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Homem em estado vegetativo há anos chora após estimulação

26 de setembro de 2017

Tratamento com impulsos elétricos melhora atenção, movimentos e atividade cerebral de paciente na França. Cientistas pretendem expandir estudo a mais pessoas e centros de pesquisa.

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Cérebro humano
Paciente recebeu estímulos no nervo vago, que conecta o cérebro a outros órgãos importantes do corpoFoto: Colourbox/Kiyoshi Takahase Segundo

Pesquisadores franceses comunicaram que uma técnica de estimulação nervosa pode ter aumentado o nível de consciência de um homem de 35 anos que está num estado vegetativo há 15 anos.

O estudo, publicado na revista científica americana Current Biology nesta segunda-feira (25/09), é baseado em apenas um paciente, mas os pesquisadores afirmaram que planejam expandir o trabalho a outros pacientes e centros médicos devido às melhorias detectadas.

"A plasticidade e o reparo do cérebro ainda são possíveis mesmo quando a esperança parece ter acabado", disse a cientista Angela Sirigu, do Instituto de Ciências Cognitivas Marc Jeannrod, em Lyon, uma das autoras do estudo. "É possível melhorar a presença de um paciente no mundo.”

O processo envolve o implante de um dispositivo no tórax do paciente para enviar impulsos elétricos ao nervo vago, também chamado de pneumogástrico, que conecta o cérebro a outros órgãos importantes do corpo. A estimulação do nervo vago já é usada para tratar pessoas com epilepsia e depressão.

O paciente, que entrou no estado vegetativo após um acidente de carro, mostrou melhorias significativas em termos de atenção, movimento e atividade cerebral após um mês de estimulação do nervo vago, segundo o relatório. Ele começou a responder a ordens simples, como seguir um objeto com os olhos e virar a cabeça.

Durante o tratamento, o homem também derramou lágrimas e sorriu ao ouvir uma música de que gostava, do cantor francês Jean-Jacques Goldman. Segundo Sirigu, as lágrimas podem ter sido resultado da estimulação nervosa. Devido a lesões cerebrais, o paciente não consegue falar, apontou a cientista.

Ele também pareceu mais alerta e conseguiu ficar acordado ao ouvir seu terapeuta ler um livro. E ele reagiu a estímulos ameaçadores como não fazia há anos – arregalando os olhos quando um enfermeiro moveu o rosto repentinamente em direção ao paciente.

"Estado de consciência mínima"

No estado vegetativo, o paciente às vezes fica de olhos abertos, mas sem demonstrar sinal algum de consciência. O homem em questão mudou dessa condição para um "estado de consciência mínima", segundo análises cerebrais que apresentaram melhorias nas áreas do cérebro ligadas a movimento, sensação e consciência.

Isso significa que "a consciência permanece severamente alterada, mas, em contraste com os estado vegetativo, há evidências comportamentais mínimas, porém definidas, de autoconsciência ou ciência do entorno", explicou Tom Manly, especialista em cognição e ciências do cérebro da Universidade de Cambridge.

Manly, que não participou do estudo, descreveu o resultado como "potencialmente muito animador", mas exortou a cautela quanto a "se essa mudança no paciente é uma mudança real".

Outra especialista externa, Elizabeth Coulthard, professora em neurologia da demência na Universidade de Bristol, afirmou que a melhora foi mínima. O paciente classificado num escala de 0 a 23, onde zero representa nenhuma resposta verbal, visual ou motora real, e 23 indica boa habilidade.

"No início do estudo, antes de qualquer estímulo, o paciente tinha seis pontos de 23. No final do estudo, quando o paciente estava no estímulo máximo, ele chegou a oito de 23 na escala funcional", disse. "Às vezes, durante o período de seis meses, o paciente chegou ao máximo de dez pontos de 23. Esta é uma diferença de desempenho muito pequena e que é de significado questionável para o paciente."

Um estudo anterior, publicado em 2007 na revista científica Nature, descreveu melhorias comportamentais por meio de estimulação talâmica (outro tipo de estimulação cerebral profunda), após lesão cerebral traumática grave.

"O paciente descrito naquele artigo representou melhoras comportamentais mais contundentes – por exemplo, ele conseguiu começar a comer por conta própria. Mas, até hoje, o resultado não se traduziu numa terapia comumente usada", disse Vladimir Litvak, professor do Instituto de Neurologia da Universidade College London.

"Esta [estimulação do nervo vago] pode ser uma nova pista interessante, mas sugiro cautela sobre esses resultados até serem reproduzidos em mais pacientes", acrescentou Litvak. "É difícil saber com base em um único caso qual a probabilidade de este tratamento funcionar em outros pacientes."

PV/afp/ap