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Lixo debaixo do tapete na campanha eleitoral

Estelina Farias19 de setembro de 2002

Malas cheias de dinheiro, contas na Suíça, doações ilegais e venda suspeita de tanques abalaram a credibilidade dos políticos alemães. Mas o tema corrupção foi varrido para debaixo do tapete na campanha eleitoral.

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Ministro da Defesa, Rudolf Scharping (centro) recebeu dinheiro de lobista por memórias que não escreveuFoto: AP

Nenhum partido ousou atirar a primeira pedra na campanha para a eleição do novo Parlamento da Alemanha neste domingo (22). Todos têm telhado de vidro. Depois de um mea culpa, mea maxima culpa, alguns se retiraram da política de forma melancólica, como o ex-chanceler federal democrata-cristão Helmut Kohl, o neocomunista Gregor Gysi e o verde Cem Özdemir. O chanceler federal e candidato à reeleição Gerhard Schröder demitiu o seu ministro da Defesa, Rudolf Scharping, por ter recebido honorários de um lobista da indústria bélica, a titulo de remuneração por bons conselhos, e 80 mil euros por suas memórias que não sabe quando escreverá. Scharping é vice-presidente do Partido Social-Democrático (SPD), presidido por Schröder.

"Eu me permiti um erro que não poderia cometer, mas como cometi, assumo as conseqüências". Assim o ex-presidente e estrela máxima do partido neocomunista PDS, Gysi, anunciou sua renúncia como deputado federal e secretário das Finanças do governo de Berlim, bem como sua retirada da política ativa. Seu erro foi fazer vôos de caráter particular pagos com bônus da Lufthansa adquiridos com viagens a serviço do Estado. Embora dispusesse de uma lista de políticos de todos os partidos que cometeram o mesmo erro, o jornal de maior tiragem nacional, o Bild Zeitung, só divulgou nomes da esquerda.

Modelo para filhos de imigrantes - O deputado verde Özdemir causou verdadeiro choque com a confissão de que contraíra um crédito favorável do mesmo lobista Moritz Hunzinger que molhou a mão do ministro da Defesa. Como primeiro imigrante que entrou para o Parlamento alemão, o jovem de origem turca era exemplar para filhos de imigrantes e sua atuação como porta-voz de política interna do Partido Verde era reconhecida e admirada na Alemanha.

Cem Özdemir
Primeiro imigrante que entrou para o Parlamento alemão, Cem ÖzdemirFoto: AP

Kohl, o enchedor de cofre - Helmut Kohl encontrou os cofres da União Democrata-Cristã (CDU) vazios quando assumiu a sua presidência, em 1973, e passou logo a cuidar pessoalmente do problema, abrindo uma conta secreta na Suíça, segundo o jornal Süddeutsche Zeitung. Até 1999, fluíram 20 milhões de marcos (10 milhões de euros) para a conta clandestina da CDU. Por causa da prática ilegal, o presidente do Parlamento, Wolfgang Thierse, aplicou multas de mais de 41 milhões de marcos à CDU, contra as quais o partido continua lutando na Justiça. O próprio Kohl admitiu ter depositado dois milhões de marcos de doações anônimas na Suíça e até hoje não revelou os nomes dos doadores, sob alegação de cumprir sua palavra de honra de jamais os mencionar.

CDU Parteitag mit Helmut Kohl
Helmut Kohl deixa a política, mas mantém doadores no anonimatoFoto: AP

Kohl preferiu violar o juramento à Constituição, que fez quando assumiu a chefia do governo, em 1982, cargo que acumulou com a presidência do seu partido. O governo autorizou a exportação de 36 tanques Fuchs à Arábia Saudita, embora a legislação proíba fornecimentos de armas para países em conflito.

Dossiê tem perna -

O negócio dos tanques, que são objeto de prestígio das Forças Armadas alemãs por serem cobiçados internacionalmente, foi muito suspeito. Contudo, até hoje não pôde ser comprovado se fluiu dinheiro em forma de propina ou doações ao partido de Kohl para facilitar a transação. Fato é que documentos e dossiês sobre o negócio com os sauditas desapareceram quando Kohl deixou o governo em 1998.

Corrupção do lixo

- O SPD de Schröder também teve contas secretas na Suíça, para as quais fluíram mais de meio milhão de marcos, entre 1994 e 1998. Esse dinheiro era parte das propinas e doações ilegais ao diretório dos social-democratas em Colônia, com as quais várias firmas influenciaram decisões políticas locais, como a construção de um centro de incineração de lixo. O escândalo custou a carreira de vários políticos da cidade. As figuras-chave foram presas e libertadas mediante pagamento de fiança, sendo a maior de 100 milhões de euros pagas por um empresário.

Bode expiatório

- A fama de homem limpo do concorrente de Schröder, Edmund Stoiber, também foi respingada pelos prejuízos da companhia estatal LWS, do estado que governa, a Baviera. Stoiber empenhou-se pelo engajamento da LWS nos negócios imobiliários nos novos estados alemães da ex-Alemanha Oriental, comunista, em 1991. Seis anos depois, seu secretário de Justiça, Alfred Sauter, chamou atenção para os prejuízos, e quando eles somaram 500 milhões de marcos, dois anos depois, Stoiber usou Sauter como bode expiatório e o demitiu.