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Lübeck: mar de tijolos vermelhos de uma potência medieval

Geraldo Hoffmann13 de agosto de 2005

Patrimônio cultural da humanidade, a cidade natal dos escritores Heinrich e Thomas Mann, no norte Alemanha, tem um passado de potência comercial e uma fascinante arquitetura medieval.

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Holstentor, cartão postal de LübeckFoto: Stadt Lübeck

"Lübeck inteira é uma atração turística." A publicidade das prefeituras alemãs na disputa por turistas, às vezes, exagera, mas no caso de Lübeck parece ter razão. São raras as ruas, becos e construções desta cidade de 214 mil habitantes, no Estado de Schleswig-Holstein, que não têm história e estórias para contar.

A começar pelo Holstentor, o portão de entrada para o centro histórico. Cartão-postal da cidade, ele é o símbolo do poder de Lübeck na Idade Média como "rainha da Hansa" – uma aliança comercial e política que chegou a derrotar impérios. Uma exposição permanente no interior do Holstentor, dedicada à profissão do comerciante, mostra como a cidade se tornou potência medieval.

Salzspeicher Lübeck
Depósitos de sal, 'o ouro branco do norte'Foto: Lübeck Travemünde Tourismus

Ao lado do portão, ficam os antigos depósitos de sal. Extraído das salinas de Lineburg, o "ouro branco do norte" chegava a Lübeck pelo Rio Trave e era despachado por navio, depois de ser trocado por peles e peixes da Escandinávia. O porto-museu, ancoradouro de 20 veleiros históricos ainda em atividade, lembra o período áureo dessa atividade comercial. Vários pequenos portos ao redor da cidade (que é uma ilha) hoje oferecem passeios fluviais em troca do euro dos turistas.

O esplendor e poder também são exibidos pelas torres "gigantes" da prefeitura, construída em tijolos vermelho-escuros. A cor do material vem de uma complicada mistura de sangue de boi com cinza e outros ingredientes "secretos", diz o guia da cidade.

Os Mann e as marionetes

Buddenbrookhaus zu Lübeck
Buddenbrookhaus, onde ficção e realidade se fundemFoto: Lübeck Travemünde Tourismus

Próximo à prefeitura se encontra a casa que virou título de romance e deu fama mundial a Lübeck: a Buddenbrookhaus (na Mengenstrasse), que lembra os filhos mais ilustres da cidade, os escritores Heinrich e Thomas Mann, e os Buddenbrook. O mundo dessa dinastia artística é exposto em dois andares do prédio, através de material fotográfico e fontes contemporâneas.

Ali ficção e realidade se fundem: móveis antigos e um teatro de marionetes ainda estão lá, como se os Buddenbrook do romance que rendeu o Prêmio Nobel de Literatura a Thomas Mann (1875–1955) tivessem acabado de sair de casa. Nos bastidores, um arquivo convida pesquisadores a vasculhar a história e a obra dos Mann.

Apresentações de teatro de marionetes para crianças e adultos acontecem na rua Kolk, num museu dedicado a essa arte. O artista Fritz Fey começou a esculpir as cabeças dos bonecos em madeira em 1945, num hospital de campanha. O Marionettentheater de Lübeck alcançou tanta fama que, desde os anos 60 do século passado, faz turnês internacionais.

Casa Günter Grass

Günter Grass Haus Innenhof, Lübeck
Pátio da Casa Günter Grass: o escritor mora desde o final de 1995 na cidadeFoto: Lübeck Travemünde Tourismus

Uma das atrações mais recentes de Lübeck é dedicada a outra estrela da literatura alemã: a Casa Günter Grass. Nem todos os leitores do autor de O Tambor sabem que ele também é um talentoso escultor e gravador.

