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Melitta: no princípio era o pó

Augusto Valente25 de abril de 2004

A multinacional Melitta começou num quartinho do Leste alemão, no início do século 20. Hoje tem fábricas em 14 países e sua linha de produtos vai muito além de coadores de papel para café.

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Café é uma das bebidas prediletas dos alemãesFoto: AP

Foram precisos 300 anos de degustação do café na Europa para que uma dona de casa de Dresden chegasse a uma idéia tão simples quanto genial, e que revolucionaria a preparação da aromática bebida em todo o mundo.

Era o ano de 1908 e Melitta Benz fazia café. Como ditava a prática da época, o pó era escaldado e precisava descansar, até poder ser servido. A borra, que mesmo assim ficava no fundo da xícara, incomodava tanto a Sra. Benz, que a inspirou a uma invenção.

Com martelo e prego, ela fez furos numa panela cilíndrica de latão, forrou o fundo com um círculo de papel mata-borrão, tirado do caderno de seu filho mais velho. Pó de café, água fervente por cima, e estava criado o primeiro filtro Melitta.

A partir daqui há duas versões da história: numa, a diligente senhora patenteia a invenção e funda sua firma num pequeno quarto. Na outra, o Sr. Benz – que aliás haveria dado a faísca primeira à invenção, reclamando do café da esposa – é quem assume o aperfeiçoamento do produto e a criação da empresa. Seja como for, hoje a Melitta é administrada por três netos da criativa dona de casa.

Um coador muda o mundo

A invenção evoluiu e conquistou o mundo: em 1925 adotou-se a típica embalagem vermelha e verde, que em 1929 já era exportada. Em 1932 se utilizam folhas de papel quadradas, em conjunção com o suporte cônico. Cinco anos mais tarde o corpo dos filtros toma a forma de "V", com os coadores correspondentes. Assim, o aroma podia expandir-se, sem a liberação excessiva de substâncias amargas. E – argumento importantíssimo na época – assim se economizava o precioso pó negro.

À medida que aumentava a popularidade dessa nova forma de fazer café, a fabricação precisou ser automatizada. As primeiras máquinas semi-automáticas produziam no fim do dia 140 filtros de papel, contra cerca de três mil dos modelos atuais, naturalmente controlados por computador. Em todo o mundo, isso significa 90 milhões de novos coadores a cada dia.

Isso não é tudo: em 1962 a empresa entrou na venda de café, que agora perfaz 30% de seu faturamento. Desde 1966 ela mantém uma torrefação em Bremen, no norte da Alemanha, que torra os grãos segundo o gosto nacional. Suas fábricas no Brasil preparam o café de modo totalmente diferente, enquanto o mercado norte-americano prefere o café aromatizado com baunilha, uísque ou até essências mais exóticas, como a de melão.

Para além do filtro de papel

A multinacional está presente em 110 países. Em 14 deles ela mantém fábricas, empregando um total de 3500 funcionários. Entre estes conta o Brasil: os miraculosos saquinhos de papel chegaram ao país em 1968. Em 2003, ao completar 25 anos, a Melitta do Brasil dominava 53% do mercado nacional de filtros de café. Com boas possibilidades de expansão, já que 40% da população brasileira ainda utiliza os menos higiênicos coadores de pano.

A empresa se gaba de aprimorar seus produtos a cada dois anos . Na última década, os famosos filtros sofreram duas importantes modificações: a introdução dos microfuros e as costuras duplas. Estas tornam os coadores bem mais resistentes, sendo praticamente impossível o saquinho se romper, precipitando a borra no café fresquinho.

A palheta de produtos da Melitta inclui máquinas de fazer café, domésticas ou para gastronomia, sacos de lixo e para aspirador de pó, filme plástico e papel-alumínio para a cozinha e muito mais. Alguns de seus produtos – como a linha de louça para café – são respeitados pelos designers e avidamente cobiçados pelos colecionadores.

E pensar que tudo começou com o amargo do café!