Kohl und Angela Merkel
Ex-chanceler Kohl e sua 'pupila'Foto: dpa

O então chanceler federal Helmut Kohl entregou-lhe o Ministério da Família, Idosos, Mulheres e Juventude, e mais tarde, o do Meio Ambiente, entre 1991 e 1998. A imprensa rotulou-a de "menina de Kohl", insinuando que ela devia seus postos exclusivamente à proteção do então chefe de governo em Berlim. O sucessor de Kohl na presidência da CDU, Wolfgang Schäuble, a indicou para o cargo de secretária-geral do partido. Após o escândalo das doações, Merkel foi escolhida para reerguer a CDU.

Muitas das velhas e novas raposas do partido imaginavam que seria fácil livrar-se dela, depois que ela tivesse feito o trabalho de faxina. Merkel, porém, firmou-se no comando da legenda. Foi a primeira a se distanciar claramente das maracutaias de Kohl e, mais tarde, até conseguiu se reconciliar com o ex-líder democrata-cristão. Merkel não nega suas raízes cristãs.

"Não devemos ocultar que a Europa é profundamente marcada pela tradição judaico-cristã. Em grande parte, a Europa passou pelo Iluminismo. Isso foi uma fase importantíssima também no desenvolvimento do Cristianismo", diz.

A derrota de Stoiber para Schöder em 2002 acabou fortalecendo Merkel, que passou a acumular a presidência de seu partido e a liderança da bancada conjunta da CDU/CSU no Bundestag (câmara baixa do Parlamento). Seus concorrentes tiveram de reconhecer que a "menina de Kohl" é extremamente autoconfiante e decidida no jogo do poder.

Todos os chanceleres federais do pós-guerra

  • 1949–1963 – Konrad Adenauer (CDU)
  • 1963–1966 – Ludwig Erhard (CDU)
  • 1966–1969 – Kurt Georg Kiesinger (CDU)
  • 1969–1974 – Willy Brandt (SPD)
  • 1974–1982 – Helmut Schmidt (SPD)
  • 1982–1998 – Helmut Kohl (CDU)
  • 1998–2005 – Gerhard Schröder (SPD)
  • 2005–? – Angela Merkel (CDU)