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Imprensa alemã aponta erros de Parreira

Roselaine Wandscheer3 de julho de 2006

Após a derrota do Brasil para a França, jornais alemães mostram decepção com mau desempenho da equipe comandada por Parreira, citam interesses financeiros e comparam atuações de 1986 e 2006.

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Letargia de Ronaldo é criticada pela mídia alemãFoto: AP

"Brasil: Muito gordo! Muito preguiçoso! Muito arrogante!", escrevem os comentaristas esportivos Cathrin Gilbert e Florian Scholz, do popular diário alemão Bild nesta segunda-feira (03/07). Dois dias após a derrota da equipe de Carlos Alberto Parreira, a imprensa alemã busca motivos para o 1 a 0 francês de sábado.

Também o Süddeutsche Zeitung, de Munique – que questiona se a vontade de Ronaldo em continuar na seleção é para ser entendida como ameaça – e o Kölner Stadt-Anzeiger, de Colônia, analisam o mau desempenho da seleção brasileira nesta Copa.

"Vocês, fracassados, não mereceram outra coisa!", estampa a versão online do jornal Bild. Eles vieram para a Copa na Alemanha como se fossem de outro planeta – e embarcaram para casa após uma apresentação abaixo da crítica, continua o jornal.

O 1 a 0 da França é um desmonte e ao mesmo tempo um vexame. Mas o mundo do futebol não têm compaixão com estes brasileiros, complementam os comentaristas do Bild, acrescentando que Zidane "foi o único a jogar como um brasileiro".

Muito gordo

Além de ressaltar o excesso de peso de Ronaldo e Adriano, o diário escreve que, apesar do recorde de 15 gols marcados em Copas, Ronaldo pareceu mais lerdo do que nunca. "Com exceção de suas aparições em festas noturnas − o recorde de ficar até as 5h45".

Muito preguiçoso!

A superestrela Ronaldinho só participou dos treinos da equipe quando tinha vontade. Ronaldo já deixava a cabeça caída depois de uma curta corrida. Até Parreira queixou-se de que esperava "mais movimentação".

Muito arrogante!

Dois meses antes do início da Copa, as famílias dos jogadores reservaram hotéis para até o dia da final. Os jogadores diziam: "Daremos nossos 100% só na final. Não há seleção melhor do que a nossa!"

[...] O erro do treinador foi apostar em jogadores velhos e dar raras chances aos novos. O que sobrou? Ronalducho faz propaganda de chuteira! Ronaldinho, de bandanas! Foi vendido de tudo: jogos preparatórios, a concentração, até os treinos! Tratou-se mais de grana do que de gols!

"Dor imensa", titula o Süddeutsche Zeitung. Sem sangue, apático, sem idéias: após a decepção na Copa, os titulares brasileiros não se atrevem a ir para casa, escreve o comentarista Javier Cáceres.

Já antes do início da Copa, pairavam no ar justificativas para o fato de o hexacampeonato não dar certo. Elas iam desde eventuais conspirações da Fifa, que estaria mais interessada em outro campeão, até a superstição racista de que o Brasil não conquista o título com goleiros negros.

No final das contas, o fracasso foi por culpa própria. A equipe nunca funcionou como time. Com uma coleção de talentos brilhantes, Parreira não foi capaz de formar a brilhante equipe que havia anunciado.

Leia na página seguinta a comparação à geração de Sócrates

Sócrates foi melhor

WM Fußball Brasilien gegen Frankreich Fans
Torcida brasileira frustrada em FrankfurtFoto: AP

Também em 1986 o Brasil fracassou diante da França numa quarta-de-final. Seria uma ofensa imensurável para aquela geração de Sócrates, Zico e Falcão se ousássemos comparar os "estrelões" de hoje com os jogadores daquela época, comprometidos com o futebol-arte, escreve o jornal da capital bávara.

Se tivéssemos feito uma pesquisa de opinião entre os 48 mil torcedores no estádio em Frankfurt, teríamos conseguido uma grande quantidade de voluntários para transportar a seleção brasileira até o aeroporto – mesmo entre os brasileiros, que desesperados com a apatia se sua equipe gritavam: Queremos raça!

Ronaldinho voltou a ser uma sombra de si próprio. Ele deixa a Copa sem uma genialidade, sem um sorriso. A estrela Ronaldo já nem lembra mais da possível renúncia, que anunciou há um ano, e disse não ver motivos para parar. Talvez tenhamos que entender isso como ameaça, escreve o Süddeutsche Zeitung.

Ronaldinho, corpo estranho

"O Brasil fracassa com uma equipe despreparada e sem harmonia", titula o Kölner Stadt-Anzeiger, de Colônia. O craque mundial Ronaldinho agiu como um corpo estranho – Parreira à beira do fim, escreve a comentarista Christiane Mitatselis.

Há algumas semanas, ninguém acreditaria se alguém dissesse que Ronaldinho, a superestrela, não faria um único gol em cinco jogos da Copa. E o Brasil, defensor do título, o suposto superfavorito invencível, tem de voltar para casa mais cedo após o 1 a 0 dos "ressurgidos franceses".

É triste, mas é verdade: Ronaldinho, a estrela cintilante do Barcelona, perdeu seu sorriso na Copa. Ele parecia um corpo estranho num time apático e despreparado.

Para o Brasil se impor nos jogos anteriores, haviam bastado 10, 15 bons minutos e algumas boas ações de Kaká ou Ronaldo. Mas a tática inteligente e a defesa fenomenal da França expuseram as fraquezas do Brasil: Roberto Carlos, e especialmente Cafú, não conseguiram acompanhar a velocidade dos franceses e perderam duelo a duelo.

Quando Cicinho entrou, no final do jogo, alguma coisa melhorou. Também o ágil Robinho trouxe ritmo. O fato de terem entrado tão tarde permanece segredo de Parreira. Outro problema foi Ronaldo, com leve excesso de peso. Embora desta vez tenha corrido mais do que nas outras partidas, lhe faltou inspiração.

O preço de seu recorde de gols em Copas foi alto: ele não contribuiu com o trabalho da defesa. Em vez disso, Ronaldinho e Kaká tiveram de recuar, às custas da criatividade.

É improvável que Parreira fique no cargo. Após o fiasco, o Brasil está num clima de forte indignação. Já na manhã de domingo as estrelas fracassadas fugiram da Alemanha, escreve o jornal de Colônia.