Inaugurada em outubro de 2002, por ocasião do 75º aniversário do Nobel de Literatura (que mora na cidade desde o final de 1995), a casa situada na Glockengiesserstrasse apresenta uma exposição de manuscritos, gravuras e esculturas de Grass, além de ser fórum de literatura e belas-artes. E oferece a bebida ideal para acompanhar a leitura de Um campo vasto ou Em passo de caranguejo: o vinho Günter Grass.

>> Leia a seguir: Progresso social e patrimônio da humanidade

Progresso social

A poucos passos da Casa Günter Grass fica o Heiligen Geist Hospital, uma das primeiras instituições sociais da Europa e prova do progresso que Lübeck havia atingido nessa área já na Idade Média. Além de cinco imponentes igrejas e vários mosteiros, os moradores da cidade construíram esse hospital-asilo que, de 1286 a 1970, abrigou doentes e idosos.

Os 170 quartos não passavam de cubículos (chamados Kabäusterchen), mas eram sempre cobiçados. O hospital testemunha também que a igualdade de direitos chegou relativamente tarde a Lübeck: até o início do século 20, os pequenos quartos dos homens eram aquecidos, enquanto as mulheres, no outro lado do corredor, passavam frio.

Heiligen-Geist-Hospital in Lübeck
Heiligen Geist Hospital, uma das primeiras instituições sociais da EuropaFoto: Stadt Lübeck

Parte do prédio ainda hoje é habitada por idosos e por uma congregação religiosa. No porão, funcionam uma adega e um restaurante, cuja especialidade são pratos à base de batata.

Já o Burgkloster, um dos maiores mosteiros medievais do norte da Alemanha, tem cicatrizes da desigualdade social e do terror, ao qual a cidade não escapou. Construído em 1227, foi transformado em "casa dos pobres" depois da Reforma Protestante e, a partir do século 19, virou cadeia pública. Durante o Terceiro Reich, os nazistas o utilizaram como prisão para judeus, integrantes da resistência e líderes religiosos.

No chão da Marienkirche (Igreja de Santa Maria), vê-se uma dura lembrança da Segunda Guerra: os sinos da igreja despencados pelos bombardeios. Os habitantes mantiveram os estilhaços de onde os sinos caíram com uma tábua onde está escrito: "Em sinal de protesto contra a guerra e a violência".

Patrimônio da humanidade

Luftbild Lübecker Altstadt
Vista aérea do centro histórico de Lübeck: patrimônio cultural da humanidadeFoto: Lübeck Travemünde Tourismus

Depois de ser arrasada na Segunda Guerra Mundial, Lübeck foi totalmente reconstruída e, em 1987, incluída na lista do patrimônio da humanidade pela Unesco. Uma vista panorâmica do centro histórico, com suas residências aristocráticas dos séculos 15 e 16, monumentos públicos, igrejas e depósitos de sal, e seus milhões de tijolos e telhas vermelhas tem-se da torre da Peterskirche.

Pode-se passar pelo menos dois dias em Lübeck sem enfrentar tédio por falta do que fazer. Além das "grandes" atrações e de vários museus, vale a pena caminhar pelos inúmeros becos da cidade. Mas, cuidado: algumas entradas são tão apertadas que é preciso se encolher. Nos meses de verão, pode-se ainda ir à praia de Travemünde (Mar do Norte) e visitar o Sand World, um maravilhoso mundo de esculturas em areia, a cerca de 15 km do centro.

Como a "rainha da Hansa" está situada fora das rotas de turismo de massa, os custos de hospedagem ainda são razoáveis. Há também uma boa variedade de restaurantes com preços acessíveis, como o típico Schiffergesellschaft. E, para quem gosta de doces (ou quer levar um souvenir doce para casa), um endereço imperdível: o Café Niederegger, dentro de uma confeitaria-museu de marzipã, em frente à prefeitura.

Também esta especialidade de Lübeck, exportada para todo o mundo, tem uma história interessante. Em 1407, grassava a fome na cidade. Como as reservas de cereais tinham acabado, o governo encarregou os padeiros de fazer pão de amêndoas – o marzipã.