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Lâmpadas solares brasileiras iluminam recantos do mundo

Ivana Ebel15 de junho de 2013

Garrafa plástica, água e cloro: materiais simples têm garantido uma rotina com mais luz para famílias carentes de todo o mundo. A economia na conta de energia pode chegar a 40%.

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Foto: Getty Images

As lâmpadas de garrafa pet nasceram no Brasil, criadas na oficina do mecânico Alfredo Moser, que buscava uma saída para o apagão que ameaçava o país em 2001. Desde então, a técnica simples tem iluminado a vida de muita gente mundo afora.

A ideia chegou às Filipinas pelo trabalho da Fundação My Shelter, que desenvolve o projeto Liter of Light – litro de luz, em português. Milhares de famílias têm mais iluminação para as tarefas diárias, e com o dinheiro que economizam todos os meses em energia, podem comprar mais comida e viver melhor.

Em entrevista ao Futurando, o presidente da fundação, Illac Diaz (à direita na foto), falou sobre a ponte entre o Brasil e as Filipinas e como uma ideia se transformou em benefício para tanta gente.

DW Brasil: Como a fundação começou a usar as garrafas de plástico para iluminar ambientes em comunidades carentes nas Filipinas?

Illac Diaz: Nós tivemos um grande problema aqui, com uma grande tempestade que destruiu muitas salas de aula. De fato, 2,5 mil salas de aula foram destruídas. O que a fundação tentou fazer foi descobrir como poderia ajudar o governo local a reconstruir essas salas de aula. Começamos a experimentar com o que havia disponível. [O desafio era] como construir tanto com um orçamento tão restrito. Então começamos a usar garrafas plásticas, as enchemos de água e fizemos paredes temporárias. Com isso conseguíamos bloquear o vento, ao mesmo tempo em que servia como um reparo temporário. Com o nascer do sol, percebemos que a luz entrava e ficamos bastante inspirados com isso. E foi dessa maneira que começamos a usar garrafas plásticas na horizontal.

O senhor já ouviu falar em Alfredo Moser, o mecânico brasileiro que criou essas lâmpadas de garrafa pet?

Na época em que estávamos experimentando usar as garrafas como parte da parede dessas salas de aula, um de nossos pesquisadores encontrou um website que mostrava que o senhor Alfredo Moser já estava usando garrafas como forma de luz no Brasil. Nós usamos essa tecnologia como ponto de partida aqui. Em nosso site, em todo o nosso material, creditamos a ideia a Alfredo Moser. Descobrimos que ele já tinha feito isso em 2001.

Como se deu essa ponte entre o Brasil e as Filipinas, fazendo com que a ideia simples que Alfredo Moser teve na garagem de casa ganhasse o mundo?

Houve uma revolução desde que o senhor Alfredo Moser pendurou a primeira garrafa plástica no telhado. Naquela época, o trabalho das ONGs era ir de vilarejo em vilarejo para instalar essas lâmpadas solares. Com a internet, o modelo é completamente diferente. Nós ensinamos como construir e instalar as lâmpadas na internet e divulgamos isso ao redor do mundo. E a ideia não veio apenas do Brasil para as Filipinas, já se espalhou por 50 países. Estamos falando em 350 mil casas iluminadas em apenas um ano. A forma como a informação se espalha graças às novas tecnologias tem permitido um grande impacto na humanidade, especialmente entre as pessoas que mais precisam.

Que benefícios, além da iluminação, as lâmpadas de garrafa pet trouxeram?

O impacto representa uma economia de 40% na conta de luz, e com isso temos percebido uma melhora significativa na nutrição, com mais dinheiro para comprar melhor comida. Uma coisa tão simples é realmente uma mudança de vida.

Até onde a fundação pretende levar o projeto? Quais são os próximos passos?

Temos tido sorte de contar com a ajuda do governo, que tem enviado pessoas para ajudar. Uma vez por ano, o exército das Filipinas nos cede um batalhão de soldados e sete caminhões. São quase 500 militares que ajudam a instalar as lâmpadas solares. Algumas vezes conseguimos instalar 5 mil em dois dias. Também temos voluntários de bicicletas, a quem emprestamos as ferramentas. Eles pedalam até regiões específicas de Manila, onde as pessoas aguardam por luz, e fazem a instalação. Temos conseguido agora reunir muitos voluntários. Mas o que importa é que não estamos mais no estágio de casa em casa. Essa tecnologia é tão simples que em um dia ou dois podemos iluminar milhares de casas. Quem sabe um dia o exército brasileiro se voluntarie, e o senhor Alfredo Moser e eu possamos coordenar a iluminação de dez mil casas no Brasil.