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Chirac: tom emotivo

(as)12 de março de 2007

Alguns dos principais jornais e revistas da Europa destacaram o tom emotivo com que o presidente se dirigiu aos franceses e a sua recusa em manifestar apoio a um dos candidatos à sua sucessão.

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Chirac não manifestou apoio a nenhum candidato e disse que irá fazê-lo mais tardeFoto: AP

Le Figaro (França): A respeito dessa cerimônia do adeus, acreditávamos saber tudo. O que Jacques Chirac diria – que ele não é candidato a um terceiro mandato – e o que ele não diria – seu apoio a Nicolas Sarkozy, que virá mais tarde. Mas o que não se podia prever era o tom emocional e pudico, esse "eu os amo" dirigido à França e aos franceses, esses acentos de pungente sinceridade de um homem fechado. Os 12 anos de mandato de Jacques Chirac são ricos em derrotas sensacionais, em revéses inesperados e em esperanças frustradas que cavaram, entre ele e seus colaboradores, um grande mal-entendido. Afinal, a direita não fazia o gênero de Chirac. Mas ele não quis dizê-lo, prisioneiro que era de um papel que a vida e suas ambições lhe deram.

Libération (França): Pelo fato de querer continuar sendo a estrela, não indicou, num primeiro momento, nenhum favorito. Mas isso ainda virá – pois a identidade de seu sucessor mostrará que o balanço que os franceses fazem de seu governo: se eles escolherem Royal, Chirac terá de reconhecer que, acima de tudo, alimentou a vontade de mudança. Se optarem por Bayrou, isso significará que o chefe de Estado corroeu de tal forma a política, que os franceses não acreditam mais em nada, nem na direita nem na esquerda. Apenas se Sarkozy vencer as eleições Chirac poderá concluir que os franceses o aplaudem. Pois o chefe do partido que está no poder é o que mais se parece com Chirac.

Süddeutsche Zeitung (Alemanha): Chirac não foi um presidente capaz de superar diferenças. Em nenhum dos primeiros turnos nos quais os eleitores lhe deram vantagem ele superou a marca dos 20%. Além disso, parte de seu mandato foi obscurecida por escândalos resgatados de seu passado político. Quando teve a chance de ser um grande presidente, após superar com mais de 80% dos votos o extremista de direita Jean-Marie Le Pen, não a aproveitou. Todos aqueles que votaram nele com dentes cerrados e alguns até com lágrimas, ele decepcionou. Mas pelo menos foi o presidente Chirac o primeiro a reconhecer a pesada culpa do Estado francês no destino dos judeus durante a ocupação alemã.

Der Spiegel (Alemanha): Chirac se vai da mesma forma como chegou. Palavras grandiosas e apelos apaixonados marcaram o discurso televisivo de final do mandato do presidente. Ele se despediu de seu papel no comando da França: "Esta França que eu amo tanto quanto eu os amo". Nos 12 anos de seu mandato, Chirac se mostrou poucas vezes tão emotivo. A campanha presidencial entra na sua fase mais quente e Chirac reserva para mais tarde uma última palavra sobre o assunto: só então ele dirá qual candidato considera o mais indicado para ser o seu sucessor.

Corriere della Sera (Itália): Ele foi o homem que mais tempo ficou no poder na França e ao mesmo tempo o único presidente da Quinta República a entregar o poder voluntariamente sem esperar pelo julgamento da História ou dos eleitores. O presidente, que completará 75 anos em novembro, convocou os franceses a combater todas as formas de extremismo, de racismo e de anti-semitismo. Sua segunda mensagem se baseou na confiança e na esperança: os franceses não precisam temer que a globalização destrua seu modelo social, mas ao mesmo tempo não precisam ter medo de reformá-lo.

De Morgen (Bélgica): Ainda antes de Chirac fazer seu discurso, o candidato Nicolas Sarkozy fez saber que espera o apoio do seu colega de partido. Ao mesmo tempo, Sarkozy anunciou que, caso eleito, patrocinará uma ruptura com o seu antecessor. Se o atual presidente apoiará Sarkozy ou votará em Ségolène Royal ou em François Bayrou, só se saberá mais tarde. Sarkozy pode ser um colega de partido, mas amigos ele e Chirac não são de jeito nenhum.

Daily Telegraph (Inglaterra): A etiqueta pede que se diga coisas agradáveis sobre as pessoas quando elas se aposentam, mas, no caso de Jacques Chirac, isso não é fácil. Ele tem uma certa expansividade de caráter, uma vitalidade impressionante e um variado leque de interesses: é, entre outras coisas, um aficcionado por sumô. Mas, como político, personifica e se beneficia de muito daquilo que está errado na política francesa. É uma história parecida com a da morte daquele nefasto trapaceiro François Mitterrand, em 1996. Margaret Thatcher, que não queria falar mal do morto, saiu-se com uma homenagem habilmente formulada: "Ele era um verdadeiro europeu, que personificou as qualidades do seu país". Diz-se que, na democracia, as pessoas têm os políticos que elas merecem. A França merecia coisa melhor.

Kommersant (Rússia): Com a despedida do presidente francês Jacques Chirac, encerra-se uma era na Europa do pós-guerra. Na sua carreira, Chirac fez de tudo para ficar o maior tempo possível na política – uma metade de século. Nenhum futuro presidente francês poderá ostentar um peso e um currículo semelhantes ao do "eurossauro" Chirac.