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Max Ernst

18 de maio de 2010

As 184 colagens ironizavam os costumes burgueses do início do século 20. E impressionam pela precisão com que foram produzidas.

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Édipo, de Max ErnstFoto: Max Ernst

Até pouco tempo, a série Uma Semana de Bondade era vista como pueris estudos artísticos do pintor, escultor e poeta alemão Max Ernst (1891-1976). Em 2008, porém, os trabalhos começaram a ser expostos em importantes instituições culturais da Europa, como a Fundación Mapfre, em Madrid, e o Musée d'Orsay, em Paris.

Desde então, a percepção da crítica especializada mudou. Foi preciso admitir: trata-se de trabalhos importantes para se entender a habilidade técnica de Ernst e as principais características do movimento artístico que ele ajudou a fundar, o Dadaísmo.

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A Chave das Canções e A Corte do DragãoFoto: Max Ernst

Em cartaz até 18 de julho no Museu de Arte de São Paulo (Masp), a mostra já recebeu cerca de 50 mil pessoas, e certamente será a mais visitada dentre tantas outras exibidas no local no primeiro semestre desse ano.

Teixeira Coelho, o curador do Masp, aposta que o sucesso se dá por uma razão que perpassa o fato de Ernst ser um nome internacionamente conhecido na história da arte. "É curioso reparar no público dessa exposição. Eles se aproximam dos trabalhos e custam a acreditar que o artista conseguiu um resultado tão impressionante usando um recurso trivial”, observa.

Coelho refere-se ao fato de os 184 trabalhos expostos serem, na verdade, colagens de desenhos de revistas, jornais e livros populares franceses dos séculos 18 e 19. Ernst cortava imagens de seres humanos, peixes, aves, leões, além de cenários diversos. Em seguida, organizava-as criando situações tão inusitadas como homens com rostos de leões bebendo vinho e mulheres aladas em momentos de oração.

Num primeiro olhar, é praticamente impossível constatar que os quadros são colagens. Ernst recortou e colou as figuras com tamanha destreza que, anos mais tarde, assumiu quase ter enlouquecido durante a confecção dos trabalhos. Escreveu: “foi um esforço obsessivo em criar o surreal mais realista já visto”.

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O Leão de BelfortFoto: Max Ernst

Primeiras reações negativas

Divididas por dias da semana, as obras foram lançadas em livros em 1934. Dois anos mais tarde, a primeira exposição dos trabalhos aconteceu na Biblioteca Nacional de Madrid, onde hoje é o Museu Nacional de Arte Moderna. Como já esperava o artista, a exibição causou polêmica.

A Igreja Católica considerou a série uma blasfêmia, já que alguns trabalhos possuem referências ao livro bíblico de Gênesis. Por esse motivo, cinco das colagens não foram exibidas na época. Além disso, as misturas de homens com animais em cenários tipicamente burgueses foram interpretadas como uma crítica às convenções sociais da Europa do período entre guerras. Devido às reações negativas, as obras ficaram guardadas por mais de 70 anos na casa do colecionador francês Daniel Fillipacchi e só agora voltam a receber a atenção que sempre mereceram.

Papel fundamental para a arte

A exposição desses trabalhos poucos conhecidos de Ernst lembra o papel fundamental que o artista teve para a arte do século 20. Nascido em Brühl, no oeste da Alemanha, ele estudou na Universidade de Bonn, mas não chegou a completar o curso de filosofia. Mesmo nunca tendo feito um único curso de pintura, foi autor de telas importante como L'Ange du Foyer (1937), um multicolorido dragão pintado de forma tão fluida que mais parece um emaranhado de tecidos.

Ao lado do artista Jean Arp, Ernst fundou em Colônia o grupo dadaísta alemão. Em seguida, aproximou-se de nomes importantes do movimento como André Breton, Gala Dalí e Paul Éluard. Como a maioria do grupo, ele defendia que a arte precisava repudiar qualquer tipo de lógica, o chamado nonsense.

Por conta do nazismo, mudou-se para os Estados Unidos, onde teve fundamental importância para transformar Nova York numa metrópole cultural tão importante como Paris havia sido nas décadas passadas.

Ernst produziu pinturas, esculturas e transformou objetos cotidianos em arte. A série exposta atualmente no Masp se enquadra nessa terceira categoria. E, em tempos em que a arte avança para direções até então pouco exploradas, não é exagero afirmar que Ernst foi um visionário. No simples ato de recortar e colar, enxergou uma manifestação artística.

Autor: Bruno Moreschi
Revisão: Rodrigo Rimon