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Líder do setor de energia solar alemão luta contra falência

Johanna Schmeller (cn)8 de agosto de 2013

Acionistas definem reestruturação da maior fabricante de células fotovoltaicas da Alemanha para evitar quebra definitiva. Caso evidencia dificuldades enfrentadas por uma indústria pressionada pela concorrência asiática.

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Foto: picture-alliance/dpa

Nuvens carregadas pairam sobre a cidade de Bonn. Apenas o empresário Frank Asbeck, dono da empresa de energia Solarworld, sorri durante a reunião de acionistas que decidiu o futuro daquela que é a obra da sua vida.

Nesta quarta-feira (07/08), os acionistas aprovaram um plano de reestruturação para a maior fabricante de placas fotovoltaicas da Alemanha e livraram – ao menos por enquanto – a empresa da falência.

"Eu avalio a chuva como um sinal positivo. Ela limpa os painéis solares", comenta Asbeck, que, olhando para o céu cinzento, completa: "Finalmente a poeira será removida."

Ele deseja um recomeço. Vestindo uma tradicional jaqueta alemã, Asbeck mais parece um dono de restaurante da Baviera do que o proprietário de um negócio milionário, de dois castelos com vista para o Reno e de um campo de caça.

Em seu auge, a Solarworld valia 5 bilhões de euros. Hoje não vale quase nada. Para salvar a empresa da falência, os credores tiveram que abdicar de mais da metade do seu dinheiro, e as ações foram desvalorizadas em 95%.

"Nós compramos as ações há um ano. Na época achávamos que apoiaríamos um pouco essa empresa", afirma uma acionista.

Altos e baixos

O tom de decepção era recorrente na manhã do encontro. Alguns herdaram ações, outros apostaram na indústria solar. A maioria dos presentes era aposentado. Ninguém estava furioso, mas a decepção era evidente.

Der Vorstandsvorsitzende der Solarworld AG, Frank Asbeck
Asbeck espera um recomeçoFoto: picture-alliance/dpa

"Eu comprei ações porque achava que Asbeck era um empresário inteligente. Agora estou decepcionado", afirma um deles.

Dentro da restruturação aprovada pelo acionistas, quem tinha 150 ações passa a possuir apenas uma. A falência significaria desvalorização total, ou seja, perda completa de capital. Ao comprar os títulos, muitos acharam que, com o investimento, garantiriam a aposentadoria – ou pelo menos um lugar ao sol.

"A ascensão da Solarworld aconteceu numa época em que muitas empresas do ramo de energia solar cresceram", lembra Philippe Welter, redator-chefe da revista Photon.

Em 2000, a chamada Lei da Energia Renovável incentivou a alimentação das redes de eletricidade com energia solar, o que levou a uma grande ampliação no uso de placas fotovoltaicas na Alemanha.

"Na época, a margem de lucro para os fabricantes era muito grande devido à produção insuficiente", diz Welter, que lembra que muitas indústrias solares foram criadas. Mas o mercado em crescimento também atraiu a atenção de empresas do exterior, principalmente dos países asiáticos.

A aventura que começou com uma rápida ascensão terminou em falência e desmantelamento para as empresas alemãs Q-Cells, Solon e Conergy. Grandes nomes, como Bosch e Siemens, abandonaram o setor. Agora, Asbeck espera um recomeço para a Solarworld. Depois da redução no capital da empresa, o Catar investirá 35 milhões de euros, adquirindo 29% das ações.

Solarmodulhersteller Solarworld AG
Produção na Alemanha é caraFoto: picture-alliance/dpa

Futuro incerto

Mas mesmo especialistas em energia não têm certeza sobre o futuro da indústria solar alemã. Para Claudia Kemfert, do instituto econômico DIW, a pressão nos preços, exercida pelas empresas asiáticas, é o motivo para a crise na Alemanha, e todas as empresas que quiserem continuar no setor vão ter de se adequar a essa situação. Para ela, o importante será impor inovações. "Somente assim a indústria solar terá um grande futuro", afirma.

O diretor do Instituto Fraunhofer para Sistemas de Energia Solar, Eicke Weber, é da mesma opinião. Ele considera a economia alemã muito relutante quanto se trata de investir em novas tecnologias. "Os investidores alemães não gostam mais de arriscar", diz. Para ele, investidores estrangeiros conseguiram perceber melhor o potencial dessa tecnologia.

Mas há opiniões contrárias. "Eu nunca considerei a indústria solar como um setor com futuro", afirma Manuel Frondel, do instituto de pesquisas econômicas RWI. Para o especialista, o governo alemão tem culpa pela atual situação por ter apoiado a produção de energia solar pelos consumidores sem olhar para a procedência das placas solares que eles estavam montando nos telhados de suas casas.

Assim, empresas de países onde o nível salarial é bem menor do que o alemão acabaram indiretamente tirando proveito de uma situação favorável, que havia sido proporcionada por recursos públicos alemães.