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Incerteza e antigos rachas na primeira semana da COP21

Nádia Pontes, de Paris4 de dezembro de 2015

Acordo global que pode mudar modelo de desenvolvimento ainda parece distante de ser concretizado na Conferência do Clima de Paris. Brasil reclama de ritmo lento das negociações

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Foto: Reuters/E.Gaillard

A primeira semana de negociações da Conferência do Clima de Paris (COP21) chega ao fim cercada por incerteza. Cristiana Figueres, chefe da Convenção-Quadro das Nações Unidas (UNFCCC), não quis falar sobre quais pontos do acordo estariam mais avançados ou quais seriam os que vem gerando maior discórdia.

Até a próxima sexta-feira, Figueres tem a missão de convencer os 195 países presentes a assinar um acordo que limite as emissões de gases estufa de tal maneira que o aumento da temperatura média global não ultrapasse os 2˚C até o fim do século.

“Estamos negociando um acordo equilibrado, integrado, coerente, que vai mudar o curso da economia. Os elementos estão progredindo e terão que ser finalizados na semana que vem”, disse Figueres nesta sexta-feira (05/12).

O embaixador Antonio Marcondes, negociador-chefe do Brasil, fez uma avaliação similar. “São todos pontos conectados, relacionados, é difícil apontar um ou dois que estejam impedindo a negociação de avançar.” Para a equipe brasileira, o ritmo ainda está lento: “Precisamos ir mais rápido, o tempo é limitado.”

Tom cada vez mais político

Nos corredores da COP21, o sucesso das negociações é medido pelo número de páginas do esboço do acordo em construção: quanto maior o calhamaço, maior o desacordo entre as partes. Quando o volume cai, significa que todos começam a falar a mesma língua. Desde o início da rodada de Paris, a redução foi de 55 para 19, como estimou Todd Stern, negociador-chefe dos Estados Unidos.

Mas esse referencial não significa que o clima nas salas de negociação esteja tranquilo. “A atmosfera no momento mudou brutalmente. O tom está ficando mais político”, revelou Kelly Dent, da Oxfam.

Frankreich Cop21 Klimagipfel in Paris - Modi & Obama
O premiê indiano, Narendra Modi, e o presidente americano, Barack Obama, em Paris: diferenças entre países ricos e emergentes persistemFoto: Reuters/K. Lamarque

É que está chegando a hora de acertar os detalhes de quem vai pagar a conta para os países mais pobres se adaptarem às mudanças climáticas em curso. E os países mais ricos, também os primeiros a se beneficiar da Revolução Industrial e sobrecarregar a atmosfera com emissões de CO2 há pelo menos 200 anos, não parecem muito empenhados em doar o montante necessário.

Há seis anos, países desenvolvidos prometeram criar um fundo que destinaria 100 bilhões de dólares por ano para países mais pobres financiarem medidas de adaptação, e ele entraria em vigor em 2020. Segundo Kelly Dent, o valor sobre a mesa até agora está longe dessa meta.

“Nós vimos os países ricos colocando posições muito rígidas, dizendo que não colocariam dinheiro no fundo se nações em desenvolvimento também não o fizessem”, contou Dent. O consenso, por enquanto, é que a rodada da primeira semana ainda não chegou onde todos querem. “Eu espero que a gente consiga o plano que a gente quer”, disse Stern.

Obrigação e transparência

Aos poucos, a ideia de um acordo vinculante, com obrigação legal de ser cumprido, parece estar perdendo força. Todd Stern defende um acordo híbrido, em que cada país tenha a liberdade de dizer o quanto de suas emissões cortará, mas que os mecanismos que verifiquem essa redução sejam rígidos e obrigatórios.

O Brasil continua defendendo um pacto global vinculante, que seja “justo, ambicioso e equilibrado”, repetiu o embaixador Antonio Marcondes. “Queremos transparência, mas os mecanismos de verificação não podem ser intrusivos”, comentou, sobre a transparência exigida pelos Estados Unidos.

Mais do que um acordo climático, a COP21 vai definir um modelo de desenvolvimento que os países devem seguir, com o desaparecimento gradual do mundo que impulsionou a economia nos últimos séculos, movida a combustível fóssil. Em jogo, não estão apenas interesses de países que fazem riquezas como o petróleo, mas de grandes empresas que ganham fortunas no mundo como é hoje.

"Esta conferência tem que acabar sexta à noite. E temos que ter um compromisso antes disso”, decretou Laurent Fabius, presidente do governo francês na COP21. “Nós viemos aqui com uma grande delegação, preparada, e queremos sair daqui com um acordo forte”, disse o negociador-chefe do Brasil.