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Invasão turca preocupa Alemanha

(ns/gh)22 de março de 2003

Soldados turcos teriam invadido norte do Iraque, em ação que contraria os Estados Unidos. Se operação for confirmada, governo alemão vai retirar tripulantes dos aviões Awacs, que participam da defesa da Turquia.

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Desde antes do início da guerra, curdos deixam a região em busca de lugar seguroFoto: AP

Apesar da resistência dos Estados Unidos, dois dias depois do início da guerra no Golfo, cerca de mil soldados turcos teriam invadido o norte do Iraque, na noite de sexta-feira para sábado (22/03). A informação foi veiculada pela emissora de tevê CNN turca, mas ainda não foi confirmada pelo exército turco ou por representantes curdos e muito menos pelos EUA. Poucas horas antes da divulgação dessa notícia, o governo em Ancara havia liberado o espaço aéreo do país para aviões de guerra dos EUA que atacam o Iraque.

O ministro das relações exteriores da Turquia, Abdullah Gül, disse que "todos os problemas" com os EUA estão resolvidos e que os soldados turcos podem avançar em direção ao norte do Iraque. O objetivo da invasão seria impedir a entrada de refugiados em território turco e sufocar qualquer tentativa dos curdos iraquianos de criaram um país independente. O secretário de Estado norte-americano, Colin Powel, havia dito que os EUA não viam a necessidade de um avanço turco no norte do Iraque.

Em Frankfurt, milhares de curdos asilados na Alemanha participaram, na manhã deste sábado, de uma manifestação pela paz no Iraque. Além de gritarem palavras de ordem contra a guerra, pediram a libertação do líder do Partido dosTrabalhadores Curdos, Abdullah Öçalan.

Contra a criação de um Estado curdo

No norte do Iraque vive a minoria curda, que ali estabeleceu um Estado não reconhecido internacionalmente, sob a proteção da zona de segurança estabelecida após a última Guerra do Golfo. A Turquia, onde também vivem curdos, mas sem qualquer autonomia, quer impedir a proclamação de um Estado curdo independente no norte do Iraque, em meio à guerra. Se isso fizer escola, ela estará às voltas com o renascimento do movimento curdo no próprio país.

Abdullah Gül
O ministro turco do Exterior Abdullah Gül ocupou o cargo de primeiro-ministro até pouco tempoFoto: AP

A Turquia autorizou o uso de seu espaço aéro, na noite de sexta-feira (21/03), abrindo o caminho para novos ataques contra o Iraque a partir de uma nova frente de batalha, no norte do país. A liberação do espaço aéreo ocorreu após meses de negociações e fortes pressões dos Estados Unidos. Embora o parlamento turco houvesse concedido autorização aos aviões americanos e britânicos já na quinta-feira (20/03), persistiam divergências entre Washington e Ancara quanto ao papel do exército turco no norte do Iraque.

Americanos "furiosos" com os turcos

Não faltaram advertências nos últimos dias, para que o exército turco não invadisse o território iraquiano. Qualquer presença militar no país de Saddam Hussein deve ser coordenada pela frente militar liderada pelos EUA, disse o porta-voz do Departamento de Estado, Richard Boucher. E o Secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, foi claro ao dizer que o exército turco não seria de ajuda. "Nós temos unidades especiais no norte, que estão em contato com os combatentes curdos no norte do Iraque", argumentou.

Um alto funcionário do governo americano referiu-se a "uma política de obstáculos", da parte do governo turco e de altos militares. Nos EUA, "todos estão furiosos com os turcos", disse o político citado pela agência AFP. Na fase de preparativos, os Estados Unidos queriam estacionar 62 mil soldados na Turquia para invadir o Iraque também pelo norte, mas as negociações a respeito não foram concluídas, apesar das ofertas de bilhões de dólares a Ancara a título de ajuda econômica.

A União Européia também advertira a Turquia a não invadir o território curdo no norte do Iraque. "Por favor, nada de envolvimento militar nessa região", disse o ministro grego do Exterior e presidente do Conselho de Ministros da UE, Giorgios Papandreou, no encontro de cúpula da UE, quinta-feira, em Bruxelas.

Problemas para a Alemanha

Numa rápida reunião do chanceler federal com os ministros do Exterior, Interior e Defesa, o governo alemão decidiu retirar os tripulantes alemães dos aviões de reconhecimento Awacs, pertencentes à OTAN, caso se confirme a entrada da Turquia na guerra, informou o ministro da Defesa, Peter Struck.

AWACS in der Türkei
Avião de reconhecimento AWACS foi transferido da base da OTAN em Geilenkirchen, na Alemanha, para o aeroporto militar de Konya, na Turquia, no final de fevereiro.Foto: AP

Os soldados alemães constituem um terço da tripulação dos Awacs, cuja missão é defender a Turquia, país-membro da OTAN. O governo alemão, que se opôs terminantemente à guerra, só concordou com o uso dos aviões e da tripulação alemã no âmbito da defesa do aliado da Organização do Tratado do Atlântico Norte.

O temor de que os aviões fossem usados para localizar alvos no Iraque gerou muita controvérsia no país. O Partido Liberal, de oposição, ameaça recorrer ao Tribunal Federal Constitucional para que este examine, se o envio dos Awacs não deveria ser aprovado pelo Parlamento, necessidade que o governo não via até o momento.

Reagindo às informações da CNN turca, o vice-líder da bancada social-democrata alemã no Parlamento, Gernot Erler, disse que a invasão turca é uma "uma ocorrência perigosa". "Os acontecimentos podem sair completamente do controle", disse Erler, para quem essa foi a pior das notícias no segundo dia de guerra. Os Estados Unidos, que assumiram a responsabilidade pelo Iraque, estariam numa "situação extremamente complicada", declarou.