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Marchando na Páscoa contra a guerra

av17 de abril de 2003

O slogan deste ano das tradicionais Marchas de Páscoa – "Por um mundo em paz. Direito internacional em vez de bombas" – revela a preocupação central dos pacifistas alemães: a guerra no Iraque.

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As marchas pela paz têm décadas de históriaFoto: AP

Os organizadores prevêem que o ensejo atual revitalizará o evento. Estão programadas manifestações em cerca de 100 localidades em todo o país, com a presença de figuras como o ex-líder social-democrata Oskar Lafontaine e o psicanalista Horst-Eberhard Richter. No ano passado, milhares de pessoas foram às ruas, em 70 cidades.

Os protestos tomarão as formas mais diversas. Já na Sexta-feira Santa (18), haverá em Leipzig uma passeata de ciclistas e um culto religioso na base aérea norte-americana de Frankfurt. As Marchas de Páscoa estendem-se até a segunda-feira, que é feriado no país.

Histórico de altos e baixos

Até início da década de 80, as passeatas pascais eram data sagrada para todos os adeptos do movimento pela paz, mobilizando centenas de milhares. Seu auge se deu na luta contra o estacionamento de mísseis americanos da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) na Alemanha.

Nos últimos anos, elas perderam sensivelmente o impacto. As exceções deveram-se a ações militares de grande porte: a guerra no Golfo Pérsico, em 1991, ou a intervenção aérea da Otan na Iugoslávia e a presença alemã em Kosovo, em 1999, mobilizaram grande número de pacifistas na Alemanha. Porém, já em 2000, a participação limitou-se a alguns milhares de manifestantes.

O ciclo dos protestos

Para Wili von Oyen, porta-voz do Comitê Central das Marchas de Páscoa, há um elemento cíclico nessas oscilações de interesse: "Depende da ênfase a cada ano, e há também os acentos regionais. Agora é o 'bombódromo' no Oriente Médio, já foram os pontos de exercícios militares, o estacionamento de mísseis, ou a Guerra do Golfo de 1990-91."

Este ano o alvo principal será claramente a política dos Estados Unidos e Grã-Bretanha. Além disso, é necessário propagar um novo relacionamento com o Islã, ressalta Manfred Stenner, da rede Friedenskooperative (Cooperativa da Paz):"Os países islâmicos não devem ficar com a impressão de que todo o Ocidente está em guerra contra eles".

Apesar do contentamento básico com a postura reservada do premiê Gerhard Schröder, Berlim não será poupado de críticas, diz Oyen: "O governo federal está em vias de criar uma potência militar européia, pronta a decidir sobre a guerra no mundo inteiro. E isto é um grande perigo". Afinal, uma das máximas do movimento pela paz é considerar a guerra um instrumento político inadequado, que jamais substituirá a convivência realmente inteligente.

45 anos de pacifismo nas ruas

Em 1958, o filósofo e matemático inglês Bertrand Russell (1872-1970) promoveu uma passeata de Londres ao Centro de Pesquisa de Armas Atômicas de Aldermaston, o que é tido como o germe das Marchas de Páscoa. Apenas bem mais tarde pôde-se avaliar quão progressista – e até mesmo profética – fora esta iniciativa contra o armamento nuclear. O exemplo britânico foi seguido por outras nações, e dois anos mais tarde as marchas chegavam à Alemanha, reunindo sobretudo os adeptos de um pacifismo de caráter ético-religioso. No final da década de 60, o número dos participantes alcançou os 150.000, motivados em parte pela Guerra do Vietnã.

As manifestações antibélicas anuais tornaram-se um cadinho para as mais diferentes tendências políticas. Dentre estas, o Partido Comunista Alemão (DKP) – financiado pelo governo da República Democrática Alemã –, cuja crescente influência sobre o evento provocou fricção. Após a violenta repressão da Primavera de Praga, em 1968, por tropas do Pacto de Varsóvia, as Marchas de Páscoa foram temporariamente suspensas na República Federal da Alemanha.

Somente em 1979 o movimento foi reativado. O ensejo fora a decisão da Otan de estacionar na Alemanha mísseis norte-americanos de médio alcance, em resposta aos mísseis SS-20 que a União Soviética apontava para a Europa Ocidental. O impulso manteve-se até o início da década de 90. Após a Guerra do Golfo, diminuiu o medo da ameaça nuclear, o que drenou consideravelmente a energia das marchas pela paz.