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"Maduro ficará mais radical contra oposição"

Benjamin Bathke rk
2 de agosto de 2017

Antonietta Ledezma diz temer pelo destino do pai, líder opositor detido nesta semana, por saber do que presidente venezuelano é capaz. Em entrevista, ela afirma que Maduro "sabe que seus dias no poder estão contados".

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Antonietta Ledezma
"Temo pela saúde física e psíquica do meu pai", disse Antonietta Ledezma em entrevista à DWFoto: picture alliance/dpa/NurPhoto/J. Reinhart

Ainda não há informações sobre o paradeiro dos líderes oposicionistas venezuelanos Leopoldo López e Antonio Ledezma, detidos na madrugada desta terça-feira (01/08). No último fim de semana, os dois apelaram para que a população do país boicotasse a eleição da Assembleia Constituinte, convocada pelo presidente Nicolás Maduro e marcada por violência.

López e Ledezma, que até o momento de sua detenção estavam em prisão domiciliar, são dois dos políticos da oposição mais conhecidos da Venezuela. A prisão deles suscitou diversas críticas internacionais.

Os Estados Unidos expressaram preocupação com as prisões e anunciaram sanções contra Maduro: seus bens nos EUA deverão ser congelados e cidadãos americanos foram proibidos de realizar negócios com o governante venezuelano. A União Europeia e as Nações Unidas também condenaram a ação das autoridades venezuelanas, que justificaram a detenção por "risco de fuga".

Um dia após a prisão, a DW entrevistou a filha de Ledezma, ex-prefeito de Caracas. Por motivos de segurança, Antonietta Ledezma vive em Madri há um ano.

"Temo pela saúde física e psíquica do meu pai. Tenho medo, porque sei do que Maduro é capaz", disse a filha do dissidente, que acredita que o presidente venezuelano adotará medidas mais radicais contra a oposição. "Ele sabe que seus dias à frente do poder estão contados. Ele sabe que a maioria da população está contra ele – estamos falando de 80% que não o apoiam", afirmou.

DW: Seu pai estava em prisão domiciliar e foi detido na madrugada de terça-feira. Você pode descrever o que aconteceu exatamente?

Antonietta Ledezma: Meu pai está preso há dois anos e meio. Primeiro, ficou detido numa prisão militar; por motivos de saúde, obteve a permissão de passar para a prisão domiciliar em fevereiro de 2016.

Na segunda-feira, às 20h30, ele divulgou um apelo ao povo venezuelano para que protestasse pacificamente nas ruas. Quatro horas depois, a polícia política apareceu e sumiu com ele. Eles simplesmente apareceram, sem mandado de prisão ou coisa parecida, e o sequestraram. No momento, não sabemos onde ele está.

O presidente Nicolás Maduro simplesmente mandou sequestrá-lo. Se isso pode acontecer com um prefeito eleito [Ledezma foi eleito prefeito de Caracas em 2008 e destituído do cargo em 2015], dá para imaginar o que pode acontecer com outras pessoas.

Meu pai criticou a situação na Venezuela [após a eleição da Assembleia Constituinte realizada no último domingo]. E isso foi motivo suficiente para Maduro fazer com que ele voltasse à prisão. Eu nem sei em que prisão ele está – eu não sei nada.

Líder oposicionista Leopoldo López
Líder oposicionista Leopoldo López também foi preso esta semana após convocar protestos contra Assembleia Constituinte convocada por MaduroFoto: Imago/PanoramiC

Você tem medo de que seu pai esteja sendo torturado?

Eu nem quero imaginar o que poderia acontecer com o meu pai. Mas ele sempre me ensinou a ser forte, também em períodos muito obscuros. E eu sei que, quanto mais forte a opressão, mais perto está o fim do pesadelo.

Eu tenho muito medo pela saúde física e psíquica do meu pai. Meu pai é o homem mais forte que eu conheço e eu sei que ele tem coragem e força suficientes para aguentar o que essa ditadura vai fazer com ele. Mas tenho medo, porque sei do que Maduro é capaz.

O que acha que está por trás da detenção do seu pai?

Maduro tem medo do meu pai e de pessoas como ele, que falam ao povo venezuelano e o convocam a não desistir, a dar continuidade à luta pacífica nas ruas. Eu acho que ele sabe que os venezuelanos respeitam o meu pai e lhe dão ouvidos. Essa é mais uma tentativa de isolar o meu pai, de fazê-lo se calar.

O que isso significa para a oposição? Você acredita que, assim, ela vai se calar, ou irá às ruas fortalecida?

Mais do que nunca, a oposição sabe que a única possibilidade de enfrentar a ditadura é ir às ruas, protestar e não permitir que Maduro nos cale. Ele já tirou a nossa liberdade, mas ele nunca tirará a nossa dignidade e a nossa força, a nossa vontade de lutar pela liberdade. Mais do que nunca, a oposição vai lutar – não só pela liberdade do meu pai e de outros presos políticos, mas pela liberdade do país inteiro.

Líder oposicionista Antonio Ledezma
Ex-prefeito de Caracas, Ledezma estava em prisão domiciliar até ser detidoFoto: Imago/Zumapress

Você está na capital espanhola, Madri. O que pode fazer a partir daí?

Neste momento, precisamos de apoio internacional. Estamos conversando com a imprensa internacional para divulgar o que está acontecendo na Venezuela. Estamos falando de mais de 500 presos políticos. Estamos falando de uma taxa de inflação que sobe constantemente, num país em que as pessoas estão morrendo de fome nas ruas.

Eu não estou falando apenas do meu pai. Falo da crise humanitária, política e social que estamos vivendo, a pior de nossa história. Portanto, vou continuar denunciando a situação na Venezuela a partir de Madri ou de onde eu estiver. Eu tenho a intenção de voltar logo para casa para ver com meus próprios olhos o que está acontecendo com meu pai – porque não acredito em mais nada que vem do governo.

Maduro vai fortalecer a posição dele, aproximando a Venezuela de uma ditadura?

Ele já aproximou a Venezuela de uma ditadura há muito tempo. Ele é um ditador desde que assumiu o poder, em 2013. Para os venezuelanos, isso não é novidade. E eu acredito que ele ficará mais radical porque ele sabe que os seus dias à frente do poder estão contados. Ele sabe que a maioria da população está contra ele – estamos falando de 80% que não o apoiam. Maduro sabe disso e age de forma cada vez mais radical. Agora é a nossa vez de sermos mais fortes do que nunca e de fazermos esses sacrifícios terríveis, se quisermos viver num país livre.

Você tem uma mensagem pessoal para Maduro?

Maduro precisa saber que vamos nos defender, não importa o quanto ele nos oprima. Eu quero que ele saiba que ele – e somente ele – é o responsável pelo destino do meu pai, e que o povo venezuelano não descansará. Pelo contrário: lutamos todos os dias com mais força e mais coragem, com a consciência de que, mesmo vivendo o período mais sombrio da nossa história, estamos nos aproximando cada vez mais de uma vida num país livre.