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Mercosul com presença forte na Anuga

Liliane Corrêa14 de outubro de 2003

Empresas brasileiras participam da Feira Internacional de Comércio de Alimentos e Bebidas em Colônia e se empenham para melhorar sua imagem e incrementar as exportações.

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Anuga 2003: Feira de Alimentos em ColôniaFoto: Presse

A Feira Internacional de Comércio de Alimentos e Bebidas Anuga, que está sendo realizada de 11 a 15 de outubro na cidade de Colônia, trouxe este ano cerca de 6000 empresas de 93 países e veio com uma novidade: foi dividida em dez feiras temáticas – que abordam, entre outros, alimentação fina e dietética, bebidas, congelados, fast-food, frutas, franchising, derivados do leite, verduras e produtos naturais - e tem como foco principal os alimentos orgânicos. Divididas em duas frentes, Mercosul e Brasil, cerca de 87 empresas brasileiras dividem-se por 1790 m² apetitosamente decorados, à procura de chances, parceiros, encomendas.

Entre os destaques puramente brasileiros, está a marca "Brazilian beef", fruto da parceria entre o Ministério da Agricultura, a Agência de Promoção de Exportações (Apex) e a Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação (Abia), que visam estimular a exportação de carne bovina brasileira. Nada mais adequado, já que o mercado alemão de alimentos é liderado pelo setor de carnes, com 19% do mercado, seguido pelos setores de derivados de leite com 16%, cervejarias e destilarias com 11%, doces com 9% e panificados com 8%.

Mercosul em presença histórica

A presença do Mercosul na Anuga é quase histórica, ressaltou em entrevista à DW-WORLD David Silveira da Mota Neto, chefe da Divisão de Informação Comercial da Brazil Trade Net, subordinada ao Ministério das Relações Exteriores: pela primeira vez o bloco aparece, numa feira internacional, como instituição coesa, em vez de em estandes separados. Mota Neto enfatiza que padrões fitossanitários não são mais barreiras à exportação. O que dificulta ainda, porém, é a falta de tradição exportadora e os encargos fiscais impostos pelos países europeus.

Na Anuga, Paraguai e Argentina estavam bem representados por diplomatas e promotores comerciais. O Uruguai mostrou a que veio, ao apresentar um conceito de marketing poderoso, mostrando a excepcionalidade de sua carne dentro dos padrões orgânicos que o mercado europeu exige e valoriza. O Brasil, por seu tamanho e peso comparativo no bloco, pôde variar e inovar na abordagem de seus produtos. Vinte e oito pequenas e médias empresas, que tiveram seu espaço na feira financiado pelo Itamaraty, trabalharam intensiva e corajosamente um leque amplo de produtos com qualidade internacional, desde mel com café até carne de coelho.

Exportações Brasil-Alemanha

Segundo dados da Câmara de Comércio e Indústria Brasil- Alemanha, o Brasil exportou para a Alemanha, em 2002, US$ 3,5 bilhões, dos quais cerca de um terço refere-se, entre outros, a carnes, frutas e café. Em contrapartida, a Alemanha exportou US$ 4,5 bilhões para o Brasil, no entanto em máquinas, motores, tecnologia e autopeças. A participação brasileira na Anuga é um passo na direção de o Brasil deixar de ser apenas em teoria o "celeiro do mundo", para tornar-se lenta e sustentadamente um exportador de produtos com maior valor agregado.

O Mercosul tenta com sua apresentação na Anuga fortalecer a sua nova identidade internacional como bloco comercial. Procura, trabalhando sua imagem, mostrar-se à altura dos parceiros europeus em termos de qualidade, preços e produtos, fazer contatos e plantar boas sementes para futuras parcerias. As pequenas e médias empresas tentam sobretudo descobrir de que massa é feita o mercado alemão. Mas entre mostrar um produto e realmente vendê-lo, o caminho pode ser longo e tortuoso quando se trata de empresas de menor porte.

Custos altos, preços baixos e espaços pequenos

Colocar uma mercadoria nova no mercado europeu não é fácil nem barato. A começar pelo preço menor de introdução, que ajuda um produto sem marca forte a ser conhecido e reconhecido como opção. Novos custos são acrescentados a estes: num supermercado tem de se alugar o local de exposição, que encarece dependendo do privilégio de sua localização. É preciso também cuidar para que os produtos estejam sempre com data de validade correta, bem organizados, repostos e bem expostos na prateleira. Tudo isto, aliado a custos de promoção do produtos no local e outros custos extras que o supermercado exige.

As grandes redes de supermercado alemãs, especialmente as que se destacam por preços mais acessíveis, trabalham com poucas marcas: compram somente de 3600 produtores dos 5917 existentes, dos quais apenas alguns são estrangeiros. Para que seus preços sejam baixos o suficiente, negociam somente com quem pode oferecer mercadorias a preços inferiores, o que não inclui normalmente os pequenos produtores nacionais, tampouco os estrangeiros.

Além disto, as leis de utilização do espaço dos supermercados são bem rígidas: um supermercado só existe a partir de 2000 m², e esta área é também rigidamente limitada em suas possibilidades de uso. Na prateleira de um supermercado de descontos, ou supermercado barato, por exemplo, cabem apenas 1200 produtos, o que limita a variedade de marcas à disposição do consumidor. Isto é apenas uma parte das barreiras que os brasileiros têm pela frente.

Peculiaridades do mercado alemão

A introdução de um produto novo – e "novo" não quer dizer somente inovador, mas sim, e principalmente, desconhecido dos europeus - no mercado alemão traz consigo novos obstáculos: os costumes diferentes, os gostos específicos do povo e de cada região, bem como os altíssimos padrões de qualidade exigidos pela legislação. Os expositores brasileiros na Anuga têm de ter tudo isto em vista e ainda por cima competir com cerca de 2000 produtos alimentícios novos por ano lançados no mercado.

Outro dos grandes problemas com que as empresas brasileiras se deparam é a crença de que os europeus, pelo peso de sua moeda, engolem preços absurdos, o que não corresponde à realidade. As leis de exportação e os impostos alemães são também grandes pontos de interrogação para a maioria das pequenas e médias empresas, que precisam de treinamento e preparo para que sua experiência no exterior traga o máximo de lucros e o mínimo de dor de cabeça. Os empresários costumam contratar traders e gastar com eles um boa soma, sem saber que o Itamaraty lhes dá suporte gratuito sob a forma de matchmaking e de pesquisas de mercado.

Os brasileiros, que certamente desembolsaram um bom dinheiro para fazer parte da Anuga, devem aproveitar a oportunidade para firmar bons contatos com os compradores e produtores alemães. Porém, toda aliança duradoura implica na estratégia de, sobre bases comuns e uma boa dose de paciência, achar a melhor sinergia. Se depender da presença brasileira na Anuga, os empresários estão mais do que prontos para o desafio.