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Justiça corre contra o tempo para condenar ex-guardas nazistas

Stephanien Höppner (rc)1 de maio de 2013

Investigadores tentam driblar série de obstáculos para desvendar passado de militares que serviram em campos de concentração e levá-los a tribunal. Entre os maiores empecilhos: falta de provas e idade avançada dos réus.

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Foto: picture alliance/dpa

Hans Lipschis mora num vilarejo tranquilo no sudoeste alemão. Por trás de seus 93 anos e seus óculos de aro grosso, há um passado sombrio sobre o qual ele não gosta de falar – e que, para especialistas, esconde uma série de atrocidades cometidas durante a Segunda Guerra Mundial.

Lipschis serviu no campo de concentração de Auschwitz entre 1941 a 1945, possivelmente como guarda, o que faria dele parcialmente responsável por milhares de mortes. Ele alega, no entanto, que era apenas cozinheiro.

O Escritório Central para a Investigação de Crimes do Nacional-Socialismo na Alemanha acredita que pelo menos 50 guardas de campos de concentração ainda estejam vivos, e se prepara para abrir processos contra todos eles.

O diretor do escritório, Kurt Schrimm, diz que os investigadores vêm trabalhando no caso contra Lipschis já há algum tempo e que não podem dar detalhes porque os papéis do processo já estão com o Ministério Público de Stuttgart.

Nos anos 1980, o escritório já havia tentado abrir um processo contra Lipschis, com acusação de assassinato, mas não conseguiu reunir as provas necessárias. Agora, se o caso for a julgamento, será a primeira vez que um guarda de concentração enfrentará a Justiça desde o ucraniano John Demjanjuk.

O promotor Kurt Schrimm, do Escritório Central da Administração da Justiça Estadual para a Investigação de Crimes do Nacional-Socialismo .
O promotor Kurt Schrimm, do Escritório Central para a Investigação de Crimes do Nacional-SocialismoFoto: picture-alliance/dpa

Abertura de novos processos

O processo contra Demjanjuk, do campo de extermínio de Sobibor, é considerado um marco histórico. Pela primeira vez um subordinado dos nazistas de origem não alemã foi levado a julgamento sem que crimes concretos tivessem sido atribuídos a ele.

A Justiça de Munique tentou levar o ucraniano a julgamento por 28 mil casos de assassinato. Para isso, bastou apenas a prova de que Demjanjuk havia de fato trabalhado em um campo de concentração. Ele foi condenado a cinco anos de prisão, mas recorreu e morreu antes que a pena fosse confirmada.

Os mais de 50 ex-guardas que ainda estão vivos estariam espalhados pela Alemanha. O escritório pretende dar prosseguimento às investigações dos crimes por eles cometidos. Após a experiência com Demjanjuk, espera-se que agora seja possível chegar a condenações.

John Demjanjuk, que faleceu antes de ser levado a julgamento.
John Demjanjuk, que faleceu antes de ser levado a julgamentoFoto: picture-alliance/dpa

O promotor Kurt Schrimm afirma que não é necessário provar que os supervisores, assim como os subordinados, foram cúmplices apenas da morte de um ou mais prisioneiros, basta a comprovação que eles contribuíram, ao exercer sua função em um campo de extermínio, para os assassinatos sistemáticos.

Críticas à demora

A busca pelos ex-guardas nazistas é complicada. A equipe de Schrimm realiza pesquisas minuciosas em arquivos antigos à procura de informações. O Escritório Central também busca pistas no leste europeu e na América do Sul, investigando vistos e documentos de viagem. Os criminosos nazistas costumavam viajar para os países onde se refugiavam utilizando papéis da Cruz Vermelha Internacional.

Mas o tempo que resta é curto. Uma vez que os supostos nazistas estão em idade avançada  é pouco provável que condenações venham de fato a ocorrer. A jornalista Beate Klarsfeld, que ficou conhecida na Alemanha do pós-guerra como "caçadora de nazistas", não vê com bons olhos os processos de 2013.

A "caçadora de nazistas" Beate Klarsfeld
A "caçadora de nazistas" Beate KlarsfeldFoto: Reuters

"A Justiça vai se expor ao ridículo, uma vez que eles já tiveram anteriormente a possibilidade de realizar um processo melhor", afirma. O mais importante, segundo ela, é preservar a memória dos crimes cometidos e os locais onde eles ocorreram.

Klarsfeld ficou famosa em 1968, quando acusou o então chanceler federal alemão, Kurt Georg Kiesinger, por seu passado nazista em plena convenção de seu partido, a União Democrata Cristã (CDU), de orientação conservadora.

Preservar a memória das vítimas

Para as famílias das vítimas, as investigações têm grande valor moral. "A justiça é um bem valioso, e se as agências de combate ao crime agora veem uma oportunidade de trazer Lipschis a julgamento, então devem fazê-lo", defendeu em entrevista à DW o vice-presidente executivo do Comitê Internacional para Auschwitz (IAC), Christoph Heubner. "Os crimes de Auchwitz, assim como os cometidos nos demais campos de concentração, não expiram."

A referência à idade avançada dos acusados é vista por ele como "risível": Com a idade das crianças que foram parar nos fornos dos campos de concentração, ninguém se importa."

Kurt Gutmann, promotor assistente no caso de Demjanjuk, afirmou em entrevista à DW que "traz enorme satisfação experimentar que algo de fato poderá acontecer; que os mortos não serão esquecidos, que aqueles por trás das atrocidades, mesmo já velhos, não ficarão impunes." Mas ainda não está claro se – e quando – Lipschis irá a julgamento.