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Irã tem motivos para não temer sanções econômicas

Mechthild Brockamp (as)30 de agosto de 2006

Ameaças feitas pelos Estados Unidos esbarram na falta de interesse da Rússia, da China e também da Alemanha em interromper os negócios com o país do Golfo.

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Ahmadinejad em visita a nova instalação para produção de água pesada em ArakFoto: AP

Até hoje não se conseguiu provar nada contra o Irã. Mas principalmente os Estados Unidos partem do princípio de que o objetivo do regime dos mulás é a fabricação da bomba atômica, o que o governo norte-americano, com a ajuda das Nações Unidas, pretende evitar a todo custo.

Para isso, os Estados Unidos ameaçam o país do Golfo com sanções que, em parte, já foram estabelecidas na resolução de 31 de julho. Nela consta que nenhum país deve fornecer para o Irã materiais ou tecnologias que possam ser utilizados no programa de enriquecimento de urânio.

"No momento, nenhum país faz isso. Assim é fácil chegar a um consenso em relação a sanções desse tipo", disse Jerry Sommer, do Centro Internacional de Conversão, em Bonn. "Além disso, planejam-se sanções leves, como a proibição de viagens de políticos iranianos ou o bloqueio de suas contas no exterior."

Sanções não derrubam ditadores

Saddam Hussein vom Sockel gestürzt
Não foram as sanções que derrubaram Saddam HusseinFoto: AP

Esse tipo de sanção causa poucos efeitos e possui caráter principalmente simbólico. Por isso se fala também em sanções econômicas, comuns na história das Nações Unidas. Mas elas nem sempre são assim tão ameaçadoras. Elas já foram, por exemplo, aplicadas contra a Coréia do Norte, contra Cuba, contra a Iugoslávia nos tempos de Slobodan Milosovic e também contra o Iraque quando o país ainda era governado por Saddam Hussein.

Nenhum presidente ou ditador caiu por causa de sanções econômicas, e quem sofreu com elas foi principalmente a população, enquanto as classes dominantes sempre encontraram meios de contorná-las.

Mas o Irã joga em outro nível. O país é o quarto maior exportador de petróleo do mundo. Sanções econômicas seriam possíveis, mas não realistas, opina Sommer. Os Estados Unidos poderiam obrigar seus aliados a não investir mais no Irã, bloquear os créditos para exportação e mesmo impor um amplo embargo econômico. "Mas isso me parece totalmente fora de questão porque o preço do barril de petróleo passaria de 100 dólares. Além disso, nem a Rússia nem a China se mostraram até hoje dispostas a esse tipo de embargo", avalia Sommer.

Cortar na própria carne

Um embargo dessa amplitude afetaria o Ocidente, a Rússia e a China, que importam petróleo do Irã. Além disso, o Irã necessita, para os próximos dez anos, de investimentos de 70 bilhões de dólares para a sua indústria de petróleo e gás. Metade desse valor deve vir do exterior. Também por isso, a Europa não tem grande interesse em impor sanções econômicas àquele país.

Principalmente a França, o Reino Unido e a Alemanha competem pelas graças e pelas concessões dos mulás. Esses são os três países que mais se empenharam em obter uma solução diplomática para o conflito. Principalmente a Alemanha possui fortes relações econômicas com o Irã. O volume de negócios entre os dois países supera os 3 bilhões de euros anuais e tem tendência de alta. Os empresários alemães temem que um boicote ao Irã seria um corte na própria carne.

Bushehr
Rússia trabalha nas ampliações da usina de Bushehr, no sul do IrãFoto: AP

A China e a Rússia compartilham o mesmo temor. A Rússia possui concessões bilionárias para a construção de mais 12 usinas nucleares no Irã, além da ampliação das instalações de Bushehr. É por isso que os Estados Unidos não esperam obter maioria a favor das sanções no Conselho de Segurança.

O país planeja, como a secretária de Estado Condoleezza Rice anunciou há alguns meses, a reedição da assim chamada "coalizão dos dispostos", que reuniria os países dispostos a impor sanções ao Irã.

Atrapalha, mas não impede

Há mais de 20 anos que o Irã convive com sanções impostas pelos Estados Unidos. Contas bancárias de cidadãos iranianos foram congeladas e todos os negócios com o país foram proibidos. Como conseqüência, os iranianos não obtiveram mais peças de reposição para seus Boeings nem tiveram acesso às novas tecnologias no desenvolvimento de combustíveis. Ainda assim, o país continuou a se desenvolver economicamente. As restrições americanas atrapalharam, mas não impediram o desenvolvimento do país.

Novas sanções econômicas podem fortalecer – e não enfraquecer – as lideranças iranianas, afirma Sommer. Quem impõe sanções pensa em isolar o governo e forçar uma ruptura política ou fortalecer a oposição. "Mas eu não acredito nisso. Acredito que as sanções poderão ser utilizadas pelo governo para obter ainda mais apoio ao seu programa nuclear entre a população", afirmou. Isso levaria a um endurecimento ainda maior da atual posição iraniana.