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Cinema

11 de julho de 2009

Se é alto o número de filmes que vem tematizando o universo dos terroristas da RAF desde os anos 1970, só agora chega aos cinemas 'Schattenwelt', um longa sobre as vítimas do terrorismo na Alemanha.

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A atriz Franziska Petri em 'Schattenwelt'Foto: Salzburger Filmverleih

Nos anos 1970, foram vários os filmes que tematizaram o terrorismo na Alemanha, entre eles Alemanha no Outono, Anos de Chumbo ou A Terceira Geração. Todas essas obras tratavam das razões que moveram, naquele momento histórico, os representantes da RAF (Fração do Exército Vermelho).

Eram filmes que questionavam por que essas pessoas combatiam o Estado e quais ideais elas supostamente seguiam cegamente. Desde então, foi sendo criado quase um mito em torno de ex-terroristas como Ulrike Meinhof, Andreas Baader ou Gudrun Ensslin, o que explica o interesse de cineastas pelo assunto, que se perpetua até o século 21.

Em 2002, por exemplo, o diretor Christoph Roth rodou Baader. No ano passado, o produtor Bernd Eichinger lançou O Complexo Baader-Meinhof, que foi inclusive indicado para o Oscar de melhor filme estrangeiro. Todos esses filmes têm algo em comum: eles contam suas histórias exclusivamente a partir da perspectiva dos terroristas.

Rompendo com a tradição

O filme Schattenwelt, (Mundo de sombras) com roteiro de Uli Herrmann e dirigido por Connie Walther, que chega agora aos cinemas alemães, é o primeiro a romper com essa tradição, ao delinear como um ex-terrorista deixa a prisão e se vê confrontado com seu passado por uma vítima de seus atos.

No filme, um ex-terrorista da RAF, cujo nome na história é Widmer, deixa, sob os olhares curiosos da opinião pública e de uma multidão de jornalistas, a penitenciária onde passou 22 anos. Estes jornalistas, no entanto, embora à espreita, têm suas atenções desviadas e acabam perdendo o ex-terrorista de vista. Sozinho, ele se vê numa rua deserta, entra num carro e é levado para um arranha-céu nas imediações de Freiburg.

Plakat Schattenwelt
Cartaz do filmeFoto: Salzburger Filmverleih

Naquele momento, quando ele certamente teria podido dar início a uma vida no anonimato, aparece a vizinha do lado, que já o espera. Trata-se de Valerie, uma mulher de aproximadamente 30 anos, que presenciou, na infância, como seu pai, um jardineiro, foi morto "sem querer" num dos atentados da RAF.

Notoriedade

"Por um lado, há esses terroristas notórios. Eles deixam a prisão e, mesmo depois de terem cumprido suas penas, não saem dali sem ser ninguém, pois serão sempre conhecidos. Esse é um lado: eles não podem se ver livres de suas histórias. E as vítimas? Elas podem menos ainda se livrar de suas histórias", diz Walther.

Em Schattenwelt, a personagem Valerie, interpretada pela atriz Franziska Petri, provoca em seu vizinho, somente por um rápido momento, dúvidas a respeito de sua identidade. "O que é aquela arma em cima da sua cama?", pergunta Widmer, para receber a resposta: "Arrumei quando soube que você se mudaria para cá", responde a misteriosa vizinha.

Vítimas atônitas e sem voz

O que Valerie quer, no enredo, é saber qual dos terroristas do grupo atirou em seu pai no passado. A fim de se preparar para o papel, a atriz Franziska Petri leu diversos relatos, entrevistas e um livro escrito pela filha de uma das vítimas do terrorismo da RAF.

"Mas, no fim, tudo era relativamente insatisfatório. Senti que essas pessoas se mantinham, de alguma forma, atônitas. O que mais me tocou foi a sensação de que elas não tinham voz. Com esse papel no filme, tive pelo menos um pouco a chance de ser essa voz ou esse espaço. Isso me motivou muito a fazer o filme. Li também muita coisa sobre crianças que passaram por alguma espécie de trauma", conta Petri.

Schattenwelt é quase como um filme em preto-e-branco, já que as cores foram extremamente reduzidas. As imagens emanam uma certa dureza, parecem quase históricas, e ao mesmo tempo como se os protagonistas vivessem nesse mundo pela metade, ou seja, nesse mundo de sombras. O medo, de qualquer forma, não os deixa. Perguntas ficam no ar e o medo domina o cotidiano.

Ligações com histórias reais

O filme chega aos cinemas poucos meses depois da libertação do ex-terrorista Christian Klar da prisão, fato que desencadeou na Alemanha um debate acirrado a respeito de confissões de culpa, arrependimento e da conduta em relação ao terrorismo. Ulli Hermann escreveu o roteiro com a ajuda de Peter-Jürgen Boock, ex-representante da RAF, que cumpriu 17 anos de pena por homicídio.

Em Schattenwelt, os atores Franziska Petri e Ulrich Noethen levam adiante um duelo tenso, embora o filme perca sua força de convencimento na segunda parte. Pois a caminho de Berlim, onde Widmer quer se encontrar com seu filho, tem início um showdown e Valerie quase se transforma numa psicopata, o que lembra demais os clichês da cinematografia norte-americana.

Autor: Bernd Sobolla
Revisão: Augusto Valente