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Bauhaus em Tel Aviv

13 de abril de 2009

Tel Aviv foi fundada há cem anos. Diferentemente de outras cidades de Israel, ela deu espaço para novos experimentos construtivos. Ali surgiu a Cidade Branca, conjunto arquitetônico em estilo Bauhaus tombado pela Unesco.

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Prédio em estilo Bauhaus na praça DiezengoffFoto: Ina Rottscheidt

Tel Aviv, a segunda maior cidade de Israel, é bem diferente do resto do país, que tem pelo menos 5 mil de história. Neste sábado (11/04), a cidade completou apenas cem anos de existência. E como, na época de sua fundação, havia muito espaço para novos experimentos arquitetônicos, milhares de prédios no estilo Bauhaus foram erguidos sobre as dunas do Mar Mediterrâneo.

Fugindo do nazismo, diversos arquitetos judeus alemães instalaram-se a partir da década de 1930 no antigo protetorado britânico da Palestina, trazendo consigo a herança do racionalismo arquitetônico da Bauhaus. Ali surgiu um conjunto de mais de 4 mil prédios racionalistas que foi, em 2003, tombado pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) como Patrimônio Mundial da Humanidade.

A esse conjunto de prédios deve-se também um dos apelidos de Tel Aviv – Cidade Branca – por causa da cor do revestimento empregado pela maioria dos edifícios racionalistas. Durante muito tempo, no entanto, essa herança do estilo Bauhaus não chamou a atenção de visitantes da cidade.

Judeus alemães traziam consigo tudo o possível

Stadt Tel Aviv in Israel
Vista de Tel Aviv, segunda maior cidade de IsraelFoto: DW/Rottscheidt

Shlomit Gross, uma das cofundadoras do Centro Bauhaus de Arquitetura em Tel Aviv, acompanha frequentemente grupos de turistas em Israel. Ela reclama que, durante muito tempo, despertou pouco interesse a existência em Tel Aviv de um dos maiores conjuntos de edifícios em estilo Bauhaus no mundo. "Acho interessante o fato de uma arquitetura de outro país ter sido exportada para Israel. E isso combina conosco: Tel Aviv é uma cidade moderna e muito secular, em comparação com outras cidades de Israel", afirmou.

Uma cidade moderna e judia era o que queriam os fundadores de Tel Aviv há cem anos: cada vez mais pessoas emigraram para lá, principalmente após os nazistas subirem ao poder na Alemanha, em 1933. Os vestígios dessa emigração podem ser vistos, por exemplo, nos azulejos reluzentes que revestem as fachadas de muitas casas.

"Na época, os judeus não podiam levar dinheiro para o exterior, isso foi proibido pelos nazistas. Mas comprar era permitido. Como sabiam que iriam construir, eles compravam e levavam os azulejos", explicou Gross.

Ladrilhos, portas, folhas de janelas – os judeus alemães traziam consigo tudo o que era possível. Tais materiais foram então mesclados com o estilo Bauhaus, que eles também importaram. Pois, entre os imigrantes, estavam muitos artistas e arquitetos como Arieh Sharon, Richard Kauffmann ou Erich Mendelsohn.

Muito ar e luz para viver

Engel Haus Rothschild Boulevard
Marcas do tempo na 'Casa Engel' no bulevar RothschildFoto: Ina Rottscheidt

O funcionalismo da Bauhaus preencheu as necessidades dos habitantes da cidade na costa do Mar Mediterrâneo: construções arejadas, racionais e econômicas sem símbolos de representação. Por esse motivo, em vias centrais da cidade, como o bulevar Rothschild ou a rua Diezengoff, encontram-se enfileirados edifícios em formas cubistas, arredondadas e onduladas. No entanto, enquanto alguns prédios refletem um branco imaculado, o reboco de outros está desabando.

As varandas são imensas e muitas vezes adaptadas pelos imigrantes, explicou Gross: "Aqui se vê uma abertura horizontal no peitoril da varanda. A ideia era fazer com que o vento circulasse. As pessoas vinham da Alemanha, onde faz frio, mas aqui faz muito calor em agosto. Eles quiseram então adaptar os edifícios ao clima".

Assim, pouco a pouco, os habitantes de Tel Aviv criaram seu próprio estilo Bauhaus. O terraço de cobertura, por exemplo, pertencia a todos. Era ponto de encontro, de estender roupas e de fazer festas. Isso combinava não somente com o clima, mas também com as ideias socialistas trazidas pelos imigrantes, que queriam uma nova sociedade, uma divisão justa da riqueza para todos e muito ar e luz para viver.

Patrimônio Mundial da Humanidade

Bauhausschild in Tel Aviv Bialik Straße
Placa da Bauhaus na rua BialikFoto: Ina Rottscheidt

"Eles achavam que, com mais espaço, a vida era mais agradável. O ser humano era o centro das coisas. Mais tarde, no entanto, o importante passou a ser construir casas rapidamente, aumentando assim os lucros", disse Gross. Por esse motivo, pouco se pode reconhecer, hoje em Tel Aviv, do antigo brilho da ideia da Bauhaus.

As fachadas sofrem com o calor e os gases tóxicos. Aparelhos barulhentos de ar-condicionado deformam as fachadas e o espaço das varandas foi ocupado com construções.

Por muito tempo, a cidade não se interessou por sua herança arquitetônica. A mudança veio somente em 2003, quando a Unesco declarou os cerca de 4 mil edifícios da Cidade Branca de Tel Aviv como Patrimônio Mundial da Humanidade.

Cidade cada vez mais cara

No entanto, nem a Unesco nem a prefeitura da cidade disponibilizaram verbas para reformá-los. Gross disse que "a reforma de um prédio custa cerca de 250 mil dólares. Ela fica por conta do proprietário. Para isso, eles vendem a cobertura, ou seja, a área social. Com o dinheiro, eles pagam a reforma e ao comprador é permitido construir dois pavimentos adicionais".

Por esse motivo, em vez dos três pavimentos tradicionais, muitos prédios têm cinco andares. Além disso, com a renovação da herança arquitetônica, a cidade fica cada vez mais cara. Cada vez menos gente tem condições de morar neste espaço, pensado anteriormente para todos, e muitos vão embora. "Existem pessoas que dizem que, um dia, Tel Aviv será uma cidade somente para ricos", explicou Shlomit Gross.

Autora: Ina Rottscheidt

Revisão: Alexandre Schossler