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"Israel se comporta como Cuba ou Coreia do Norte"

Jan D. Walter av
26 de fevereiro de 2017

Alegando agenda anti-Israel, governo nega visto de trabalho a ativista de direitos humanos. Em entrevista à DW, Omar Shakir, da ONG Human Rights Watch, explica por que desse modo o país se coloca em companhia inesperada.

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Israel Siedlung im Westjordanland
Foto: picture alliance/chromorange/E. Weingartner

Cerca de seis meses após a Human Rights Watch (HRW) apresentar seu requerimento, na segunda-feira (20/02) o governo israelense recusou o visto de trabalho a Omar Shakir, diretor regional da ONG de direitos humanos sediada em Nova York.

Entre outros argumentos, o Ministério israelense do Exterior, acusou a HRW de propaganda pró-palestina, "sem qualquer consideração pela verdade ou a realidade". Portanto, não haveria razão para conceder um visto a quem quer fazer mal a Israel. "Não somos masoquistas", declarou o porta-voz Emmanuel Nahshon.

Para Shakir, que dirige o departamento israelo-palestino da HRW, a decisão torna questionável o status de Israel como nação "que tem respeito pelos valores democráticos básicos", e ele passa a integrar o grupo bastante heterogêneo dos países que já negaram ingresso à HRW, e que inclui Estados como Cuba, Coreia do Norte, Sudão, Uzbesquistão e Egito.

DW: Qual é sua resposta à questão colocada pelo porta-voz do Ministério israelense do Exterior, Emmanuel Nahshon: "Por que Israel deveria conceder vistos de trabalho a gente cujo único propósito é nos difamar e atacar"?

mar Shakir é diretor do departamento Israel e Palestina da Human Rights Watch
mar Shakir é diretor do departamento Israel e Palestina da Human Rights WatchFoto: picture-alliance/AP Photo/Human Rights Watch

Omar Shakir:  Porque um dos sinais de que um país tem respeito por valores democráticos básicos é até que ponto nos permite um escrutínio sério de seu histórico de direitos humanos. Israel está longe de ser o primeiro a discordar das nossas bem-pesquisadas conclusões, mas ao tentar "calar a boca do mensageiro", ele se coloca num grupo com países como Cuba, Coreia do Norte, Uzbesquistão e Egito.

A Human Rights Watch tem acesso direto à grande maioria dos mais de 90 país, por todo o mundo, sobre que relatamos. Israel nos permitiu esse acesso por quase três décadas e, apesar de autoridades às vezes discordarem de nossos achados, elas em geral colaboram e se correspondem conosco.

Então essa declaração é chocante, pois representa uma ruptura em relação à relação profissional de longa data que temos mantido com o ministro do Exterior e outras entidades do governo israelense.

A que acha que Nahshon se referiu, ao dizer que a HRW é uma organização anti-Israel?

Não estou seguro. Acho que ele se refere a algumas de nossas conclusões, que são críticas a certas políticas do governo. Mas está óbvio que essa declaração deixa de distinguir entre crítica justificada da política israelense e propaganda política hostil.

Veja, embora tenhamos, de fato, relatórios críticos, por exemplo, às demolições de moradias ou aos assentamentos israelenses, ou à detenção administrativa de prisioneiros palestinos, também temos publicado relatórios que criticam as prisões arbitrárias e tortura por parte das autoridades palestinas, e os mísseis lançados pelo Hamas.

No contexto da região, nós também publicamos relatórios contra as agressões sexuais e estupros por parte do "Estado Islâmico" (EI), as execuções no Irã, os bombardeios no Iêmen pela coalizão liderada pela Arábia Saudita, que mataram civis. Então, temos atuado, documentado práticas de direitos humanos em todos os 19 países no Oriente Médio e Norte da África. Israel não está só ao ser confrontado com relatórios assim. Mas nós operamos livremente e temos pessoal alocado em seus vizinhos Jordânia e Líbano, e na Tunísia. Portanto é difícil entender essa decisão.

Também no Twitter o senhor afirmou que Israel está na mesma categoria que Cuba e Coreia do Norte, e assim por diante. Quão séria é essa comparação?

É uma comparação específica, não se refere ao histórico de direitos humanos. É sobre os países que bloquearam o acesso de funcionários da Human Rights Watch. E, considerando-se todo o mundo, nós tivemos dificuldades em acessar certos países, mas aqueles que bloquearam nosso acesso são um grupo pequeno, que inclui lugares como Sudão, Uzbesquistão e Egito. Assim, com sua decisão, Israel se associa a esse tipo de companhia.